terça-feira, 25 de junho de 2019

Inteligência Artificial e o Dilema da Empregabilidade

Inteligência Artificial e o dilema da empregabilidade


Na medida em que a inteligência artificial avança e vem sendo embarcada na automação, ela produz um choque na empregabilidade!

Esse assunto foi abordado nesse blog, quando tratamos do Futuro do Emprego.

Para o leitor interessado, segue o link correspondente:



A preocupação quanto a empregabilidade é enorme. Estudos realizados pela consultoria McKinsey (2017) através do MGI (Mckinsey Global Institute) mostraram que, até 2030, um contingente de dezenas de milhões de pessoas (Alemanha e América), terão grandes chances de perder o emprego!

Além disso, o estudo mostrou também que uma boa parcela da população global (entre 3% e 14%) vão necessitar de reposicionamento do mercado de trabalho, objetivando sua adaptação; levando em conta os avanços tecnológicos e a adequação da força laboral para esses novos desafios!

Tomemos, por exemplo, a Tailândia e a Indonésia, lar de 630 milhões de pessoas e polo de várias indústrias manufatureiras; onde 9 milhões de pessoas trabalham nas indústrias têxteis e de calçados.

Uma máquina automatizada com inteligência artificial embarcada é capaz de produzir uma camiseta em apenas 22 segundos e pode trabalhar 24 horas por dia e 365 dias por ano, sem folga, férias e demais problemas que circundam os seres humanos.

Estudos mostram que 64% da força de trabalho da Indonésia e Tailândia correm sérios riscos de perda do emprego, em face da automação!

E não param por ai! O escritório de advocacia LawGeex, empresa fundada em 2014 e pioneira da Automação de Revisão de Contratos; vem utilizando a inteligência artificial em muitas das suas atividades.


Em 2018, a LawGeex realizou um experimento utilizando 20 dos seus melhores profissionais, para competir com seus sistemas de inteligência artificial, na avaliação de contratos confidenciais.


Em média, a equipe demorou 92 minutos para completar a avaliação de 5 contratos, sendo que alguns profissionais demoraram 156 minutos para executar a tarefa. Enquanto isso, o novo sistema de inteligência artificial do escritório, realizou a mesma tarefa em 26 segundos, com 100% de acurácia em todos os casos, enquanto que a melhor avaliação humana atingiu 97%!


Na área médica, por exemplo, os diagnósticos de imagens realizados através de Big Data e o computador Watson da IBM (IBM Watson Health), vem produzindo resultados mais rápidos e mais completos do que qualquer um dos maiores especialistas! Mais de 295.000 pacientes e consumidores foram impactados pelas soluções de IA da IBM.

Do mesmo modo, as cadeias de suprimentos, junto dos seus players, estão recebendo massiva presença da automação e da inteligência artificial o que, por via de consequências, resulta na redução do uso de mão de obra. Os processos antes controlados por pessoas, passam a ser monitorados por sistema automatizados com inteligência artificial embarcada, otimizando os fluxos, reduzindo os custos e aumentando a produtividade.

A Amazon, por exemplo, pretende substituir seus empregados por robôs, seguindo o exemplo de empresas como a Walmart, Shutterfly e a chinesa JD.Co. Os robôs da Amazon tem a capacidade de atender em média 700 pedidos por hora. Cada robô custa US$ 1 milhão e a empresa pretende substituir seus empregados por esse tipo de robôs. Segundo informações da agência Reuters e estimativas da própria Amazon, 55 robôs serão suficientes para substituir  os  1.300 funcionários atuais


Do mesmo modo, com o uso, em breve, dos veículos autônomos, a Universidade de Berkeley estima que 294.000 motoristas de caminhões nos EUA, correm sérios riscos de perda de seus empregos com a utilização desses veículos. 

O uso de carros autônomos aliados à algoritmos especiais de controle de tráfego em tempo real, produzirão reduções substanciais nos congestionamentos e, por via de consequência, nos custos dos congestionamentos. Basta lembrar que as estimativas mostram que nos EUA, os congestionamentos de trânsito provocam um custo anual estimado em US$ 50 Bilhões. 

Diante desse quadro, será um grande desafio, a realocação dessa mão de obra; não só na área da logística, mas em todo o espectro da economia; valendo observar que não é somente na indústria tradicional e seus milhões de trabalhadores que estarão em risco!

O trabalho será “uberizado”, sem horário definido, realizado em qualquer lugar e a qualquer hora. Aliados a tudo isso, teremos concorrência elevada na área profissional e a imperiosa necessidade de aprimoramento contínuo, para não ficar fora do mercado de trabalho, que será cada vez mais escasso e sofrendo enorme pressão devido a globalização, especialmente quanto a oferta de mão de obra altamente qualificada!

O Brasil está no olho desse furacão, muito especialmente, em face da baixa qualificação da sua força de trabalho.

Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, envolvendo 68 países, mostra que o Brasil se encontra na 54° posição na escalda de produtividade! Como explicita Costa (2018) : na Alemanha, por exemplo, país modelo em produtividade e o quinto do ranking, os empregados são quase quatro vezes mais produtivos do que os brasileiros (produzem US$ 64,40 por hora), e trabalham, em média, 340 horas menos por ano que o trabalhador no Brasil.” 

O gráfico da figura 2 apresenta um pequeno resumo desse estudo.


Figura 2 – Posição dos países em relação à produtividade.

Fonte: Costa (2018) in O Globo: 15/02/2018.


A triste conclusão a que chegamos é que a baixa qualificação e a educação sem qualidade acabam colocando grande parte da nossa população, na alça da mira da inteligência artificial, cujo resultado danoso será o desemprego em massa !


E, nesse contexto, a preservação do emprego acontecerá para um menor número de empregados, que estarão envolvidos em uma nova mantra de “colaboradores”, desenvolvendo capacidades multifuncionais e polivalentes em todas as suas dimensões intelectuais.

O mais impactante é mostrado no estudo da McKinsey (2017) , cujo desenlace indica que os sistemas educacionais não evoluíram para atender a natureza mutável do trabalho. O resultado mostrou que  os empregadores estão encontrando dificuldades para contratar empregados com as habilidades suficientes que necessitam!


Nessa pesquisa, que abrangeu nove países; 40% dos empregadores disseram que a falta de habilidades era a principal razão para vagas de empregos de nível iniciante. Sessenta por cento disseram que os recém-formados não estavam adequadamente preparados para o mundo do trabalho. Muitas lacunas nas habilidades técnicas, como os graus de disciplinas STEM (No jargão inglês: STEM = Science , Technology, Engineering and Mathematics.),foram encontradas, assim como aquelas relacionadas as habilidades sociais, como comunicação, trabalho em equipe e pontualidade.


O futuro do emprego será para aquelas pessoas que resolverão problemas que as máquinas não conseguirão solucionar; e as novas tecnologias vão requerer pessoal altamente qualificado e com grande conhecimento em ciência,  engenharia, tecnologia e matemática. 

De um lado, criatividade, percepção e compartilhamento, serão elementos indispensáveis que vão importar no futuro!

De outro lado, o enfrentamento de maior concorrência, trabalhos temporários, maior competência diante dos novos desafios tecnológicos, globalização, novas profissões será a tônica, como mostra a figura 3.


Figura 3 – Características do mercado de trabalho do futuro.

Fonte: Michel Page – (2018).

Diante desse cenário, extremamente complexo, surge uma pergunta – um verdadeiro drama que será estendido a nível mundial: o que fazer com essa gente desempregada e que não apresentam condições de disputar um novo posto de trabalho?

O risco de tensões sociais, será enorme, excetuando-se uma possível mitigação desse risco, mediante a criação de um programa de renda mínima universal, como sugerem vários ativistas, pesquisadores e economistas no painel mundial.

Essa renda mínima universal seria então regularmente distribuída para cada habitante através do governo de cada país. Há argumentos dando conta que essa renda mínima poderia promover o desinteresse das pessoas para a procura de novos empregos ou mesmo, que esses recursos poderiam ser utilizados na compra de bebidas alcoólicas ou drogas. Porém, uma pesquisa realizada pelo MIT demostrou que as pessoas que recebem algum tipo de auxílio do governo, continuam a procurar emprego.


A questão seguinte se apresenta de forma contundente: como buscar recursos para a implantação de um programa de renda mínima universal?


Ativistas internacionais, tais como Gates,  Zuckerberg e Musk, sugerem a criação de um imposto sobre a AI (inteligência artificial); o que implica em dizer que, na medida em que a AI vai reduzindo os empregos, mediante a substituição da interferência humana nas atividade laborais, essa mutação gerará um imposto, cuja arrecadação será destinada a dar cobertura a um programa de renda mínima universal ! 

O fato é que, se nada for feito, teremos edições ampliadas do Mad Max (https://www.youtube.com/watch?v=KUFAu2IROVk) e do Oblívion (https://www.youtube.com/watch?v=1mkUp1V3ys0), entre tantas outras películas futurísticas apresentadas nos canais de televisão; as quais já mostraram o que, de fato, poderá acontecer diante do quadro que se aproxima!

Bibliografia:
Gonçalves, P. S. – in O Futuro do Trabalho – disponível em: http://professorgoncalves.blogspot.com/2017/07/o-futuro-do-trabalho.html - acesso: 18/06/2019

Adans, J; Kletter, r. – in Artificial Intelligence: Confronting the Revolution. Endeavour Media Ltd. (2018).

Page, M. in As 8 características do mercado de trabalho do futuro – disponível em https://www.michaelpage.com.br/advice/carreira-profissional/pr%C3%B3ximos-passos-em-sua-carreira/8-caracter%C3%ADsticas-do-mercado-de .. acesso: 18/06/2019.

LowGeex - disponível em  https://www.lawgeex.com/platform/- acesso: 20/06/2019.

McKinsey - in Technology, Job and the Future of Jobs - disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/employment-and-growth/technology-jobs-and-the-future-of-work - acesso: 20/06/2019.