quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Logística e Mobilidade



LOGÍSTICA e

MOBILIDADE




“Sou como você me vê.

Posso ser leve como uma brisa

ou forte como uma ventania,
Depende de quando e
como você me vê passar.”
Clarice Lispector.


A mobilidade se transformou num grande desafio quando as cidades passaram a possuir um elevado volume populacional.



O trânsito, em sua inteireza, passou a ficar cada vez mais caótico e as dificuldades na locomoção das pessoas e cargas tornou-se vetor redutor crucial da qualidade de vida e da mobilidade urbana.


As preocupações se avolumaram e os primeiros estudos surgiram com Tanigughi (2001); criando-se assim uma nova área da logística: Logística Urbana, que foi definida como ”o processo de otimização das atividades logísticas e transporte por empresas privadas, com o apoio de avançados sistemas de informação, em áreas urbanas, considerando o ambiente de tráfego, o congestionamento do tráfego, a segurança do tráfego e a economia de energia, em um ambiente de economia de mercado. “



Figura 2- Dos desafios da logística urbana,
Fonte: Gonçalves (2018).

Nesse conjunto existem vários atores que, evidentemente, possuem diversos objetivos, dentro de diferentes perspectivas; sendo que, numa macro abordagem, o que se objetiva são melhorias nos custos logísticos, menor poluição ambiental, fluidez no tráfego urbano com reflexos imediatos na mobilidade de seus habitantes e uma excelente qualidade de vida.

Não é um desafio fácil! Há barreiras complexas, interesses difusos e coletivos que precisam ser examinados, estudados e gerenciados, objetivando maximizar a utilidade para todos os envolvidos (Figura 3).

Figura 3 – População com atores da Logística Urbana.
Fonte: Adaptado de Prat (2013).

Considerando as estimativas da ONU e estudos da Mckinsey, as expectativas dão conta de que, até 2050, cerca de 70% da população mundial estará concentrada em grandes centros urbanos!

Atualmente a população urbana, segundo a ONU (2018) atinge 55% da população mundia e, na visão prospectiva da ONU, as projeções indicam que a Índia devera adicionar 416 milhões de habitantes urbanos, a China 255 milhões e a Nigéria 189 milhões, nas próximas décadas!

Evidente que, diante desse quadro prospectivo, nas megacidades (Figura 4)– termo criado pela ONU para referir-se a áreas urbanas com população superior à 10 milhões de habitantes – os problemas gerados serão gigantescos!


Figura 4 - Megas cidades em 2050.
Fonte: BBC (2018).

A elevada densidade demográfica dessas megacidades está relacionada, entre outros fatores, à migração da população rural para os centros urbanos, em busca de melhores oportunidades, principalmente em face da massiva automação que vem ocorrendo no agronegócio e também motivados pelo processo denominado de conurbação – áreas urbanas de outros municípios se encontram, formando grandes aglomerações habitacionais – resultando em mega problemas, mobilidade comprometida (Figura 5), marginalidade, violência, impacto ambiental etc.


Figura 5 – Urbanização no mundo.

Fonte: ONU (2018). 
No rank das megas cidades (Figura 6) encontram-se: Tóquio com 37milhões; Nova Deli com 29 milhões; Xangai atingindo 26 milhões e Novo México, assim como São Paulo com 22 milhões. Na faia dos 20 milhões encontram-se Cairo, Mumbai e Dakar. (ONU 2018).



Figura 6 – Rank das Mega Cidades.
Fonte: ONU (2018).

O estudo da mobilidade em grandes metrópoles é complexo, dada a impossibilidade ou a grande dificuldade física do remanejamento dos espaços urbanos com o objetivo de reprojetar a sua arquitetura. Fora desse contexto estão as megacidades projetadas desde o seu nascedouro, como é o caso de Dholera na Índia – Figura 7, cujo tema foi tratado em postagem desse blog cujo link é informado a seguir:

 


Figura 7 – Dholera – Cidade Inteligente.

Fonte: Gonçalves. (2018).
Diariamente o sistema de transporte de uma metrópole, em suas várias modalidades, leva as pessoas para o trabalho ou lazer, veículos transportam produtos e alimentos e outros tantos se encarregam de recolher o lixo para reciclagem ou descarte, num fluxo pulsante em diversas direções.

Nesse sentido, é inevitável que cada cidade desenvolva projetos próprios para a mobilidade urbana, levando em conta os aspectos específicos e as condições que permeiam o ambiente de cada metrópole.

Se, de um lado a mobilidade é fator crítico para a fazer “girar” a economia; de outro, ela tem por finalidade manter as grandes metrópoles em constante movimento. Pessoas se deslocam de um ponto para outro para as mais diversas finalidades, assim como produtos são transportados e/ou retirados de diversos pontos comerciais ou mesmo industriais.

Hoje, cidades densamente povoadas apresentam um arsenal de problemas no quesito "mobilidade urbana", entre elas: São Paulo, Deli, Cidade do México, Mumbai entre outras, que vem sofrendo consideravelmente em função dos congestionamentos elevados (Figura 7), aumento da poluição ambiental (gazes tóxicos e ruídos exacerbados) e evidente redução da qualidade de vida!


Figura 7 -Logística Urbana e Cidades Inteligentes.
Fonte: Gonçalves e Google Imagens (2018).

Embora mega problemas circundam grandes cidades, é importante registrar que existe um pequeno grupo de cidades ao redor do mundo que, em contraste, apresentam um sistema de transporte mais efetivo. Nesse sentido a Mckinsey destaca: Estocolmo, Singapura e Amsterdam, muito especialmente em face das alternativas quanto à mobilidade de seus ocupantes, quais sejam: incentivo para o uso de bicicletas, caminhadas até o local de trabalho e uso de transporte coletivo eficiente.

As projeções dos especialistas indicam que, em um futuro próximo, o sistema de mobilidade urbana sofrerá modificações bastantes significativas. Isso decorre em função de diversas variáveis, entre elas, inovações tecnológicas, uso intensivo de veículos elétricos, transporte autônomo compartilhado e a internet das coisas que acelerará as mudanças no ambiente das metrópoles.

É importante observar que a mobilidade hoje apresenta um novo enfoque, considerando os incentivos para o uso de transportes alternativos tais como utilização de bicicletas, caminhadas até o local de trabalho, UBER e seus correlatos etc.; aliados as inovações tecnológicas proporcionadas pela internet das coisas e redes de comunicação móvel.

Por outro lado, o uso de veículos elétricos, que apresentam poluição zero (emissão de gazes e ruídos), ainda hoje encontra obstáculos relacionados a autonomia do veículo, motivada pela equação de compromisso de se ter uma bateria de longa duração, porém leve (lembrar que o veículo além de conduzir os passageiros, terá que ter potencia suficiente para impulsionar a si mesmo!), e disponibilidade de postos de recarga.

Atualmente, a frota de veículos elétricos do mundo atinge 3,2 milhões de veículos e, segundo a revista Auto Esporte (Maio - 2018), o volume de carros elétricos teve um crescimento de 55% no primeiro semestre, comparado ao mesmo período do ano anterior.

As recentes pesquisas direcionadas a utilização de baterias de lítio evoluíram significativamente em seus projetos, resultando em ganhos na autonomia, no peso da bateria e menores custos e, por via de consequência, aumentando o interesse no uso de veículos elétricos, como mostra a Figura 8.


Figura 8 – Custo da Bateria e venda de veículos elétricos
Fonte: Mckinsey (2016).


De um lado, considerando a mobilidade compartilhada, cujo primeiros estágios envolveu o denominado “transporte compartilhado”, onde vários interessados, mediante uso de um aplicativo se reunia com objetivo de utilizar um único veículo para o transporte dos mesmos, por exemplo, centro da cidade, destino de seus usuários; o que levou rapidamente esse sistema evoluiu mediante processos mais criativos, resultando nos sistemas da UBER e seus similares, assim como o aluguel temporário de veículos por hora de utilização.

Por outro lado, o uso de veículos autônomos ainda carece de maiores aprofundamentos não só no que se refere à modelagem computacional para direcionar os seus deslocamentos, como também as questões relacionadas à tomada de decisão em situações adversas. Nesse sentido, convidamos o leitor a leitura de artigo publicado nesse blog denominado: “O dilema das máquinas autônomas” cujo link encontra a seguir:


Entretanto, é importante salientar a necessidade imperiosa do uso intensivo do transporte público de massa, eficiente e rápido, com objetivo de promover melhorias significativas no transporte urbano, com reflexos imediatos na mobilidade.

Dentro desta perspectiva, Elon Musk com sua equipe de projetistas e pesquisadores, desenvolveu uma alternativa para essa modalidade de transporte, através do uso de ônibus elétricos de alta velocidade, chegando até à 200 quilômetros por hora, com um vasto número de pequenas estações (espaço aproximado necessário ao estacionamento de um veículo particular), que trafegaram em tubos, como mostra a Figura 9.
 

Figura 9 - Ônibus subterrâneo de Elon Musk;

Elaborado pelo autor – Fonte: Google Imagens (2018).
Para o leitor interessado em maiores detalhamentos desse projeto, sugerimos assistir ao vídeo do link abaixo:


Destacando os comentários iniciais, cada grande metrópole terá que enfrentar seus desafios para a melhoria da mobilidade urbana. Valendo registrar que, na medida em que avançamos no tempo, novas tecnologias estarão disponíveis, apresentado diversas alternativas que permitirão melhorar significativamente a qualidade de vida da população urbana, entre outros fatores, através de melhorias consideráveis na mobilidade urbana.

Fonte:
ONU – in Mais de 70% da população mundial viverá em cidades até 2050 – disponível em nacoesunidas.org/ - acesso: 06/12/2018.

PRAT, R.I. in La logística de la última milla - Convención Internacional de Logística - Medellín, 17-18 Julio 2013.

TANIGUGHI, E. at Al. In – City Logistics Network Modeling and Intelligence Systems (2001).

TANIGUCHI – Concepts of city logistics for susteinble and liveable cities – ScienceDirect (2014) – Elsevier.

GONÇALVES, P.S. – in Logística Urbana – Slides do curso de Logística – IBMEC/RJ (2018).

GONÇALVES, P.S. – in Smarts Cities and Tecnologias – disponível em: http://professorgoncalves.blogspot.com.br/2017/11/smart-cities-ii-tecnologias.html

BBC – In As 7 forças que mudarão o futuro da economia global – disponível em : https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46466612 - acesso: 13/12/2018. 
ONU in World Urbanization Report – disponível em https://www.un.org – 16/08/2018 – acesso: 15/12/2018.
IZO, A. in Frota mundial de carros elétricos cresce 55% no primeiro semestre de 2018 Revista Auto Esporte – 30/08/2018.

PELIGI, A. in Dono da Tesla anuncia projeto de ônibus elétrico subterrâneo Diário do Transporte – 10/maio_2018.