domingo, 29 de maio de 2022

 Cadeias Globais de Suprimentos Alimentar em risco.

O riscos de um desabastecimento mundial.


“A instabilidade do conflito entre a Rússia e a Ucrânia começa a criar um efeito chicote nas cadeias de abastecimento de alimentos”

Aminetz – McKinsey 2022.


Já comentamos nesse espaço sobre os problemas e seus reflexos tendo em vista o conflito entre a Rússia e a Ucrânia; dentre eles, havíamos mencionado a possibilidade de uma crise de suprimentos de fertilizantes para a agricultura brasileira.


Considerando que a Ucrânia faz parte de um grupo seleto de países classificados como celeiros do mundo, grupo esse responsável pelo abastecimento de 65% das commodities agrícolas consumidas no planeta, qualquer abalo nesse fluxo de suprimentos resultará em efeitos muito expressivos na cadeia de commodities agrícolas e na segurança alimentar do planeta!


Como esse conflito ainda não foi resolvido e vem sendo alimentado, mediante uma verdadeira “guerra por procuração” entre a Rússia e os EUA, tendo como teatro de operações a Ucrânia, ele se estenderá por um longo período! Basta lembrar que recentemente o governo Biden destinou a fabulosa cifra de U$S 40 bilhões para suprir os ucranianos com material bélico (incluindo até lançadores de mísseis Patriot!) e “ajuda” humanitária!


São gravíssimas as implicações globais desse conflito! Por exemplo, diante do cenário de guerra que se propaga nas regiões da Ucrânia, há severos riscos da perda da época correta para o plantio das commodities agrícolas nas diversas regiões ucranianas, visto que as mesmas ocorrem em determinadas “janelas de tempo” envolvendo o preparo do solo, o plantio e efetuar a colheita! A perda dessa temporada de eventos, fatalmente, resultará em deturpar a oportunidade de realizar o plantio ou mesmo resultar uma colheita bastante comprometida!


Além disso, esses produtos são exportados normalmente, por via marítima, através do Mar Negro, cujos portos estão bloqueados em razão do conflito. O uso de modais terrestres como o rodoviário e o ferroviário se mostram precários e ineficientes, muito especialmente em função do embate entre os citados países e suas consequências geográficas no território ucraniano!


Importante ressaltar que esses impactos, tal qual um “efeito dominó”, ocorrem também, muito além dos campos agrícolas. Por exemplo, o Egito recebe e processa as commodities oriundas da Ucrânia e Rússia, exportando o produto processado para África do Sul!


Além do impacto do conflito, estudos da McKinsey (2022) estimam que a escassez de trigo, por exemplo, será “multiplicada por quatro até 2050”, em face dos efeitos conjuntos relativos aos eventos climáticos que começam a ser sentidos no Canadá (seca de verão) e França (verão muito úmido).


Em um cenário ainda mais severo, poderá ocorrer uma redução significativa na oferta global de alimentos em face da perda das épocas de plantio, impactos ambientais e restrições imposta para a exportação de produtos agrícolas.


Vale registrar que as cadeias de fornecimento globais começaram a ser redesenhadas nos últimos anos, em especial em face do impacto ocorrido devido á pandemia que permeou todo o planeta, como também em razão das consequências e incertezas da guerra na Ucrânia.


Como comentado em postagem anterior, em razão dos temores de choques frequentes que colocam em risco as cadeias globais de suprimentos, tanto governos quanto empresas vem reestruturando a busca da autossuficiência, bem como reduzir os riscos tanto no que tange as relações comerciais quanto evitando a paralização de processos produtivos.


Pesquisas realizadas pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), indicaram a necessidade imperiosa de realinhar as cadeias globais de valor em face dos estresses provocados por problemas geopolíticos. Neste sentido, as empresas passaram a trocar eficiência por resiliência, além de priorizar a localização em vez da diversificação. (WEF -2022).


Não é sem razão que muitos analistas acenam com a possibilidade de o Brasil ser a próxima “bola da vez”, tal qual a Ucrânia se encontra hoje!


Afinal, o nosso país vem batendo recordes na colheita de grãos. Em 2021, por exemplo ela atingiu 138 milhões de toneladas e o Brasil vem assumindo um protagonismo na produção de alimentos e, por conta disso, vem preocupando os seus competidores, especialmente na sua capacidade produtiva e a sua produtividade recorde no campo. Apenas ainda sofrendo percalços, navegamos em um mar de gargalos logísticos na sua exportação!


O certo é que o planeta está em ebulição e a globalização que está em declínio, acabou por expor todos os riscos! E a segurança alimentar global é um assunto que vem preocupando as autoridades de todo o planeta.


A caixa de Pandora foi aberta, resta ficar atendo para o que vem por aí! 


Nota: Este artigo também foi publicado no Linkedin no dia 25/05/2022.




 


segunda-feira, 23 de maio de 2022

 GEORGE ORWELL e a INTERNET do CORPO.
Chegaremos ao limite no controle total?


Por um lado, hoje utilizamos de forma bem corriqueira, telefones celulares, relógios inteligentes e diversos outros dispositivos conectados às redes de wifi que acabam monitorando nossas atividades, identificando, por exemplo, o nosso batimento cardíaco, indicando a qualidade do nosso sono etc. e não param por aí!

De outro lado, o uso massivo da “moeda” digital, que vem permeando todos os países através dos respectivos bancos centrais, é um primeiro enfoque para um controle total, bem ao estilo de George Orwell e sua famosa obra “1984”. Imagine você ser “deletado” dos sistemas financeiros de um país que só utiliza a moeda digital?

O próprio PIX, que estamos utilizando hoje, em larga escala e adotado em todo o país, é o primeiro macro ensaio para o lançamento do denominado Real Digital, que deverá ser implementado, segundo declaração do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, até 2023.

Diante desse quadro, um novo enfoque de controle também está surgindo, através da denominada Internet do Corpo (IoB -Internet of Body - também denominada Internet of Behavior), cujo sistema, baseado nos diversos dispositivos conectados à internet e utilizando um software especial, tem por objetivo coletar dados sobre a saúde e fisiologia das pessoas, podendo também, além da coleta dos dados, alterar a fisiologia do corpo! (Rand Corporation 2018).

Assim, por exemplo, um paciente cardiopata que esteja utilizando um marca-passo, terá seu aparelho monitorado, teoricamente, com objetivo de permitir a intervenção de um profissional da área da saúde em uma situação emergencial; porém não fica descartada a hipótese de ser também utilizado com outros propósitos!

No contexto da área da saúde, o uso da IoB será uma verdadeira revolução, se considerarmos a perspectiva de, através da coleta de dados da fisiologia de cada paciente, ser possível elaborar planos de tratamento médico totalmente adaptado ao paciente e entender mais sobre o funcionamento do corpo desse paciente.

Por exemplo, existem pílulas com sensores eletrônicos que permitem a um profissional da área da saúde saber se a pílula, indicada para um determinado paciente, foi tomada no dia e na hora descrita na prescrição.

Para não estender mais o tema que será, em breve, objeto de artigo no meu Blog, essas tecnologias inovadoras poderão abrir uma “caixa de pandora” para pessoas mal-intencionadas, como criminosos digitais!

Nesse sentido, é indispensável todo cuidado com o uso de dispositivos denominados “vestíveis”, que são cada vez mais populares!

De um lado, a possibilidade real de um controle total das pessoas, como regimes totalitários, por exemplo. De outro lado, há riscos de um hacker invadir o sistema (temos diversos exemplo de vazamento) expondo ou vendendo dados da saúde pessoal ou mesmo transformado essa invasão em um caso de segurança nacional!

Em resumo: A liberdade requer uma eterna vigilância!

Nota: Esse artigo também foi publicado no Linkedin em 01/05/0222.



Fraturas Expostas - A necessária guinada das Cadeias de Suprimentos.

 FRATURAS EXPOSTAS.
A necessária guinada das Cadeias de Suprimentos.


É certo que o impulso desenvolvido através da globalização da economia e a consequente abertura dos mercados, especialmente o chinês, levou, em grande medida, uma avalanche de empresas multinacionais para diversas regiões chinesas. Exemplo: engenheiro europeu ganhava 5 mil dólares por mês (36 horas/semana); um chinês pode trabalhar até 80 horas/semana e receber 50 dólares mensais.” (op. cit. Conti 2022).

Diante desse quadro, a avaliação dos riscos das cadeias de suprimentos, em face de eventos inesperados (Taleb e seu “Cisne Negro”), muito especialmente, em razão da alta concentração de empresas que migraram para os parques industriais chineses, foi totalmente mitigada e, em muitos casos, completamente esquecida!

Afinal, diante desse otimismo, em toda a sua plenitude, ninguém pensava na possibilidade de eventos adversos. Navegava-se em águas tranquilas, frente a um intenso mercado global, resultando em uma sofisticada e complexa cadeia de suprimentos, que fluía em todos os cantos do planeta !
 
Porém, dois eventos bastante significativos, acabaram por impactar gravemente as cadeias globais; do mesmo modo que não podemos descartar que até em um “céu de brigadeiro”, pode ocorrer, eventualmente, nuvens negras ou mesmo, tempestades torrenciais!

De um lado, as lições da pandemia, ainda não terminativa, haja vista, o colapso que ainda persiste em algumas regiões da China, em face do agravamento expressivo do SARS-CoV-2, promoveu o primeiro grande impacto, resultando na falta de diversas matérias-primas, insumos etc., cujo reflexo levou à inúmeras indústrias paralisar suas fabricas ou reduzir significativamente as suas metas de produção.

O certo é que, a pandemia, em grande medida, expôs os limites da globalização! (Rodrik – 2022) Do mesmo modo, ficou absolutamente claro, com descreveu Mauldin em seu recente artigo: “o crescimento da China dependia de exportações perpetuamente crescentes, o que era impossível.” (Mauldin Economics – May 3,2022).
O fato é que uma reversão da globalização está em andamento!

De outro lado, o impacto do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, que continuamos sofrendo as consequências e que parece não ter fim, instigado especialmente pelos interesses geopolíticos na região e as vantagens obtidas pelo complexo industrial militar (o comércio de material bélico envolve bilhões de dólares), levou às redes de suprimentos das mais diversas, sofrer interrupções, resultando em grandes desabastecimentos, como destacamos em artigo anterior.

O resultado de todo esse tsunami de eventos adversos está provocando um redesenho das cadeias de suprimentos com o primordial objetivo de buscar fonte de suprimentos mais proximais, desenvolver localmente essas fontes ou operar com aquelas oriundas de economias com baixo riscos de conflitos geopolíticos e maior segurança.

“É a direção da vela, e não o sopro da tempestade, que determina o seu curso na vida!” (Randy Daves).

Nota: Esse artigo também foi publicado no Linkedin em 08/05/2022.



 MUDANÇAS CLIMÁTICAS 
No limite da Racionalidade


Irracionalidade autêntica: o cérebro humano não consegue lidar com a complexidade de um problema ou ele está prejudicado por algum defeito que de modo perverso o leva repetidamente à resposta errada” (Pinker -2021).

Desde que o homem avançou na evolução tecnológica, através das diversas ondas propagadas pelas revoluções industriais, um gradiente crescente no consumo energético se fez presente e, em grande medida, acelerou o progresso da nossa civilização.

Do carvão e óleo cru às sofisticadas usinas nucleares, a criatividade humana rastreou todas as vias possíveis, na busca constante de suprimento energético para alimentar o progresso e satisfazer o bem estar da raça humana.

É certo que, especialmente a queima do carvão, dos derivados de petróleo e do gás, promoveram e ainda promovem um acentuado aumento nos níveis atmosféricos dos denominados “gases de efeito estufa”, cuja consequência sentida são as mutações climáticas que Gaia vem sofrendo; agora de forma mais abrupta, com ondas de calor e frio, tempestades torrenciais e etc., fenômenos facilmente perceptíveis !

Pesquisas realizadas entre os anos de 2000 e 2019 demonstraram que uma em cada seis mortes ocorridas no mundo estavam relacionadas à poluição !

Estudos realizados por vários cientistas da National Academy of Science (EUA), retratados em uma carta aberta afirmava, desde 2016, que o ser humano é um dos grandes responsáveis pela aceleração do impacto ambiental (Kerry - 2016).

Em 2021, a ONU (Organização das Nações Unidas) vociferava que o aquecimento global iniciava-se numa fase de efeitos duradores e vários indicadores críticos das mudanças climáticas haviam batido novos recordes naquele ano, e está levando a humanidade a uma catástrofe !

Claro que não poderíamos, diante do quadro vivido, ficar como meros espectadores a observar tragédias shakespearianas !

Assim, diversos projetos foram e estão sendo desenvolvidos com objetivo de mitigar ou mesmo inibir o crescente aumento das temperaturas médias do planeta, das águas dos oceanos, a poluição atmosférica, de rios, dos mares etc. e suas consequências danosas. Por exemplo, o uso cada vez mais intensivo de energias renováveis, como energia hidráulica, eólica, solar, biomassa, energia dos oceanos etc.

Diante desse quadro, o processo de substituição da geração de energia por energias renováveis deve ser constante e gradual, objetivando a segurança no suprimento energético das fontes alternativas, dentro do limite da racionalidade!

Particularmente meu pêndulo opera numa frequência tendenciosa para uso da energia nuclear que, embora demonizada em face dos acidentes de Three Miles Island (1979) Chernobly (1986) e Fukushina (2011), com os avanços tecnológicos na fissão  nuclear, assim como as pesquisas promissoras que estão sendo desenvolvidas no campo da fusão nuclear, acredito que permitirão uma virada nessa trajetória!

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente”. (Shakespeare - Otelo).

Nota: Esse artigo também foi publicado no Linkedin em 15/05/2022.