O FUTURO
DO TRABALHO
“A automação vai causar desemprego e precisamos nos preparar
para isso.”
Mark Cuban
Um pouco
de história
Quando adentrei na faculdade de engenharia convivíamos com duas especialidades. A minha, inclinada para a engenharia mecânica, convivia
perfeitamente com a turma da engenharia civil.
O grande sonho de consumo de qualquer estudante de engenharia,
especialmente, de engenharia civil, era possuir uma máquina de calcular
fabricada pela FACIT, cujo modelo é apresentado na figura 2.
Figura 2 – Máquina
de calcular – FACIT x Software de Cálculo Estrutural.
A destreza no uso dessa máquina estava na velocidade com que se
deslocava o curso (setas branca e vermelha), especialmente nas operações de
multiplicação e divisão. Para
multiplicar por dez, por exemplo, deslocava-se o cursor para a esquerda
premindo-se a tecla vermelha à esquerda e logo a seguir, girava-se na manivela
no sentido horário. Semelhante processo acontecia na divisão, quando então se
utilizava da tecla branca e giro da manivela no sentido anti-horário.
Naquela época os escritórios de engenharia especializados em cálculo
estrutural, possuíam salas amplas, onde inúmeros calculistas com suas máquinas
FACIT´s trabalhavam loucamente. Ao adentrar numa sala dessas escutava-se uma
verdadeira sinfonia produzida pelo manejo, muito barulhento, dessas máquinas.
Posteriormente, com o advento dos computadores e softwares
especializados em cálculo estrutural, essas máquinas viraram peças de museu e
as grandes salas e seus calculistas desapareceram do mercado de trabalho!
Com a introdução da automação no setor bancário e uso abrangente dos
caixas eletrônicos para a realização de diversas operações financeiras e, posteriormente, com uso do chamado home banking, o setor
bancário brasileiro perdeu aproximadamente 160.000 postos de trabalho e, cada vez mais, a
automação adentra nos mais diversos serviços, reduzindo consideravelmente a
força de trabalho; inclusive nas operações do mercado financeiro. Hoje
softwares especialistas fazem as operações de compra e venda de ativos numa velocidade
de milissegundos – para os interessados sugiro a leitura do livro de Michael
Lewis, que leva o título de “Flash Boys”.
Outro evento marcante na minha memória aconteceu quando apresentei ao
meu pai, o processador de texto da Microsoft, o conhecido Word® (Figura 3) que
entre outras extravagâncias, tem a possibilidade de apagar palavras inserindo
outras em seu lugar.
Ele, aposentado e ex-funcionário público, era um “craque” na
datilografia (a datilografia, para que
nunca ouviu falar foi a antecessora ao processo de digitação de documentos!)
pois preparava os formais de partilhas e outros documentos. Literalmente ele entrou em êxtase!
Isso porque, à sua época, um documento não poderia
conter rasuras e para consertar o erro, o único dispositivo existente era o uso
a palavra: “digo”. Assim, por exemplo, suponha que, ao datilografar Rio, tenha datilografado
Ria. A solução tradicional, com o uso da máquina de datilografia, era: “onde digo Ria, digo Rio” e o texto assim
seguia!
Figura 3 – Máquina
de Datilografia x Processador de Texto
E a evolução tecnológica acendeu-se como um raio em velocidade e dispersou-se por todas as áreas do conhecimento humano. De lá para cá, vimos
passar um filme, em altíssima velocidade, que mostra como a tecnologia e a
automação invadiam os espaços e reduziam o uso da força de trabalho menos
especializada. E o ciclo continua!
Em recente artigo publicado na revista eletrônica Futurism, foi
anunciado que a Foxconn, um grande fornecedor da Apple, está substituindo
60.000 empregados da sua força de trabalho de 110.000 empregados por robôs!
O mesmo artigo informa que no centro de produção chinês de Kunshan,
cinco grandes empresas investiram US$ 630 milhões em inteligência artificial
(AI) e o resultado é obvio, redução considerável do uso de mão-de-obra que será
fatalmente substituída por sistemas de automação.
Essa é uma tendência que se propaga por todos os ambientes e por todos
os recantos do planeta e veio para ficar!
A revista The Economist apresentou um artigo no qual é discutido, de
forma resumida, o resultado de um estudo realizado por Freya e Osborneb (2017)
da Universidade de Oxford no qual, mediante elaboração de cálculos matemáticos e probabilísticos, foi possível determinar a probabilidade de que um determinado
ramo de atividade venha a ser substituído por processos de automação e
inteligência artificial.
O resultado desse estudo é apresentado, de forma sucinta, na figura 3
e indica, por exemplo, que existe uma chance de 99% para que os operadores de
telemarketing, assim como de 94% de que contadores e auditores, sejam
substituídos por sistemas inteligentes nos próximos anos.
Figura 3 – Empregos
em extinção
Probabilidade de
alguns empregos serem substituídos por robots
Fonte: Business
Insinder e Freya e Osborneb (2017)
Tal qual uma onda que, em alguns casos, assemelha-se a um tsunami, um
grande número de profissões e profissionais serão, literalmente retirados do mercado
de trabalho, substituídos por tecnologias mais avançadas e de alta
produtividade. Por exemplo, na Índia as tecnologias digitais estão promovendo inúmeras
inovações que poderão produzir um impacto na economia entre US$ 550 bilhões e US$
1,0 trilhões por ano, a partir de 2025, segundo estudos do McKinsey Global
Institute.
Como a evolução das espécies, empregos sucumbem, dando lugar a novas
modalidades de trabalho que requerem expertises das mais diversas e em todos os
campos da vida humana.
Na própria agricultura, por exemplo, antes funcionando à
base de um arado atrelado a um boi ou cavalo que sulcava o terreno, sempre conduzido
por agricultor; hoje opera com tratores e colhedeiras trabalhando em ritmo
acelerado e conduzidas por sistemas automatizados e com inteligência artificial
embarcada, operando com auxílio de GPS, possibilita que sejam monitoradas à distância.
O declínio de muitas profissões dará lugar, como a própria evolução
das espécies, outras novas e focadas nas novas tecnologias. Dentro desse
processo evolutivo, um estudo desenvolvido pela Universidade de Kent,
utilizando-se de uma visão prospectiva, elaborou um mapa da evolução das
profissões, partindo-se do hoje (“aqui e agora”) e projetando-se para um período
de 50 anos, como mostra a figura 4.
Figura 4 – Mapa das
profissões do futuro.
Fonte: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm.
Não restam dúvidas que os avanços tecnológicos com a automação,
inteligência artificial e robótica estão modificando drasticamente a forma com
a qual trabalhamos, convivemos e o próprio conceito do trabalho. Como afirma o
diretor da Innovate UK : “sobrevivência
no trabalho dependerá dos mais adaptáveis”; algo bem semelhante à evolução
das espécies ! O mesmo comenta Mark Cuban – empreendedor e filantropo americano
e CEO da HDNET: “haverá muitas pessoas
desempregadas substituídas por tecnologias e se não começar a lidar com isso
agora, teremos alguns problemas reais”.
A inteligência artificial está se desenvolvendo numa velocidade
estonteante e também sendo disseminada por todos os campos, muito especialmente
em função das redes de alta velocidade e armazenamento em nuvens. E essa é uma
preocupação muito séria; principalmente se considerarmos o poder do denominado
aprendizado profundo que consiste na utilização de uma quantidade maciças de
dados sobre um determinado objeto, por exemplo, e “ensinado” às máquinas a identificarem esse objeto.
Suponha que queremos que a máquina tenha o conceito de um determinado objeto, basta conectá-la a internet,
alimentando-a com milhões de imagens desse objeto, dando-se assim o conceito
geral desse objeto. O procedimento seguinte é testar mais e mais imagens desse mesmo objeto,
corrigindo eventuais erros de detenção desse objeto. Como a máquina tem a capacidade
de testar milhões de objetos em um curto espaço de tempo; esse é o ganho da
denominada tecnologia de “deep learning”
!
Aliadas a essa avalanche tecnológica, novas expertises são
indispensáveis para um perfeito enquadramento dos profissionais do futuro em
suas respectivas áreas de atuação, em termos de suas habilidades e
competências, como mostra a figura 5.
Figura 5 – Habilidades e competências funcionais.
Fonte: The Future
of Jobs (WEF – 2016) – Pag. 21.
Nesse campo é importante registrar que a educação continuada é a mola
mestra que permitirá auxiliar as pessoas desenvolverem novas habilidades,
adaptando-se continuamente às novas exigências dos mercados; onde os
empregadores estarão muito mais interessados em termos de especialidades
funcionais.
Portanto, é impossível parar no tempo! A sobrevivência no mercado de
trabalho vai depender substancialmente da sua capacidade de se reinventar a
cada instante e estar bem “antenado” com os avanços tecnológicos que acontecem diariamente
objetivando estar preparado para novos desafios.
Nesse sentido nunca é tarde lembrar da velha piada de dois executivos que
se encontravam em uma ilha na qual vivia um tigre faminto. Um deles começou a
calçar o seu tênis, enquanto o outro as gargalhadas lhe dizia: “você acha que vai correr mais do que o
tigre?“ O executivo que calçava o tênis respondeu: “Claro que não, mas seguramente vou correr mais rápido do que você”!
Portanto, esteja preparado pois o desemprego tecnológico poderá bater
na sua porta!
Fonte:
Futurism – in
Apple Supplier Just Cut 60,000 Jobs. Replaces Factory Workers With Robots -
disponível em : https://futurism.com/apple-supplier-just-cut-60000-jobs-replaces-factory-workers-with-robots/ - acesso: 20/07/2017.
Fastcompany – in
These Will Be The Top Jobs In 2025 (And The Skills You’ll Need To Get Them) –
disponível em https://www.fastcompany.com/3058422/these-will-be-the-top-jobs-in-2025-and-the-skills-youll-need-to-get-them - acesso: 22/07/2017.
Freya, C.B e Osborneb, M. A. in The future of
employment: How susceptible are jobs
to
computerisation? – disponível em Technological Forecasting & Social Change
114 (2017) 254–280.
McKinsey – in
Technology, Jobs and The Future of Work – Mckinsey Global Institute (2016).
Frey, Carl B. and
Osborne Michael A. in The future of employment: How susceptible are jobs to
computerization? disponível em :
http://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/publications/view/1314
The Gardian in
Will jobs exist in 2050? – disponível em: https://www.theguardian.com/careers/2016/oct/13/will-jobs-exist-in-2050 - acesso: 22/07/2017.
University of
Kent – in Future Jobs – disponível em: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm - acesso: 22/07/2017.
PWC/ FGV-EASPO in O Future do trabalho: Impactos
e desafios para os organizações no Brasil – relatório da pesquisa – (2014).
PWC in The future of work - A journey to 2022 – www.pwc.com/humancapital - acesso: 22/07/2017.
WEF – in The
Future of Jobs - Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth
Industrial Revolution - Global Challenge Insight Report (2016).
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