EMBARGOS, GEOPOLITICA
e CADEIAS DE
SUPRIMENTOS
No verão de 1989, a revista americana National
Interest publicou um ensaio
teórico do cientista político norte
americano, Francis Fukuyama, que preconizava uma mudança dos ideais europeus,
tendo como fulcro, uma possível invasão da Ucrânia perpetrada pela Rússia.
Posteriormente esse ensaio acabou transformando-se em um livro “O Fim da
História”, cuja tradução foi publicada no Brasil em 2015 pela Editora Rocco.
A
invasão aconteceu e isso está mudando todo o cenário geopolítico internacional,
assim como o redirecionamento das Cadeias Globais de Suprimentos!
Para o
leitor menos familiarizado com o tema, sugerimos assistir a um vídeo disponível
no Youtube denominado “A História de um Lápis”, narrada pelo Nobel em Economia
Milton Friedman, cujo link disponibilizamos aqui: https://www.youtube.com/watch?v=skx8a90xI78.
É fato que as Cadeias de Suprimentos, especialmente em um
mundo globalizado como o nosso, podem envolver uma vasta e intensa rede de
recursos (materiais e financeiros), informação e pessoal, deste as suas
respectivas origens até o destino, normalmente resultando, ao final, na
disponibilidade de bens de consumo para os consumidores.
O evento da pandemia permitiu, em grande medida, avaliar a
desordem mundial em termos de suprimentos de bens e serviços, em face das
diversas paralizações das operações logísticas, cujo resultado foi, entre
outros, a formação de um “vírus inflacionário” que se espalhou por todo o
planeta.
As lições da pandemia, que agora arrefeceu, resultaram
alterações nas cadeias de suprimentos, através de reestruturações estratégicas,
assim como a busca de novas fontes alternativas para suprir os mais diversos
insumos e produto.
Em muitos casos, esse redirecionamento estratégico das
cadeias de suprimentos, acabou promovendo a repatriação de diversas Manufaturas
para seus países de origem, muitas delas instaladas na China.
Diante do teatro das operações globais atuais, as pressões
criadas sobre a Rússia, através de diversos embargos, resultarão em uma drástica
remodelação das Cadeias de Suprimentos Globais; sendo importante ressaltar que
essa remodelação não acontecerá em um curto espaço de tempo, para um vasto
portifólio de insumos e produtos.
Tomemos, por exemplo, o caso mais visível pela mídia que é a
dependência europeia do gás natural produzido pelos russos! Basta lembrar que 40% do gás consumido pela
Europa é originário da Rússia, que possui 16% das reservas mundiais (Gazprom –
Annual Report 2020); valendo registrar que a Alemanha é suprida de gás russo,
numa faixa que oscila entre 50% e 65% de seu consumo interno!
Embora os Estados Unidos tenham acenado para suprir a
Alemanha, é bom lembrar que esse suprimento, além de a oferta inicial
representar tão somente 10% do consumo interno dos germânicos, custará bem mais
caro; afinal será transportado por navios. Além do necessário fluxo no
transporte do gás, há possibilidades maiores de ocorrência de riscos durante o
trajeto marítimo.
O resultado desse redirecionamento no suprimento de gás
implicará em um razoável espaço de tempo para dar uma “guinada” geral, com o
objetivo de levar a Alemanha deixar de depender do gás russo.
Outro exemplo: a produção de semicondutores depende do
paládio (um metal branco parecido com a platina). Os Estados Unidos importam da
Rússia cerca de 33% das suas necessidades. Embora as empresas produtoras de
semicondutores possam ter estoques estratégicos desse produto e ser necessário
a procura de fontes alternativas de suprimentos, é inevitável a ocorrência de
eventuais paralizações na produção de algumas plantas! Valendo registrar que o
mercado mundial de semicondutores ainda não se estabilizou em decorrência da
pandemia.
Outro ponto crítico, que comentamos em postagem anterior, foi
a retirada da Rússia do sistema internacional de compensações financeiras, o
que levou a reestruturação de novos modelos de negócios, incluindo transações
em moeda russa, assim com em moeda chinesa (Yuan); o que leva, gradativamente a
possível um descolamento do dólar como moeda internacional, com futuras
consequências!
O fato é que, os recentes acontecimentos globais colocaram as Cadeias de Suprimentos em alerta, provocando a necessidade imediata de estudos estratégicos para o desenvolvimento de novas alternativas de suprimentos, além da possibilidade de incrementar internamente, na medida do possível, a produção doméstica, como deverá acontecer com o potássio, tão essencial para o agronegócio brasileiro.