INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A soma de todos os medos.
O Diretor do Instituto para o Futuro da Humanidade e autor da
polêmica obra: Superinteligência, Nick Bostrom manifesta grandes preocupações
com os avanços da inteligência artificial: “... me concentro mais nos riscos do
que nos benefícios potenciais” (op.cit. - Posfácio).
Para esse autor e professor da Universidade de Oxford, “nós
humanos somos como crianças pequenas brincando com uma bomba, tamanho é o
descompasso entre o poder do nosso brinquedo e a imaturidade da nossa conduta.
A superinteligência é um desafio para o qual não estamos preparados atualmente
e assim continuaremos por um longo período. Sabemos pouco a respeito do momento
em que a detonação ocorrerá, embora seja possível ouvir um fraco tique-taque
quando aproximamos o dispositivo dos nossos ouvidos.” (op.cit. Cap.15).
Do mesmo modo, em março de 2020, Elon Musk, em uma
conferência em Austin (Texas), afirmava: “Guardem minhas palavras, a
inteligência artificial é muito mais perigosa do que uma bomba nuclear”.
Vários outros pesquisadores vêm manifestando grandes
preocupações quando ao uso não controlado da inteligência artificial. Alguns
chegam mesmo a afirmar que ela poderia se tornar tão perigosa à ponto de
extinguir a raça humana!
Há riscos elevados, muito especialmente porque os algoritmos
dessas máquinas podem processarem um sistema de ‘melhoria contínua”, mediante
aperfeiçoamentos recursivos, atingindo o que os cientistas denominando de
“singularidade tecnológica” (Kurzweel - 2007) o que significa, no caso da
inteligência artificial, um avanço tão elevado que a Ai poderá enganar-nos numa
disputa por recursos e autopreservação; e isso não é uma visão de ficção
científica! Quem afirma isso é Gary Marcus cientista cognitivo.
Por um lado, aliados a essas graves preocupações, estão as
causas recentes de preconceitos gerados por seus algoritmos que muito bem foram
descritos na obra de O’Niel (2021), onde relata um caso famoso de algoritmos
de inteligência artificial criado para o sistema judiciários do Estado
americano do Wisconsin, cujo objetivo é determinar o grau de periculosidade e
reincidência de criminosos, subsidiando assim, a decisão de um juiz criminal.
Ocorre que esse algoritmo foi “alimentado” com dados das fichas criminais da
polícia que, em sua maioria, registrava com maior incidência os delitos
cometidos por afrodescendentes e latino-americanos.
De outro lado, sofisticados algoritmos também vêm sendo
utilizados por criminosos que atuam nos mais diversos campos, como por exemplo
a tecnologia do deep-fake que permite com grande precisão (lembrar que
esses algoritmos aprendem cada vez mais, na medida que são utilizados) imitar
um certo indivíduo, na sua forma de vestir, comportar e falar e isso pode ser
utilizados para fins criminosos, como por exemplo: utilizando um sistema de
processamento de linguagem natural, mediante aplicação desses algoritmos será
possível, usando um clipe de áudio de qualquer político manipulara sua voz e
seus gestos, com objetivo de fazer
parecer que ele expôs, por exemplo, pontos de vista racistas, sexistas,
religiosos etc.
O risco imediato, que perpassa por todos os setores da
economia é a automação, que vem subtraindo cada vez mais a força de trabalho.
Exemplos são incontáveis como supermercados sem atendentes, onde, mediante
reconhecimento facial e visão computacional, o sistema de AI consegue
identificar o cliente e todos os produtos que ele retira das prateleiras. O
mesmo acontece no campo da assistência jurídica, onde um sistema de AI consegue
ser muito mais eficiente na análise de processos do que advogados renomados.
Na área médica então, especialmente no campo na imagiologia,
análise do corpo humano através de imagens, os sistemas de AI são imbatíveis,
não só na detecção de certos tipos de doenças, como também nas análises de
anatomia patológica na detenção de câncer, com um índice de assertividade bem
superior ao melhor patologista do mercado!
Vale registrar que em artigo que publiquei no meu blog em
2017, trato do tema. O artigo leva o título de O Futuro do Trabalho e o seu
link está disponível, para os interessados ao final desse artigo, no campo das
fontes de consultas.
Tudo isso não é um “milagre”, mas o resultado do uso
intensivo da alta tecnologia aliada a captura e análise de dados de bilhões de
informações disponíveis, através dos denominados Big Data. Aliás, para a AI e
mesmo para a automação e demais processos com o uso de algoritmos de
inteligência artificial, há uma frase bem conhecida: “os dados são o novo
petróleo!”. Isso porque a inteligência artificial para funcionar necessita de
um massivo volume de dados, sem o qual sua atuação poderá ser comparada a uma
criança de dois anos diante de uma placa mãe de um computador!
De outro lado, considerando os algoritmos de aprendizado
máquina que estão cada vez mais sofisticados, a inteligência embarcada em
sistemas robóticos vai subtraindo novas forças de trabalho.
Outro registro importante e muito preocupante é a violação da
privacidade, muito especialmente devido as Big Tech que, através de aplicativos
“gratuitos” e suas páginas nas redes sociais, capturam dados dos mais diversos
sobre todos nós; a ponto de “saberem mais sobre nos do que nos mesmos”. E
agora, com a aplicação da tecnologia do 5G e integração de sistemas via
internet de tudo (IoT), aliada aos algoritmos de reconhecimento facial, vamos
entrar um processo preocupante e tão sério que a professora da Harvard Business
School. Shoshoma Zuboff, que cunhou o termo “capitalismo de vigilância”.
Em sua obra Zuboff (2019) ela descreve: “o capitalismo de
vigilância reivindica de maneira unilateral experiência humana como
matéria-prima gratuita para a tradução em dados comportamentais ... aplicados para o aprimoramento de produtos e
serviços”, porém vai mais além: “alimentando avançados processo de fabricação
conhecidos como “inteligência de máquina” e os utilizando como produto para
predição, são capazes de saber “o que um determinado indivíduo faria agora,
daqui a pouco e mais tarde”
A questão nesse ambiente é tão séria que muitos pesquisadores
e economistas, como grandes preocupações com a massa de desempregados que,
fatalmente, vai crescer consideravelmente, pensam na hipótese de ser criada uma
renda mínima universal, com objetivo de permitir uma vida digna para aqueles
que perderam o emprego em função dos avanços da AI e mesmo, um imposto sobre o
uso da inteligência artificial.
No campo bélico, os perigos já estão por ai! Além dos
conhecidos drones assassinos, cuja magnífica abordagem pode ser encontrada na
obra Chamayou (2015) que descreve: “veículos aéreos, não tripulados,
controlados à distância, com câmeras de alta definição e armados de mísseis”
são utilizados como estratégia de controle territorial e de guerra
contemporâneos; cujo objetivo radical é: “projetar poder sem projetar
vulnerabilidade”; sem falar dos novos jatos autônomos com inteligência
artificial embarcada, com poder de tomada de decisão sem a interferência
humana!
Finalizo esse artigo com uma frase do falecido físico, Stephen Hawking, autor de diversas obras, dentre elas
a mais conhecida: “Uma Breve História do Tempo”: “A menos que aprendamos como
nos preparar e evitar os riscos potenciais”, explicou ele, “a IA pode ser o
pior evento da história de nossa civilização”.
Nota: Esse artigo também foi publicado no Linkedin, na página do autor
Fonte:
Bostron, N.
in Superinteligência – Caminhos, perigos e estratégias para um novo mundo – Editora
DarkSide (2014).
Kurzweil, R.
in Era das Máquinas Espirituais – Editora Aleph – 2007.
O´Niel, K in
Algoritmos de Destruição em Massa – Editora Rua do Sabão (2021).
Zuboff, S –
in A Era do Capitalismo de Vigilância – A luta por um futuro humano na nova
fronteira do poder – Editora Intrínseca (2019).
Gonçalves,
P. S. in O futuro do Trabalho – Blog do autor – link de acesso: https://professorgoncalves.blogspot.com/2017/07/o-futuro-do-trabalho.html.
Chamayou, G – in A Teoria do Drone – Editora Cosac & Naify (2015).
Hawking, S –
in Uma Breve História do Tempo – Editora Intrínseca (2015)
Kurzweil, R. in A Singularidade está próxima: quando os humanos transcendem a biologia - Editora Itaú Cultural Iluminuras (2019).
Tegmark, M. in Vida 3.0 - O ser humano na era da inteligência artificial - Editora Benvirá (2020).
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