quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Blockchain e Cadeias de Suprimentos

BLOCKCHAIN E CADEIAS DE SUPRIMENTOS



O uso da tecnologia blockchain foi ampliando, muito especialmente, em função das transações realizadas com criptomoedas, como o Bitcoin, por exemplo, em face da necessidade de elevada segurança e transparência nas transações financeiras.

Essa tecnologia, que é baseada nas redes de internet, tem a capacidade de validar, registrar e distribuir as transações realizadas, em um denominado livro razão (ledgers), totalmente criptografado por sofisticados algoritmos matemáticos, promovendo a impossibilidade de que esses registros sejam violados.

De uma forma mais genérica, podemos dizer que essa tecnologia opera através de uma plataforma que permite criar e distribuir os registros das transações para milhares ou centenas de milhares de computadores, conectados em rede, através de sofisticados algoritmos de criptografia.

Importante registrar que a tecnologia blockchain é um processo distribuído e compartilhado e, nesse sentido, só será possível atualizar os registros mediante acordo de todos os participantes da rede; valendo lembrar que todas as modificações efetuadas nos registros são auditadas. A segurança das transações é mantida mediante o uso de tecnologia criptográfica extremamente poderosa de forma a garantir que as cópias são idênticas, as transações não são duplicadas e são utilizadas permissões específicas para ter acesso aos dados.

O blockchain essencialmente descarta a necessidade de intermediários que antes eram obrigados a atuar como terceirizados para validar, registrar e coordenar as transações e, uma de suas principais vantagens é a transparência e capacidade de otimizar sistemas de informação digital.

Em face da mudança de processo centralizado para uma configuração descentralizada e distribuída (figura 2), a tecnologia blockchain libera efetivamente dados distribuídos que antes eram previamente armazenados em arquivos de segurança.


Figura 2 – Da centralização à redes distribuídas.
Fonte: DHL/ACCENTURE (2018).

O termo blockchain tem sua origem nos denominados blocos de transações válidas e inalteráveis, que são interligadas, em ordem cronológica, para formar uma cadeia, como mostra a figura 3.


Figura 3 – Estrutura operacional da tecnologia blockchain.
Fonte: Mckinsey (2017).

Inicialmente essa tecnologia estava concentrada no uso em transações financeiras; porém, com a expansão das transações com as denominadas criptomoedas, essa tecnologia vem expandindo a sua utilização em vários setores, entre eles a logística e cadeias de suprimentos.

A descoberta dessa tecnologia também foi impulsionada pela denominada Internet das Coisas (IoT – Internet of Things), visto que, ocorrendo uma massiva conexão entre dispositivos que trocam dados entre si, passou a ser indispensável que essa troca de dados entre os mais diversos dispositivos, fossem realizadas em um altíssimo nível de segurança que, sem sobra de dúvidas, é proporcionadas pela tecnologia blockchain.

E, é claro que o blockchain despertou interesses dos mais diversos setores. No encontro de Davos de 2017, em face do “boom” no desenvolvimento de aplicações dessa tecnologia, foi relatado que o financiamento de empresas startups destinadas a desenvolver aplicações via blockchain, atingiram valores superiores a US$ 1.0 bilhão!

Com a perspectiva de grandes benefícios a vista, o mercado global para essa tecnologia projeta crescimento de US$ 7.68 bilhões para 2022, segundo estimativas da  Accenture/DHL.

Dentre as áreas que essas tecnologias podem agregar valor, destacam-se:
  • Substituição de processos manuais e lentos e seus respectivos aprimoramentos, acelerando, por via de consequência a sua digitalização e obtendo-se dessa forma uma plataforma online das operações desses processos;
  • Ampliação do leque de rastreabilidade - reduzindo os riscos de retrabalho, perdas de receitas e reputação da empresa, principalmente em face das recentes correntes mundiais no sentido de ampliar o volume de informações que as empresas fornecem aos seus consumidores, sobre os produtos que fabrica, ou comercializa. Nesse sentido, a tecnologia blockchain é uma das oportunidades de aplicação nessa direção;
Um grande número de empresas está interessada na tecnologia blockchain, com objetivo de criar fluxos de trabalhos mais eficientes, reduzir processos manuais, aumentar a produtividade e melhor a confiabilidade nas transações.

Empresas com a IBM e a Maersk estão trabalhando em plataformas inovadoras com a utilização da tecnologia blockchain, principalmente porque o uso dessa tecnologia inovadora reduzirá consideravelmente os custos, eliminado as transações via EDI, reduzindo a burocracia e aumentando a eficiência.

A rede de supermercados Wallmart e sua divisão Sam`s Club vão passar a exigir que os fornecedores de hortifrútis implementem um sistema de rastreamento de seus produtos da fazenda até as lojas baseado na tecnologia blockchain.
O leitor interessado poderá visualizar um pouco mais sobre essa proposta da Walmart, atraves do vídeo apresentado no link abaixo:
Do  mesmo modo, a Provanace, uma starup britânica utiliza a tecnologia blockchain para rastear alimentos.

A figura 4 apresenta alguns exemplos de aplicação do blockchain para as cadeias de alimentos e de produtos da indústria farmacêutica.


Figura 4 - A - A Cadeia de Suprimentos de Alimentos

Figura 4 - B - Cadeia de Suprimentos de Produtos Farmacêuticos

Fiugra 4 - Exemplos de aplicações do blockchain nas cadeias de suprimentos
Fonte: DHL (2018)

Entretanto, vale registrar, com comenta a Arson at Al. (2017), em artigo na revista da Mckinsey que, em se tratando de cadeia de suprimentos, o volume de transações geradas é bastante superior àquelas realizadas nas operações financeira com as moedas digitais (Bitcoin e seus equivalentes).

Nesse pormenor o artigo apresenta um exemplo bem impactante: “num período de 90 dias, um fabricante da indústria automobilística chega a processar, aproximadamente, 10 bilhões de transações, apenas considerando-se os fornecedores de primeira linha!”. O resultado disso é uma elevada demanda por armazenagem de dados, um dos componentes essenciais para o denominado “livro razão” distribuído nas operações do blockchain!

Fazendo um paralelo com as transações com Bitcoins, nas quais acontece o pagamento de um certo valor monetário por validar cada bloco ou transação realizada (ver figura 3), através dos denominados “mineradores”; se esse procedimento for utilizado para grandes volumes de  dados, como é o caso das transações nas cadeias de suprimentos,  esse custo poderá ser proibitivo! Além do aspecto considerado do custo de TI nas transações, que poderá ser futuramente reduzido em função de consideráveis melhorias nas tecnologias existentes. 

Segundo especialistas, o maior entrave está relacionado ao fato de que, nas operações com criptomoedas (Bitcoin por exemplo), a abordagem blockchain, é de domínio público e se utiliza de um protocolo de consenso com a finalidade de promover a confiança em cada bloco e, não existe um controle central nessas operações. 

Vale destacar que alguns especialistas já estão apresentando algumas alternativas para resolver essa questão que resulta na utilização do denominado blockchain hibrido (Freuden 2018) e mesmo o denominado blockchain privado (DHL 2018).

De fato, a tecnologia blockchain tem grande potencial para reduzir a burocracia e a papelada, melhorando significativamente o fluxo dos processos e aumentado a produtividade e, nesse sentido, ela tem a capacidade de manter as transações em formato digital, permitindo tornar o sistema menos dependente de intermediários, melhorando a transparência e a segurança via criptografia.


No gerenciamento das cadeias de suprimentos, os processos são bastante complexos, com uma grande diversidade de interesses e inúmeros intermediários e nesse sentido, apesar dos grandes avanços no uso da tecnologia blockchain, os executivos da área de logística precisam avaliar as novas tecnologias e suas aplicações, com objetivo repensar os antigos processos, reprojetando-os para a era digital.


Fonte:

CARSON, B.; ROMANELLI, G.;WALSH, P.; ZHUMAEV, A – in Blockchain beyond the hype: What is the strategy business value ? – disponível em https://www.mckinsey.com/business-functions/digital-mckinsey/our-insights/blockchain-beyond-the-hype-what-is-the-strategic-business-value - acesso: 02/09/2018.

Freuden, D. in Hybrid blockchains: The best of both public and private – disponível em https://bravenewcoin.com/news/hybrid-blockchains-the-best-of-both-public-and-private/ - acesso: 02/09/2018.

PARKER, L. in McKinsey sees blockchain technology reaching full potential in 5 years – disponível em https://bravenewcoin.com/news/mckinsey-sees-blockchain-technology-reaching-full-potential-in-5-years/ - acesso ; 02/09/2018,

GOCKEL, B. e ACAR, T – in Blockchain in logístics – Perpectivas on the upcoming impacto of blockchain tecnology and use cases for the logistics industry – DHL Tend Research (2018).

SONEGO, D. in Por que o blockchain pode mudar radicalmente a forma de se fazer negócios – disponível em https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2017/05/por-que-o-blockchain-pode-mudar-radicalmente-forma-de-se-fazer-negocios.html - acesso: 01/09/2018.

WEF in Blockchain Beyond the Hype - A Pratical Framework for Business Leaders - WEF - White Paper - April 2018.
DELOITTE Acess Economics in The Future of Blockchain - Application and Implications of Distributed Ledger Technology - Futere in - Perspective on Prosperity - January 2017.
KIRKLAND, R. in What next for blockchain - Mckinsey - May 2017 - disponível em https://www.mckinsey.com/industries/high-tech/our-insights/what-next-for-blockchain - acesso: 01/09/2018.
SCM/247 - in Walmart Requires Blockchain Technology to be Deployed by Certain Produce Suppliers - disponível em:  www:.supplychain247.com/article/walmart_requeres_blockchain_technology_to_be_deployed/ - acesso: 25/09/2018.
Tapscott, T - in Do Tapscot Predicts "Blockchain DAvos" in Economic World Forum - disponível em https://bitcoinmagazine.com/articles/don-tapscott-predicts-blockchain-davos-world-economic-forum/ - acesso: 25/09/2018.



















sábado, 8 de setembro de 2018

Cabotagem no Brasil

CABOTAGEM NO BRASIL


O Brasil, possuindo uma vasta costa navegável, oferece em seus 7,4 mil quilômetros de litoral, um promissor leque de oportunidades para o uso do modal marítimo e, nesse contexto, explorar de forma vantajosa e consistente, a navegação de cabotagem.

De acordo com estudos realizados pela Agência Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ) e a Confederação Nacional de Transporte (CNT), a cabotagem é um modal de transporte apontado como o de maior potencial para o crescimento, objetivando o transporte de carga destinado a atender o fluxo de bens, mediante o seu deslocamento ao longo da costa brasileira.

Dentro deste enfoque, é esperado que a cabotagem, gradativamente, permita desafogar as rodovias, especialmente pelo fato de que essa modalidade de transporte permite a redução nos custos logísticos que oscila numa faixa entre 20% a 30%, em sua maioria relativos ao custo do transporte.

Destacando-se os dados fornecidos pela ANTQ; eles espelham que a cabotagem e a navegação de interior, representam cerca de 19,4% do transporte aquaviário no Brasil, conforme mostra o gráfico da figura 2 e, com um grande potencial a ser explorado, como bem demonstrou no recente seminário – O Futuro da Indústria Naval – Painel 2, realizado no Rio de Janeiro.


Figura 2 – Distribuição do transporte aquaviário
Fonte: ANTAQ/CNT (2018)
A figura 3 apresenta a evolução da demanda por transporte aquaviário, registrando um comparativo entre a navegação de longo curso e a navegação de cabotagem.


Figura 3 – Evolução da Demanda no transporte marítimo.
Fonte: Solve/Barreto (2015).
A cabotagem é o modal menos poluente se comparado com o modal rodoviário; resultando em quatro vezes menos emissão de carbono por tonelada transportada; apresenta o melhor desempenho em termos de segurança de transporte, em face da inexistência de sinistros durante o transporte da carga, com a consequente redução nos preços dos seguros. Além disso, considerando a extensão costeira até Manaus que somam aproximadamente dez mil quilômetros, dispõe assim de uma via de transporte natural e de capacidade ilimitada.

A título de exemplo, a figura 4 mostra o perfil das escalas no circuito de cabotagem.


Figura 4 – Perfil das escalas na cabotagem.
Fonte: Barreto, L. (2016).

A greve dos caminhoneiros deixou de “olhos bem abertos” todas as cadeias logísticas que envolvem o mercado brasileiro, devido ao elevado impacto que proporcionou, com a paralisação do fluxo logístico, em especial, em grandes centros produtivos e centros consumidores.

Essa ocorrência acabou por “acender uma luz vermelha” que permitiu despertar o interesse por estudos destinados a flexibilizar as alternativas de transporte no País, dado a alta concentração do fluxo de bens ser efetivada pela via rodoviária. As análises mostraram que o modal ferroviário e a cabotagem são os mais vigorosos entre as possíveis alternativas. Vale destacar que o custo dos fretes, quando realizados via cabotagem, são inferiores em cerca de 30%, quando comparados com os fretes rodoviários.

É claro que há evidentes entraves no seu impulsionamento. Dentre as barreiras, encontramos elevada burocracia, baixa flexibilidade nas operações portuárias, obrigatoriedade de as embarcações serem operadas com tripulação brasileira, uso exclusivo de navios construídos no Brasil ou importados. Valendo registrar que, na importação de embarcações, haverá a incidência de imposto de importação que poderá chegar ao patamar de 50%.

Esses verdadeiros diques de represamento da expansão da cabotagem funcionam como vetores desencorajadores para que novos interessados venham a operar na comercialização dessa alternativa de transporte.

Dentre os operadores, podemos destacar:

  • Aliança Navegação e Logística – braço direito do Maesk Group, líder no mercado de cabotagem no Brasil;
  • Mercosul Lines que anunciou para o ano de 2020, a entrada em operação de navios com capacidade de 22.000 TEUS (Twenty Foot Equivalent Unit - tamanho padrão de contêiner intermodal de 20 pés) e utilização de motores movidos a GLN (Gás Natural Liquefeito);
  • LOG-IN Logística Intermodal que possui uma rede integrada, facilitando assim a entrega de bens, no estilo porta-a-porta;
  • A Cia de Navegação NorSul, especializada na logística de granel, sendo a líder no transporte de grãos, principalmente commodities.

No ano de 2017, de acordo com a ANTAQ, o modal aquaviário absorveu um bilhão de toneladas transportadas, das quais 15,7% foram relativas à cabotagem; valendo ressaltar que a navegação de cabotagem teve um incremento de 4,1 % em 2017, em relação ao ano de 2016.

No fluxo de bens transportados por esse modal, destaca-se que 75,3% refere-se ao transporte de granel líquido, 13,6% para o granel sólido; 7,6% de cargas em contêineres e 3,5% relativos à carga geral, como mostra a figura 5.
Figura 5 – Distribuição do transporte de carga na cabotagem.
Fonte: CNT – Plano de Transporte e Logística – 2018.


Com 36 Portos Públicos Organizados e 143 Terminais de Uso Privativo (TUP), vale ressaltar que os portos de Santos (SP), Itaguaí (RJ), Rio Grande (RS) e Suape (PE) concentram 70% de toda a carga transportada.

Dentre os problemas emergenciais diagnosticados na navegação de cabotagem, destacam-se:
  • Dificuldades que os transportadores encontram, na obtenção de financiamentos;
  • Mão de obra com capacitação insuficiente;
  • Altos custos com praticagem e tripulação;
  • Infraestrutura portuária deficiente;
  • Falta de integração entre modais;
  • Baixa oferta de navios.
A análise do relatório CNT-2018 permite verificar que os portos com maior número de projetos de melhorias são exatamente aqueles considerados de grande movimentação; destacando-se nesse âmbito, os portos de Santos (SP); Paranaguá (PR); Rio Grande (RS) e Itaqui em São Luiz do Maranhão.


Figura 6 – Eixo de Cabotagem.
Fonte: Plano CNT de Logística e Transporte (2018).

O eixo de cabotagem (E9), mostrado na figura 6, que engloba a interligação dos principais portos marítimos situados ao longo da costa, conectando os portos brasileiros, desde o porto do Rio Grande (RS) até o Porto de Santana (AP), necessitam de investimentos da ordem de R$ 122,0 bilhões, envolvendo projetos destinados a promover melhorias nos acessos aquaviários e terrestres aos portos, construção de novos portos (57) e áreas portuárias (186).

É indiscutível que a cabotagem, que resulta em redução de custos logísticos, melhor segurança no transporte da carga e baixa incidência de avarias, é uma alternativa logística importantíssima para o desenvolvimento do nosso País, muito especialmente levando-se em conta o potencial da costa brasileira. 

Fonte:
Seminário: O Futuro da Indústria Naval – Painel 2 – O Crescimento do Mercado de Cabotagem e Oportunidades para a Indústria Naval - Valor Econômico – 27/08/2018.

Macedo, F – in A cabotagem no Brasil e o desequilíbrio entre os modais - disponível em https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-cabotagem-no-brasil-e-o-desequilibrio-entre-os-modais/ - acesso: 02/09/2018.

CNT – Plano CNT de Transporte e Logística – 2018.

Barreto, L. in Retrato da Cabotagem – disponível em 

GONÇALVES, P.S. – in Navegação de Cabotagem – Brasil – disponível em http://professorgoncalves.blogspot.com/2014/05/navegacao-de-cabotagem-brasil.html