domingo, 9 de julho de 2023

Riscos Geopolíticos e Fragilidade 

das Cadeias de Suprimentos. 


O projeto de uma cadeia de suprimentos para a indústria eletrônica, não nasce de um simples planejamento executado em uma mesa de trabalho. É um longo desafio que perpassa por uma miríade de eventos, entre eles as negociações das mais diversas como os parceiros de negócios, assim como a estruturação de um sistema de controle de qualidade que garanta um suprimento adequado e permanente destinados a abastecer as linhas de produção de componentes e equipamentos eletrônicos e de comunicação.

 

Nesse contexto, os Estados Unidos por exemplo, ficaram dependentes de certos insumos básicos originários da China, por exemplo, os caças americanos F-16 e F-35 dependem de suprimentos chineses. Entre vários deles temos as denominadas Terras Raras, cujos elementos são muito utilizados na indústria de alta tecnologia, devido as suas propriedades específicas como: ductilidade, maleabilidade, baixa dureza, magnetização, condutividade térmica e elétrica.

 

Por exemplo, o germânio é utilizado na fabricação de semicondutores, lentes de câmeras e microscópios, ligas metálicas, assim como são usados principalmente para redes de comunicação por fibra ótica e sistemas de visão noturna por infravermelho; valendo lembrar que cêrca de 50% dos sistemas eletrônicos utilizados na indústria militar dependem fortemente desse insumo. O gálio por sua vez, é conhecido pelo seu baixo ponto de fusão e é utilizado na construção de circuitos integrados e dispositivos optoeletrônicos como diodos de laser e diodos LED empregados em monitores de computador, celulares, notebooks etc.

 

A China detém o maior volume de gálio e germânico do planeta, sendo estimado que 97% das terras-raras estejam localizadas na Ásia, onde 2/3 delas se encontram na China que é responsável por 87% da comercialização desses insumos, colocando a República Popular da China em uma posição privilegiada e estrategicamente bem-posicionada no suprimento desses elementos.

 

Em 1º de julho deste ano (2023) o Ministério do Comércio da China informou que a partir dessa data, as empresas que desejam exportar germânio e gálio precisarão obter uma licença especial! Tal atitude está sendo considerada por muitos analistas como uma possível retaliação após Estados Unidos e Europa ter colocado restrições para a exportação de chips para a China.

 

Os lockdowns provocados pela pandemia mostraram de forma clara a necessidade de redirecionamento das cadeias de suprimentos “offshoring” ,  buscando novas estratégias de abastecimento de insumos e produtos, e nesse caso preferindo a produção “reshoring”,  “nearshoring” ou “friendshoring”  ; porém essa decisão não ocorre em um "passe de mágica". Muitas vezes, demanda um bom tempo para a absorção desse novo processo, suas características e seus desdobramentos.

 

"A logística desempenha um papel crucial na guerra. O suprimento adequado de tropas e recursos é essencial para o sucesso."

Carl von Clausewitz (Da Guerra).




 


domingo, 2 de julho de 2023

Veículos Elétricos (EV) - Parte II
Baterias e outros problemas.

Na parte I desse tema, postada nessa plataforma no dia 29/06/2023, abordamos as questões relacionadas aos veículos elétricos sobre a ótica de seu impacto na mobilidade urbana, dentro de uma perspectiva do uso desses veículos da mesma forma que são utilizados hoje os veículos movidos a combustíveis fósseis, não resolvendo, por via de consequência, os problemas da mobilidade urbana, em face da manutenção do processo atual que resulta em grandes congestionamentos, dificuldades de espaços para estacionamentos, assim como lentidão no fluxo de veículos etc.

Nessa postagem vamos tratar de outros aspectos operacionais que, em sua maioria, não são abordados quando estamos falando dos carros elétricos. A começar pela sua bateria que é produzida por diversos fabricantes que utilizam várias composições químicas na sua fabricação, levando, por via de consequência a uma abordagem complementar quanto ao seu descarte

De um lado, se o seu descarte ocorrer em aterros sanitários comuns, os metais pesados existente nessas baterias podem vazar para o solo e a água, contaminar os ecossistemas e os recursos hídricos; além da própria decomposição das baterias que podem resultar na liberação de gases tóxicos na atmosfera; representando um risco para o ecosistema.

De um outro, a infraestrutura de reciclagem é um aspecto central, visto que a reciclagem de baterias de íon-lítio resulta em um processo complexo e caro, exigindo tecnologias específicas para recuperar os materiais (lítio, cobalto, níquel e chumbo) de forma eficiente e segura

Outro ponto importante a considerar refere-se as fontes de suprimentos do lítio, escasso na natureza, encontrado em maior escala na República Democrática do Congo (RDC), onde a mineração artesanal ocorre em condições perigosas e vem provocando a poluição ambiental e contaminação das fontes de água locais, em face do uso de produtos químicos, como ácidos e solventes, na sua extração, assim como cobalto e níquel - elementos cruciais na produção de baterias presentes em carros elétricos.

Quanto a recarga dos veículos elétricos é importante registar que ela vai requerer uma logística de suprimentos bem estruturada para definir as localizações das estações de recarga e sua normatização. No Brasil, por suas dimensões continentais, a demanda para a instalação desses postos vai depender da demanda por veículos elétricos nas diversas regiões o que poderá ser um fator impeditivo da circulação desses veículos em todo o território nacional.

Enfim, não restam dúvidas de que os veículos elétricos apresentam grandes vantagens sobre os atuais veículos movidos a motores que utilizam combustíveis fósseis. Segundo a minha ótica, a principal questão relativa a expansão no uso dos veículos elétricos está na arquitetura de um planejamento adequado para a sua implantação, numa abordagem macro do problema.

 

 Carros Elétricos (EV) – Trocando seis por meia dúzia!

Parte I – Mobilidade Urbana.

A indústria automobilística esgotou a sua capacidade de inovação, considerando seus projetos ainda centrados nos veículos à combustão interna. Isso decorre, diante das novas tecnologias, em face de diversos problemas, começando pela sua complexa mecânica de funcionamento (motores, caixa de câmbio, embreagens etc.) e geração de resíduos poluentes pela queima de combustíveis fósseis.

Nesse pormenor, os carros elétricos são mais “enxutos” pois não necessitam dessa mecânica tão complexa, porém necessitam de componentes voltados para operação através do uso da eletricidade. Sua engenharia é bem mais simplificada comparativamente aos carros movidos à combustíveis fósseis que, desde o seu projeto original, não sofreram alterações significativas em seus sistemas de combustão interna!

Mas, nessa equação frenética de transformação do consumo mediante o seu redirecionamento para veículos elétricos, apenas ganhamos em termos de mecânica e funcionalidade mais simplificada, porém não resolveremos os problemas da mobilidade urbana!

De um lado, consideremos as questões da mobilidade urbana, especialmente nas denominadas cidades inteligentes (Smart Cities). Seus requisitos impõe uma massiva operação coordenada com o uso, em larga escala, da tecnologia da informação e comunicação e, em um contexto mais ampliado, o uso da denominada internet das coisas (IoT – Internet of Things) mediante utilização de sensores e monitoramento, como GPS, câmera, Bluetooth, Wi-Fi, etc.

De outro lado, o uso de carros elétricos nas Cidades Inteligentes, teoricamente resolveria o problema relacionado à poluição ambiental, mas não solucionaria o problema da mobilidade urbana em face da elevada “poluição” de veículos se deslocando nos espaços urbanos!

A solução virá, segundo a minha ótica, mediante um perfeito sincronismo dos transportes urbanos de alta eficiência (Trens, ônibus elétricos, VLT etc.) interligados via IoT e uso de um aplicativo específico de tal forma que qualquer cidadão, utilizando esse aplicativo, poderá se deslocar de um ponto a outro da cidade de forma precisa e cronometrada com definições dos horários de cada uma das alternativas de transporte destinadas a levar esse cidadão ao seu destino.

A simples troca de veículos movidos à combustão interna por veículos elétricos resultará em situações semelhantes a ocorrida nos grandes centros urbanos, onde os usuários desses veículos se depararam com problemas: engarrafamentos, espaços para estacionamento bem escassos etc.

Simplesmente trocar os carros movidos à combustão interna por veículos elétricos, será o mesmo que trocar seis por meia dúzia, quando estamos tratando da mobilidade urbana!

Voltaremos ao tema em uma próxima postagem !