domingo, 16 de janeiro de 2022

 SEMANA da INOVAÇÃO, UMA REFLEXÃO!

THERAMOS e ELIZABETH HOLMES.
No limite da racionalidade!


Como estamos nesta semana em meios da Semana Rio de Inovação ( Rio Innovation Week), veio-me à mente o famoso caso da Theramos e sua fundadora, Elizabeth Holmes.

Aos 19 anos, abandonou a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, para fundar a Theramos, uma empresa que chegou a valer U$ 9 bilhões !

Seu projeto, supostamente promoveria uma verdadeira revolução no diagnóstico de doenças, através de uma inovação espetacular: realizar testes de laboratório de “alta precisão diagnóstica” utilizando uma simples gota de sangue!

Com seu habitual charme e boa fala, atingiu o topo do sucesso, sendo comparada a Steve Jobs (Apple) e a Mark Zuckerberg (Facebook). Foi considerada a queridinha do Vale do Silício.

Prometendo uma verdadeira revolução no campo da análise de patologia clínica, contou com o apoio financeiro de vários investidores do Vale do Silício e grande simpatia da mídia: mulher, jovem, bonita, charmosa e empreendedora!

Em 2013 a Theramos começou de forma agressiva a comercializar seus “testes” prometendo alta eficiência, rapidez e confiabilidade nos resultados. Porém os problemas começaram a se acumular quando veio à tona que os prometidos testes nunca funcionaram!

A Theranos começou a desmoronar quando um repórter do Wall Street Journal (WSJ) realizou uma investigação revelando que a empresa dependia de máquinas disponíveis comercialmente para realizar muitos de seus exames de sangue, em vez de seus próprios dispositivos supostamente revolucionários.

Ficou claro que a tão alardeada revolução não passou de uma nuvem de fumaça. A verdade é que a Theranos não conseguiu produzir um produto viável e sua CEO enveredou pelo caminho da fraude, enganando investidores, reguladores e parceiros por anos, até entrar em colapso em um mar de ações judiciais e acusações federais em 2018, quando a Theramos fechou as suas portas!

Elizabeth Holmes, em razão do escândalo, foi acusada de conspiração para cometer fraude e considerada culpada pelo Tribunal da Califórnia (EUA) e responsabilizada por quatro acusações: três por fraude e por conspirar para fraudar investidores.

Moral da história:
“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” (frase atribuída a Abraham Lincoln).

Nota: Esse artigo também foi publicado no Linkedin em 13/01/2021.



sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Sua empresa está lhe monitorando ?

 

SUA EMPRESA ESTÁ LHE MONITORANDO?


Esse artigo foi motivado por dois fatores: o primeiro, em face de ter participado de uma “Feira de Tecnologia” na qual tive a oportunidade de ver e experimentar um processo de rastreamento de celulares, passível de ser realizado através, por exemplo, das empresas de telefonia; o segundo, em razão de um recente artigo publicado na revista eletrônica Capital Digital, que trata de um suposto monitoramento de funcionários do Serpro.

Já tratamos aqui, em diversos artigos, das questões relacionadas ao que qualifico como “invasão de privacidade consentida” que as Big Techs realizam através de vários de seus aplicativos “gratuitos”.

A questão agora é ainda mais grave e envolve uma possibilidade real e imediata de que empresas possam estar monitorando seus empregados dentro e fora do local de trabalho!

O fato é que os avanços tecnológicos alcançados hoje, abrem um leque de oportunidades para que sejamos rastreados por diversos dispositivos: computadores, celulares, relógios digitais, câmeras de segurança etc., em qualquer lugar e a qualquer tempo!

A verdade é que a “Sociedade de Controle” está em curso e em alta frequência! Basta perceber o experimento de controle social que estamos vivenciando, em face da pandemia e do jogo “Goebbelsliano” aliado a Orwell com seu Big Brother! 

Será que estamos adentrando em uma versão sofisticada da STASI (Ministerium für Staatssicherhert) da antiga Alemanha Oriental?

Não estamos aqui a discutir o direito dos empregadores no controle de seus empregados; mas o avanço na privacidade dos empregados é uma afronta ao livre exercício das suas liberdades!

Por exemplo, já comentados aqui o caso de um amigo que foi fazer um curso no Japão e conheceu uma colega chinesa, com qual passeava nos fins de semana e que, depois de um tempo, foi chamado pela administração para explicar o motivo de estarem sempre juntos! Eram rastreados pelo ticket de transporte, no estilo, “one day pass” .

A verdade é que o monitoramento de empregados e candidatos a empregos, dentro e fora das empresas, passou a ser uma possibilidade real, especialmente em face da pandemia e dos trabalhos em home office! 

Mas isso não significa que no trabalho presencial esse monitoramento também não possa ocorrer! Os dispositivos que possuímos e as identificações de deixamos são vetores para esse processo!

Nesse sentido, a recomendação do CM/Rec (2015) 5 do Conselho Europeu estabelece que: “a utilização de métodos de tratamento de dados pelos empregadores dever ser orientada por princípios concebidos para minimizar quaisquer riscos que tais métodos possam representar para os direitos e liberdades fundamentais dos trabalhadores, em particular o seu direito à privacidade".

O certo é que o “jogo” tem que ser claro e com regras transparentes, caso contrário, ressuscitaremos a velha Stasi!

Fonte:

Committe of Minister – CM/REc (2015) 5 – 1 April 2015.

Uncular, S,. in Monitoring of workers’ personal data via entrance control systems -  disponível em Social Europe – 07 decembre 2021.

Queiroz, L. in O estranho monitoramento de funcionários do Serpro com o Office 365 – Capital Digital – 06 dezembro de 2022.




segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Prisioneiros dos Algoritmos

 

PRISIONEIROS dos ALGORITMOS


A palavra algoritmo tem sua origem persa, em uma referência à al Khawarizmin, matemático, astrônomo e geografo, um erudito da Casa da Sabedoria em Bangdade (Gonçalves-2018).

Buscando uma definição clássica, a Universidade de Oxford elaborou a seguinte descrição: “um algoritmo é um conjunto de regras ou instruções bem definidas para solução de um problema.” (Gonçalves-2018).

Na verdade, a nossa vida é permeada por algoritmos que, em muitos casos, utilizamos de forma bastante intuitiva, como por exemplo, acessar um andar de um edifício: temos que apertar o “botão” para chamar o elevador e indicar o andar que pretendemos chegar.

Em muitas situações ficamos prisioneiros dos algoritmos, como por exemplo, a escolha de uma rota no aplicativo do UBER. Uma vez aceita a corrida, por um motorista, o mesmo passa a ser controlado pelo algoritmo da plataforma do sistema. A precificação, assim como o trajeto, já foram estabelecidos pelo aplicativo do Waze!

Os algoritmos evoluíram exponencialmente, em especial com as técnicas utilizadas pela inteligência artificial (AI) que opera com um massivo volume de dados gerados e disponibilizados nas redes. Vale lembrar que a AI sem dados é como um veículo sem combustível!

A evolução acelerada também ocorreu através das técnicas de deep learning, quando o algoritmo treina o computador para aprender sozinho através do reconhecimento de padrões em várias camadas de processamento e vão se aprimorando e se sofisticando cada vez mais.

Já comentei nesse espaço que o Facebook (futuramente Metaverso), possui algoritmos que, baseado nas interações dos usuários nas suas plataformas (FB, WhatsApp, Instagram etc.), classifica e cataloga os internautas e, com base nos perfis gerados, são capazes de manipular suas ações com vários propósitos: comprar um produto, “simpatizar” com um político etc.

Embora esses algoritmos não sejam “inteligentes”, eles têm a capacidade de afetar o mundo, visto que eram projetados para maximizar a probabilidade de o usuário da rede clicar em uma determinada oferta. Lembrar do caso da TARGET que citei em uma postagem anterior!

Essa visão mudou radicalmente, a partir do momento em que a solução procurada é “manipular” o internauta, dirigindo-o a uma escolha e, nesse sentido, eles atuam buscado modificar as preferências dos usuários, tornando assim o resultado esperado mais previsível!

Como explicita Russel: “como qualquer entidade racional, o algoritmo aprende a modificar as condições de seu ambiente (a mente do usuário) ... Entre as consequências disso estão o ressurgimento do fascismo, a dissolução das democracias no mundo todo e, potencialmente, fim da União Europeia e da Otan.” (Russel 2020).

Ao final, caímos no velho desafio da esfinge de Tebas: "Decifra-me ou te devoro"!


Fonte: Gonçalves, P.S. in Bom dia, senhor algoritmo, meu mestre e meu senhor – disponível em https://professorgoncalves.blogspot.com/2018/11/algoritmos-mestre-e-senhores.html.

Russel, S. in Human Compatibile: Artificial Intelligence and the Problem of Control. Nota: A obra foi traduzida para o português levou o título de : Inteligência Artificial a Nosso Favor – Editora Cia das Letras (2021).