segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Portos brasileiros

PORTOS BRASILEIROS


Sem investimentos em infraestrutura básica, o Brasil não consegue deslanchar por não possuir capacidade para escoar com facilidade a sua produção. O comércio internacional do país depende significativamente dos nossos portos cuja deficiência encarecem os custos logísticos, reduzem a produtividade e a competitividade.
Considerando que os portos brasileiros são a principal porta para importação e exportação, o Governo Federal, tenta melhorar a performance do setor, através de projetos que preveem injetar investimentos vultosos com objetivo de modernizar os portos.
Nesse sentido, através da Lei 12.815/13, que dispõe sobre a exploração direta e indireta pela União de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos operadores portuários, o Governo Federal procura abrir espaço para que a iniciativa privada, passasse a explorar as áreas e infraestruturas portuárias. 
No mesmo dispositivo foi criada a figura de “operador portuário”, pessoa jurídica pré-qualificada para exercer as atividades de movimentação de passageiros ou movimentação e armazenagem de mercadorias, destinadas ou provenientes de transporte aquaviário, dentro da área do porto organizado (instalações portuárias e a infraestrutura de proteção e de acesso ao porto).
Vale registrar que os investimentos esperados com esse novo marco regulatório elevam-se a R$ 55 bilhões (cerca de US$ 22 bilhões) que deverão, se tudo correr bem, começar a ser aplicados a partir de 2017, envolvendo o arrendamento e TUPs (Terminais de Uso Privado), dois quais são previstos 31 bilhões até 2015 e R$ 23 bilhões entre os anos de 2016 e 2017.
A Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/PR) dispõe de uma série de projetos relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC 1 e PAC 2), cujos investimentos previstos envolverão cerca de R$ 7,5 bilhões em portos. Esses projetos priorizam a otimização dos acessos terrestres e marítimos, com foco na manutenção, recuperação e ampliação da infraestrutura portuária.
O objetivo dos projetos ligados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é melhorar significativamente a logística portuária, possibilitando, segundo estudos da SEP/PR, otimizar a movimentação de navios, veículos e cargas nos portos, projetando uma redução de 25% nos tempos de espera para embarque e desembarque, assim como possibilitando melhor aproveitamento da infraestrutura de berços e equipamentos de movimentação existentes e, por via de consequência ampliar a capacidade portuária brasileira.
Esses investimento totalizam 71 empreendimentos em 23 portos brasileiros e são destinados a “ampliar, recuperar e modernizar as estruturas visando uma redução nos custos logísticos, a melhorar da eficiência operacional, aumento da competitividade das exportações e incentivo ao investimento privado”.
Principais portos - movimentação de cargas
Fonte: ANTAQ

Para o leitor interessado no detalhamento das obras prevista no PAC e destinadas aos projetos de infraestrutura, o link apresentado a seguir apresenta maiores informações, elencando os projetos, valores e objetivos de cada empreendimento.

http://www.portosdobrasil.gov.br/assuntos-1/investimentos/arrendamentos-1/obras-de-acesso-terrestre

Embora tenham sido identificadas 159 áreas a serem licitadas com grande potencial para serem entregues a iniciativa privada mediante arrendamento,  passado um ano da promulgação desse diploma legal, denominado de Nova Lei dos Portos, o mesmo pouco avançou! 
Esse novo diploma legal já recebeu uma avalanche de emendas e passou pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU) que somente em abril desde ano (2014) conclui o relatório de análise.
Além disso, segundo comentário da obra “Infraestrutura, Transporte e Mobilidade Territorial” editado pela Fundação Perseu Abramo, com as restrições e encargos impostos pelos processos licitatórios haverá “riscos dos futuros terminais privados ficarem nas mãos dos donos dos navios e dos grandes operadores internacionais, que tem fôlego suficiente para fazer dumping por longo tempo, até a total precarização dos portos públicos”. 
De acordo com o texto legal, o exportador brasileiro é que escolhe o terminal que quer utilizar para o embarque de suas mercadorias, o que segundo o Governo acabaria estimulando a concorrência. Na prática quem escolhe o terminal é o dono da embarcação (armador). Nesse modus operandi a área mais afetada é exatamente aquela relativa a movimentação de cargas em contêineres.
Importante ressaltar que a dificuldade de acesso aos terminais de carga é um dos principais problemas verificados nos principais portos brasileiros. O resultado desse entrave é o aumento dos custos operacionais. Ressaltamos também a problemática dos congestionamentos das rodovias de acesso aos portos e a falta de estacionamento para os caminhões (ecopátios) como tratados em artigos anteriores nesse Blog. 
Outro aspecto que emperra é a burocracia estatal. Embora haja grande interesse do setor privado em investir em terminais, as exigências dos órgãos governamentais não estão afinadas a agilidade pretendida pelo Governo com o novo marco regulatório.
Um exemplo bem claro pode ser percebido como o denominado projeto “Porto sem Papel” no qual já foram gastos mais de R$ 170 milhões destinados a sua implantação. Apesar de revolucionário, não recebeu a adesão dos órgãos envolvidos, inviabilizando todo esforço de modernização dos serviços dos órgãos intervenientes e a fiscalização (basta lembrar que até recentemente a Receita Federal operava nos Portos em regime de oito hora diárias, o que era um entrave considerável na liberação das cargas!). O resultado foi “criar” um novo projeto, que provavelmente irá consumir uma vasta gama de recursos, denominado de “single window”, que poderíamos chamar de Portal Único de Comércio Exterior, criado a partir da publicação do Decreto 8.229/14, que será desenvolvido através do Siscomex, com acompanhamento da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Na verdade bem semelhante ao projeto do Porto sem Papel!
Parece que a “roda gira” mas permanece no mesmo lugar!

Fontes:
Portos e PAC - http://www.pac.gov.br/transportes/portos - acesso: 06/11/2014
Litoral brasileiro: costa tem grande importância e deve ser preservada – in http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/litoral-brasileiro-costa-tem-grande-importancia-e-deve-ser-preservada.htm - acesso: 08/11/2014.
Anuário Exame – Infraestrutura - -2014 -2015 – outubro/2014 -  Editora Abril.
Portos e Navios – Leio dos Portos vai “desidratar” Santos, prevê livro – in http://www.portosenavios.com.br/portos-e-logistica/26893-lei-dos-portos-vai-desidratar-santos-preve-livro - acesso 12/11/2014.
Redes de Obras – Governo prevê investimentos de R$ 54 bilhões nos portos brasileiros até 2017 – in http://www.aecweb.com.br/cont/n/rdo/governo-preve-investimentos-de-r-54-bilhoes-nos-portos-brasileiros-ate-2017_6900 - acesso: 12/11/2014.
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Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.

domingo, 2 de novembro de 2014

Ferrovias Brasileiras

FERROVIAS BRASILEIRAS


Como comentamos neste blog, a ineficiência no transporte de cargas no Brasil vem reduzindo consideravelmente a expansão do comercio internacional com agravamento dos custos logísticos e redução da competitividade.
Nesta postagem vamos tratar do transporte ferroviário.

Em função das suas características, o modal ferroviário apresenta-se com grande eficiência para o transporte de cargas a longas distâncias e tem um papel preponderante para o desenvolvimento de um país de dimensões continentais como o nosso.
É importante ressaltar que o transporte ferroviário mostra-se muito mais competitivo para distâncias superiores a 400 quilômetros devido a sua capacidade de transportar grandes volumes. É também mais sustentável e tem alternativas de ser mais limpo permitindo inclusive o uso de energia elétrica no deslocamento das composições (locomotivas e vagões).

Analisado sobre o prisma da carga propriamente dita, o modal ferroviário é o mais vantajoso para cargas superiores a 40 toneladas, independente da distância a ser percorrida no seu transporte.

A evolução da tecnologia na área ferroviária produziu melhorias significativas na construção de novas ferrovias, permitiu a utilização de equipamentos mais eficientes e mesmo aumentou a confiabilidade e a segurança no transporte de passageiros e de cargas. Hoje grande parte das composições tem eletrônica embarcada que resulta em melhor performance operacional e de segurança na sua movimentação.

Considerando que o Brasil é país de dimensões continentais o Governo Federal deveria ter incentivado a utilização do modal ferroviário como melhor alternativa para o transporte de carga e passageiros em todo o seu território.

Contrariamente, o modal rodoviário é aquele com maior participação na matriz de transporte brasileira, como mostramos na figura 2 onde comparamos também com a matriz de outros países.

Figura 2 - Matriz de Transporte - Brasil e outros Países.
Fonte: ANTAQ 

Embora  a nossa malha ferroviária tenha atingido 30.219 quilômetros conforme relatório da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), nesse total está incluído também as linhas destinadas ao transporte de passageiros inclusive o sistema metroviário urbano.

Vale registrar que ocorreu uma redução da extensão de nossas linhas férreas em comparação com a existente na década de 60 quando a malha brasileira atingiu uma extensão total de 38.287 quilômetros. A nossa malha sofreu um redução de 8.000 quilometro devido a eliminação de vias deficitárias e alguns ramais ferroviários.

Através do PIL (Programa de Investimentos em Logística) o Governo Federal pretende produzir melhorias no setor em várias frentes, mediante ações que envolverão também a participação da inciativa privada através das Parcerias Público-Privadas (PP).

O elenco de projeto que o Governo pretende atacar envolve: expansão a malha; construção de acesso aos portos – principais corredores de exportação; adequação dos trechos; manutenção das linhas e implantação de um novo modelo de concessão.

Neste sentido estão previstos investimentos da ordem de R$ 91 bilhões (aproximadamente US$ 37 bilhões), valendo destacar que desse total há previsão de aplicação do montante de 55 bilhões (US$ 22 bilhões) nos próximos cinco anos e o restante em até 25 anos. Apesar dos projetos de investimentos serem tão vultosos, não foram contemplados dentro do planejamento a recuperação das ferrovias nem a construção de contornos ferroviários.

Embora as estatísticas venham a demonstrar que ocorreu um aumento da produção ferroviária quando o Brasil apresentou uma expansão de cerca de 4,4 TKU (Tonelada Quilômetro Útil) no transporte por ferrovias, vale destacar que esse aumento deveu-se em grande parte a expansão no transporte de minério de ferro que contribuiu significativamente para o aumento da movimentação da carga.  O minério de ferro é a commoditie que absorve 73% do transporte ferroviário no país.

Em se tratando de commoditie vale registrar o caso da soja brasileira. Em Mato Grosso onde temos uma das lavouras mais eficiente do mundo, com altíssima produtividade por hectare, a soja é transportada por rodovias até o porto de Santos. Essa operação acaba produzindo um colossal engarrafamento nas estradas,  chegando a formar filas de caminhões que se estendem por mais de 25 quilômetros! Mesmo com a criação dos denominados pátios de estacionamento (Ecopátios - Figura 3) onde os caminhões aguardam para descarregar no porto, a espera para o descarregamento pode chegar a mais de quatro horas!
Hoje escoamento da soja participa com apenas 7,5 % no transporte ferroviário.




Figura 3 - Ecopátios

Quanto a movimentação de produtos através de ferrovias, destacamos na figura 4 a distribuição dos principais itens transportados por esse modal no Brasil.

Figura 4 – Principais produtos movimentados nas ferrovias.
Fonte: ANTT e CNT

Inúmeros são os fatores que depreciam a utilização do modal ferroviário no transporte de cargas entre eles: a baixa velocidade que chega a atingir 5 km/h em áreas em que ocorreram invasões nas faixas de domínio; linhas com curvas fechadas demais obrigando a composição reduzir a velocidade, trilhos em péssimas condições etc.

No sentido de incentivar a presença da iniciativa privada, algum esforço vem sendo desenvolvido para a concessão da malha ferroviária, a começar através da Lei 8.987/95 na qual Governo Federal definiu a estrutura da concessão. Esse dispositivo legal transfere para a empresa concessionária a responsabilidade para controlar toda a infraestrutura, operação e comercialização dos serviços. Porém, no ano de 2012, com a introdução do denominado PIL – Programa de Investimento em Logística, um novo modelo de concessão foi implantado.

Esse modelo, com maior complexidade e maior regulamentação de que o anterior, acabou produzindo um aumento da interferência estatal no sistema de transporte ferroviário. De um lado, a insegurança institucional, pois dois marcos regulatórios passarão a viger nos próximos quinze anos (o anterior e o atual). De outro, a inibição de investimentos pela iniciativa privada em face do arsenal de regras criadas.

Além disso, esse novo modelo põe em risco o endividamento do Estado uma vez que a VALEC passa a ser a “controladora” da oferta de serviços ferroviários o que, no nosso entender é um verdadeiro absurdo! Esse modelo preconiza que toda a capacidade oferecida nas novas ferrovias será adquirida pela VALEC com objetivo de garantir a oferta de serviços e modicidade tarifária!

Não há dúvidas de que o transporte ferroviário é um grande gerador de transformação econômica, impulsionando o desenvolvimento, muito especialmente em países com o Brasil em face de suas dimensões continentais. Seus custos mais reduzidos mostram vantagens para a consolidação do País como o principal exportador mundial de soja e minério de ferro.

Figura 4 – Mapa Ferroviário Brasileiro.
Fonte: VALEC

Apesar de o Governo Federal planejar um incremento da participação do modal ferroviário no transporte de carga, os projetos para ampliação da capacidade do transporte desse modal (entre eles: Ferrovia Norte-Sul, Nova Transnordestina, Integração Oeste-Leste (FIOL), Integração Centro-Oeste (FICO), Ferronorte e Ferrovia do Pantanal – ver Figura 4), não decolam com a velocidade necessária muito especialmente devido ao elevado atraso na execução das obras motivado pela má qualidade dos projetos!


Fontes:
- O Sistema Ferroviário Brasileiro - CNT – Confederação Nacional de Transporte (2013).
- Deficiências estruturais nas ferrovias e portos faz o Brasil desperdiçar bilhões – link: http://g1.globo.com – 21/04/2013 – acesso: 25/10/2014.
- Costa, Mário C.  in Ferrovias – O futuro sobre trilhos – Relatório IPEA – 2009 – ano 7 – edição 55 – 17/11/2009 – link: www.ipea.goav.br/desafios - acesso 20/10/2014.
- Mapa Ferroviário – VALEC – link: http://www.valec.gov.br/acoes_programas/Downloads/MapaFerroviasValec_28_07_2014.pdf - acesso: 25/10/2014
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Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
  • Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
  • Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
  • Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.