sábado, 30 de novembro de 2019

Manufatura em ambiente de Microgravidade

MANUFATURA EM AMBIENTE DE MICROGRAVIDADE

Ficamos agora no momento decisivo entre duas eras.
Atrás de nós está um passado a que nós nunca 
podemos retornar… A vinda do foguete finalizou
um milhão de anos de isolamento… a infância de 
nossa raça era excedente e a história como 
nós a sabemos começou. “
 Arthur C. Clarke - Exploration of Space (1952)


Vários experimentos foram realizados na Estação Espacial Internacional (ISS), em diversas missões da NASA, objetivando a manufatura de produtos a nível de microgravidade.

De um lado, é importante registrar que a estação espacial, um projeto no qual trabalham 15 países, foi colocada, a partir de junho deste ano de 2019,  à disposição das atividades comerciais, em seu módulo denominado Harmony, com a finalidade de abrigar astronautas do setor privado.


Esses astronautas privados poderão permanecer na Estação Espacial (ISS) por um período de até 30 dias exercendo atividades comerciais ou de marketing. O projeto inicial da NASA, de franquear o uso da ISS para fins privados, será totalmente custeado pela iniciativa privada e deverá ter início em 2020.

De outro lado, existem mais de 50 companhias realizando projetos de pesquisa e desenvolvimento sobre a estação especial através do Laboratório Nacional dos EUA da ISS e, segundo a NASA (Figura 2), os resultados são muito promissores. 


Figura 2 – Lançamento da Space X.
Fonte: NASA/Bloomberg (2019).

A importância desse evento está relacionada aos efeitos produzidos na fabricação de produtos no estágio de baixíssima gravidade, ou como muitos conhecem, na “microgravidade”.

Não é sem razão que grandes empresários estão interessados nessas pesquisas como é o caso de Jeff Bezos (Amazon), de Elon Musk (Tesla) e de Richard Bronson (Virgin), como mostra a figura 3.


Figura 3 – Principais empresários interessados nas pesquisas especiais.
Fonte: Bloomberg (2019).

Por exemplo, a fabricação de fibras óticas nas indústrias resulta na inserção de certas impurezas com a formação de microcristais e impurezas do próprio vidro. Nesse sentido, a fibra ótica, quando produzida em nosso ambiente, está sujeita a pequenas falhas, que resultam no aparecimento de cristais, cujo resultado é aumentar as perdas de sinais e, consequentemente, afetando a capacidade de transmissão de dados.

A fibra óptica vem sendo utilizada em diversas aplicações, sendo que um dos usos mais conhecidos está relacionado à transmissão de dados para uso da internet, como acontece com as empresas de serviços que procuram fornecer internet em “banda larga” de alta e altíssima velocidade para a transmissão de dados.

Pesquisas realizadas na ISS demonstraram que a falta de gravidade promove uma considerável redução na formação de impurezas durante o processo produtivo, além de tornar mais fácil produzir fios óticos mais longos, resultando em menores de custos de produção, estimados em US$ 1.0 milhão por quilo de fibra ótica.

Nesse contexto, significativas melhorais na qualidade do produto manufaturado, pela redução considerável de impurezas formadas nas fibras óticas no curso de sua a produção, serão obtidas, como mostra, comparativamente, a figura 4.



Figura 4 – Fibra ótica fabricada na Terra e no espaço.
Fonte: Bloomberg (2019).

A mesma empresa à frente do projeto de fabricação de fibra ótica na estação espacial, uma empresa americana denominada Made In Space, também quer fabricar componentes, como a utilização de impressão 3D (também conhecida como Manufatura Aditiva). 

Esse projeto denominado Archinaut One, recebeu investimento de US$ 73 milhões da NASA e uma impressora 3D já se encontra da ISS produzindo peças de reposição e ferramentas para serem utilizadas na manutenção da própria Estação Espacial.


Figura 6 – Fabricação de peças e ferramentas na ISS.
Fonte: NASA/Bloomberg (2019).

Do mesmo modo, através de um experimento na cultura de células (conhecido como esferoides) em microgravidade – mais ou menos sinônimo de ausência de peso – foi verificado que a cultura não precisa de apoio externo quando se encontra em ambiente de gravidade baixíssima (microgravidade); o que não acontece no ambiente terrestre. 

Além disso, esses experimentos prospectaram a possibilidade de se criar vasos sanguíneos naturalmente. O experimento, liderado por Daniela Grimm, da Universidade Otto von Guericke Magdeburg (Alemanha), observou como as células da camada interna de nossos vasos sanguíneos – células endoteliais (um tipo de célula achatada de espessura variável que recobre o interior dos vasos sanguíneos) – reagiam quando em microgravidade na ISS – Figura 6. 

Importante observar que o processo de crescimento de vasos sanguíneos no espaço poderá auxiliar no projeto de tecidos humanos para transplante ou a produção de novos medicamentos. Num futuro próximo é esperado que as melhorias que serão implementadas nessas técnica em microgravidade poderão auxiliar na substituição de  vasos sanguíneos danificados, para os pacientes que necessitem de realizar um transplante.

As células endoteliais ajudam a regular o fluxo sanguíneo para nossos órgãos e pressão arterial, controlando a expansão e contração de nossos vasos sanguíneos.


Figura 6 – Bioimpressão em microgravidade.
Fonte: NASA/Bloomberg (2019).

As pesquisas nesse campo avançam aceleradamente; inclusive com a possibilidade do uso de naves robóticas para prospectar minérios e metais nobres.

Por exemplo, a ESA (Agência Espacial Europeia), está planejando instalar em 2025, uma mineração de rochas na Lua com disponibilidade de edifícios e equipamentos. A água congelada abaixo dos polos lunares será utilizada para a fabricação de combustível para sondas espaciais.

Em um futuro próximo não será segredo encontrar Estações Espaciais - verdadeiras fábricas robóticas - circulando em torno no nosso planeta manufaturando produtos dos mais diversos e despachando-os para o nosso planeta!

Todo progresso tem um custo! A preocupação nossa, nesse âmbito, está relacionada a sustentabilidade e poluição espacial que atualmente já é fator expressivo, bastando verificar o volume de satélites civis e militares e demais artefatos, que rondam o nosso espaço sideral!

Fontes:

SAPOTEK – in NASA une-se a empresas para fabricar fibra ótica no Espaço – disponível em : https://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/artigos/nasa-une-se-a-empresas-para-fabricar-fibra-otica-no-espaco - acesso: 29/11/2019
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O ARQUIVO – in Empresa criará fibra ótica no espaço – disponível em https://www.oarquivo.com.br/variedades/ciencia-e-tecnologia/4882-empresa-criar%C3%A1-fibra-%C3%B3tica-no-espa%C3%A7o.html – acesso: 29/11/2019.

Ortega, J. – in NASA investe US$ 73 milhões em projeto de impressão 3D que constrói no espaço – disponível em : https://www.startse.com/noticia/nova-economia/68314/made-in-space-3d - acesso: 29/11/2019.

Barbosa, R. C. in Crescimento de tecido no espaço – disponível em https://www.orbita.zenite.nu/crescimento-de-tecidos-no-espaco/ - acesso: 30/11/2019.


Gnipper, P – in NASA oferece ISS para oportunidades comerciais e astronautas particulares – disponível em https://canaltech.com.br/espaco/nasa-oferece-iss-para-oportunidades-comerciais-e-astronautas-particulares-141193/ - acesso: 30/11/2019.


Revista Galileu – in A mineração espacial ameaça o Sistema Solar, alertam cientistas  - disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2019/05/mineracao-espacial-ameaca-o-sistema-solar-alertam-cientistas.html - acesso: 30/11/2019.




quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Industria 4.0 - A nova revolução industrial

INDÚSTRIA 4.0
A NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
"A quarta revolução industrial
não vai esperar pelo Brasil."
Sönmez, E. - Diretor do WEF.


A denominada Indústria 4.0 ou a nova Revolução Industrial, nasceu de um projeto estratégico de alta tecnologia do Governo Alemão, que promoveu a informatização da manufatura e envolve a utilização da inteligência artificial (AI – Artificial Intelligence), robótica, máquinas controladas por computadores e o uso massivo de impressora 3D; passaram a fazer parte do cotidiano das empresas que pretendem estar na vanguarda dessa nova revolução.

Uma primeira apresentação da indústria 4.0 aconteceu na Feira de Hannover, no ano de 2011 quando foi anunciada a denominada quarta revolução industrial que tem como plataforma o uso da tecnologia da informação nos processos industriais.

Nesse sentido, ela absorve avançadas tecnologias envolvendo automação, inteligência artificial, comunicação, internet das coisas, computação em nuvens, entre outros, criando, por via de consequência no que podemos denominar de sistemas ciber-físicos (hardwares e softwares comungando o mesmo propósito).
Figura 2 - A evolução da Revolução Industrial.
Fonte: Autor/Google Imagens.

Considerando-se o projeto de estrutura modulares, a indústria 4.0 assumiu um protagonismo por introdução das chamadas fábrica inteligentes, muito especialmente em face das estruturas físicas (hardwares:  robôs, máquinas automática,  sistemas interligados etc.), que se comunicam entre si, tendo a possibilidade de ajustar os processos, adequando-os as necessidades da oferta de produtos e serviços customizados e de acordo com as exigência dos clientes.

Um considerável avanço nesse processo encontra-se baseado na tecnologia de impressão 3D que revolucionou consideravelmente a equação de compromisso, nos processos produtivos, envolvendo a relação entre a variedade de produtos oferecidos e o volume de produtos demandados.

Figura 3 - Impressora 3 D em operação.
Fonte: Comprint/Stilurbano (2019).
De acordo com a McKinsey & Company, a indústria 4.0 poderá ter um potencial de criação de valor para os fabricantes e fornecedores da ordem de US$ 3,7 trilhões em 2025.

A crítica que essa consultoria faz refere-se ao fato de que “as empresas tendem a prever o desenvolvimento da tecnologia daqui para frente, em vez de identificar as áreas de maior impacto trazendo-as para os valores da indústria 4.0” (op.cit. McKinsey – 09/ 2019).

A utilização da automação aliada à inteligência artificial e comunicação integrada vai garantir uma sensível redução da mão de obra e, por via de consequência, redução nos custos de produção.

Um exemplo pode ser visualizado na Figura 4. O processo de manufatura gera impacto na escala de produção, considerando especialmente, a utilização em maior volume, de robôs, cada vez mais flexíveis.

Do mesmo modo, o uso de sensores ao longo da linha de produção, permitirá á garantir um retrabalho mínimo, dado que através deles o sistema reconhece eventuais desvios e promove, de imediato, as correções necessárias no processo de produção.
Figura 4 - Fabricação de automóveis no futuro.
Fonte: McKinsey (2019).

Um outro exemplo bastante interessante é a fábrica de robôs da FANUC que é totalmente automatizada. Ela chega a operar por um período de até trinta dias sem a presença de humanos em suas instalações.


Figura 5 – Modelos de Robôs e suas operações.
Fonte: Fanuc.eu.

A FANUC foi a primeira fábrica construída no Japão que opera e produzir de forma automatizada robôs e máquinas-ferramentas CN (Controle Numérico) , máquinas que operam automaticamente. Essa empresa já instalou no mundo 550 mil robôs e é o fabricante de automação industrial líder no mercado global.



Figura 6 –Robôs produzindo robôs - Fanuc – Japão.
Fonte: Fanuc.eu
Essa transformação, estimulada cada vez mais pelo uso de novas tecnologias, acaba exigindo que as empresas sigam na direção da indústria 4.0 sob pena de pereceram, muito especialmente em face da acirrada competitividade e a entrega de produtos cada vez mais customizados e de alta qualidade.

Infelizmente o Brasil ainda não caminha a passos largos nesse campo. De acordo com dados da Fiesp (Federação da Indústrias do Estado de São Paulo), em pesquisa realizada em 227 empresas foi constatado que 32% delas ainda não ouviram falar da Quarta Revolução Industrial (!) e apenas 5% delas se dizem preparadas para essa nova revolução.

Diante desse quadro, o nosso país corre sérios riscos de ficar para tráz na competição mundial por mercados. No ambiente da produtividade, excetuando-se o ponto fora da curva que é o setor do agrobusiness que  se destaca por ter introduzido várias tecnologias implementadoras de soluções otimizadas no plantio, controle e colheita, os demais setores continuam patinado, como mostram os dados do Ministério da Economia, tomando como base a relação PIB/Horas Trabalhadas. Enquanto nos EUA essa relação é de 69,49; Coreia do Sul 35,87, no Brasil, praticamente, desde 2000, esse índice permanece na faixa de 17,71, o que é lamentável e preocupante!

Como observa Murat Sönmez, diretor do Forum Econômico Mundial: “se o Brasil não recuperar o atraso tecnológico para se deslocar para a Quarta Revolução Industrial, permanecerá distante de sofisticados meios de produção e, por via de consequência, distante dos mercados mundiais! . E mais: “se as pequenas e médias empresas não se automatizarem, elas desaparecerão. Se não se moverem rápido, ainda mais para trás ficarão!”

A pesquisa realizada pela Fiesp e as palavras de Sönmez, fazem lembrar a música de Geraldo Vandré: “vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer!

Avante Brasil !

Fonte:
Garms, F; Jansen,C.; Schmitz, C.;Hallerstede, S.; Tschiesner, A. in Capturing value at scale in discrete manufacturing with Industry 4.0 – McKinsey Report (september 2019) disponível em https://www.mckinsey.com/industries/advanced-electronics/our-insights/capturing-value-at-scale-in-discrete-manufacturing-with-industry-4-0 - acesso: 14/11/2019.

Automataeb – in Industria 4.0 no Brasil – disponível em https://www.automataweb.com.br/industria-4-0-no-brasil/ - acesso: 20/11/2019.

Estadão – Os desafios da indústria 4.0 – O Estado de São Paulo – pag. 3 – 17/11/2019.

Shedletsky; A-K in Industry 4.0: Traceability Is The New Insurance Policy Manufacturers Need – disponível em  https://www.forbes.com/sites/annashedletsky/2019/10/08/industry-40-traceability-is-the-new-insurance-policy-manufacturers-need/#369051965860 – acesso: 15/11/2019.

Shedletsky; A-K in Automation Might Be Here, But Industry 4.0 Is Still Far Off – disponível em https://www.forbes.com/sites/annashedletsky/2019/08/15/automation-might-be-here-but-industry-40-is-still-far-off/#18c28e912c05 – acesso: 15/11/2019.

TOTVS – in Os desafios da Indústria 4.0 no Brasil: por que não conseguimos avançar? disponível em https://www.totvs.com/blog/os-desafios-da-industria-4-0/ - acesso: 15/11/2019.