quarta-feira, 26 de julho de 2017

O Futuro do Trabalho

O FUTURO
DO TRABALHO

“A automação vai causar desemprego e precisamos nos preparar para isso.”
Mark Cuban

Um pouco de história
Quando adentrei na faculdade de engenharia convivíamos com duas especialidades. A minha, inclinada para a engenharia mecânica, convivia perfeitamente com a turma da engenharia civil.

O grande sonho de consumo de qualquer estudante de engenharia, especialmente, de engenharia civil, era possuir uma máquina de calcular fabricada pela FACIT, cujo modelo é apresentado na figura 2.

Figura 2 – Máquina de calcular – FACIT x Software de Cálculo Estrutural.

A destreza no uso dessa máquina estava na velocidade com que se deslocava o curso (setas branca e vermelha), especialmente nas operações de multiplicação e divisão.  Para multiplicar por dez, por exemplo, deslocava-se o cursor para a esquerda premindo-se a tecla vermelha à esquerda e logo a seguir, girava-se na manivela no sentido horário. Semelhante processo acontecia na divisão, quando então se utilizava da tecla branca e giro da manivela no sentido anti-horário.

Naquela época os escritórios de engenharia especializados em cálculo estrutural, possuíam salas amplas, onde inúmeros calculistas com suas máquinas FACIT´s trabalhavam loucamente. Ao adentrar numa sala dessas escutava-se uma verdadeira sinfonia produzida pelo manejo, muito barulhento, dessas máquinas.

Posteriormente, com o advento dos computadores e softwares especializados em cálculo estrutural, essas máquinas viraram peças de museu e as grandes salas e seus calculistas desapareceram do mercado de trabalho!

Com a introdução da automação no setor bancário e uso abrangente dos caixas eletrônicos para a realização de diversas operações financeiras e, posteriormente, com uso do chamado home banking, o setor bancário brasileiro perdeu aproximadamente 160.000 postos de trabalho e, cada vez mais, a automação adentra nos mais diversos serviços, reduzindo consideravelmente a força de trabalho; inclusive nas operações do mercado financeiro. Hoje softwares especialistas fazem as operações de compra e venda de ativos numa velocidade de milissegundos – para os interessados sugiro a leitura do livro de Michael Lewis, que leva o título de “Flash Boys”.

Outro evento marcante na minha memória aconteceu quando apresentei ao meu pai, o processador de texto da Microsoft, o conhecido Word® (Figura 3) que entre outras extravagâncias, tem a possibilidade de apagar palavras inserindo outras em seu lugar.

Ele, aposentado e ex-funcionário público, era um “craque” na datilografia (a datilografia, para que nunca ouviu falar foi a antecessora ao processo de digitação de documentos!) pois preparava os formais de partilhas e outros documentos. Literalmente ele entrou em êxtase!  Isso porque, à sua época, um documento não poderia conter rasuras e para consertar o erro, o único dispositivo existente era o uso a palavra: “digo”. Assim, por exemplo, suponha que, ao datilografar Rio, tenha datilografado Ria. A solução tradicional, com o uso da máquina de datilografia, era: “onde digo Ria, digo Rio” e o texto assim seguia!


Figura 3 – Máquina de Datilografia x Processador de Texto


E a evolução tecnológica acendeu-se como um raio em velocidade e dispersou-se por todas as áreas do conhecimento humano. De lá para cá, vimos passar um filme, em altíssima velocidade, que mostra como a tecnologia e a automação invadiam os espaços e reduziam o uso da força de trabalho menos especializada. E o ciclo continua!

Em recente artigo publicado na revista eletrônica Futurism,  foi anunciado que a Foxconn, um grande fornecedor da Apple, está substituindo 60.000 empregados da sua força de trabalho de 110.000 empregados por robôs!

O mesmo artigo informa que no centro de produção chinês de Kunshan, cinco grandes empresas investiram US$ 630 milhões em inteligência artificial (AI) e o resultado é obvio, redução considerável do uso de mão-de-obra que será fatalmente substituída por sistemas de automação.

Essa é uma tendência que se propaga por todos os ambientes e por todos os recantos do planeta e veio para ficar!

A revista The Economist apresentou um artigo no qual é discutido, de forma resumida, o resultado de um estudo realizado por Freya e Osborneb (2017) da Universidade de Oxford no qual, mediante elaboração de cálculos matemáticos e probabilísticos, foi possível determinar a probabilidade de que um determinado ramo de atividade venha a ser substituído por processos de automação e inteligência artificial.

O resultado desse estudo é apresentado, de forma sucinta, na figura 3 e indica, por exemplo, que existe uma chance de 99% para que os operadores de telemarketing, assim como de 94% de que contadores e auditores, sejam substituídos por sistemas inteligentes nos próximos anos.

Figura 3 – Empregos em extinção
Probabilidade de alguns empregos serem substituídos por robots
Fonte: Business Insinder e Freya e Osborneb (2017)

Tal qual uma onda que, em alguns casos, assemelha-se a um tsunami, um grande número de profissões e profissionais serão, literalmente retirados do mercado de trabalho, substituídos por tecnologias mais avançadas e de alta produtividade. Por exemplo, na Índia as tecnologias digitais estão promovendo inúmeras inovações que poderão produzir um impacto na economia entre US$ 550 bilhões e US$ 1,0 trilhões por ano, a partir de 2025, segundo estudos do McKinsey Global Institute.

Como a evolução das espécies, empregos sucumbem, dando lugar a novas modalidades de trabalho que requerem expertises das mais diversas e em todos os campos da vida humana. 

Na própria agricultura, por exemplo, antes funcionando à base de um arado atrelado a um boi ou cavalo que sulcava o terreno, sempre conduzido por agricultor; hoje opera com tratores e colhedeiras trabalhando em ritmo acelerado e conduzidas por sistemas automatizados e com inteligência artificial embarcada, operando com auxílio de GPS, possibilita que sejam monitoradas à distância.

O declínio de muitas profissões dará lugar, como a própria evolução das espécies, outras novas e focadas nas novas tecnologias. Dentro desse processo evolutivo, um estudo desenvolvido pela Universidade de Kent, utilizando-se de uma visão prospectiva, elaborou um mapa da evolução das profissões, partindo-se do hoje (“aqui e agora”) e projetando-se para um período de 50 anos, como mostra a figura 4.


Figura 4 – Mapa das profissões do futuro.
Fonte: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm.

Não restam dúvidas que os avanços tecnológicos com a automação, inteligência artificial e robótica estão modificando drasticamente a forma com a qual trabalhamos, convivemos e o próprio conceito do trabalho. Como afirma o diretor da Innovate UK : “sobrevivência no trabalho dependerá dos mais adaptáveis”; algo bem semelhante à evolução das espécies ! O mesmo comenta Mark Cuban – empreendedor e filantropo americano e CEO da HDNET: “haverá muitas pessoas desempregadas substituídas por tecnologias e se não começar a lidar com isso agora, teremos alguns problemas reais”.

A inteligência artificial está se desenvolvendo numa velocidade estonteante e também sendo disseminada por todos os campos, muito especialmente em função das redes de alta velocidade e armazenamento em nuvens. E essa é uma preocupação muito séria; principalmente se considerarmos o poder do denominado aprendizado profundo que consiste na utilização de uma quantidade maciças de dados sobre um determinado objeto, por exemplo, e “ensinado” às máquinas a identificarem esse objeto. 

Suponha que queremos que a máquina tenha o conceito de um determinado objeto, basta conectá-la a internet, alimentando-a com milhões de imagens desse objeto, dando-se assim o conceito geral desse objeto. O procedimento seguinte é testar mais e mais imagens desse mesmo objeto, corrigindo eventuais erros de detenção desse objeto. Como a máquina tem a capacidade de testar milhões de objetos em um curto espaço de tempo; esse é o ganho da denominada tecnologia de “deep learning” !

Aliadas a essa avalanche tecnológica, novas expertises são indispensáveis para um perfeito enquadramento dos profissionais do futuro em suas respectivas áreas de atuação, em termos de suas habilidades e competências, como mostra a figura 5.
 
Figura 5 – Habilidades e competências funcionais.
Fonte: The Future of Jobs (WEF – 2016) – Pag. 21.

Nesse campo é importante registrar que a educação continuada é a mola mestra que permitirá auxiliar as pessoas desenvolverem novas habilidades, adaptando-se continuamente às novas exigências dos mercados; onde os empregadores estarão muito mais interessados em termos de especialidades funcionais.

Portanto, é impossível parar no tempo! A sobrevivência no mercado de trabalho vai depender substancialmente da sua capacidade de se reinventar a cada instante e estar bem “antenado” com os avanços tecnológicos que acontecem diariamente objetivando estar preparado para novos desafios.

Nesse sentido nunca é tarde lembrar da velha piada de dois executivos que se encontravam em uma ilha na qual vivia um tigre faminto. Um deles começou a calçar o seu tênis, enquanto o outro as gargalhadas lhe dizia: “você acha que vai correr mais do que o tigre?“ O executivo que calçava o tênis respondeu: “Claro que não, mas seguramente vou correr mais rápido do que você”!

Portanto, esteja preparado pois o desemprego tecnológico poderá bater na sua porta!

Fonte:

Futurism – in Apple Supplier Just Cut 60,000 Jobs. Replaces Factory Workers With Robots - disponível em : https://futurism.com/apple-supplier-just-cut-60000-jobs-replaces-factory-workers-with-robots/ - acesso: 20/07/2017.

Fastcompany – in These Will Be The Top Jobs In 2025 (And The Skills You’ll Need To Get Them) – disponível em https://www.fastcompany.com/3058422/these-will-be-the-top-jobs-in-2025-and-the-skills-youll-need-to-get-them - acesso: 22/07/2017.

Freya, C.B  e Osborneb, M. A. in The future of employment: How susceptible are jobs
to computerisation? – disponível em Technological Forecasting & Social Change 114 (2017) 254–280.

McKinsey – in Technology, Jobs and The Future of Work – Mckinsey Global Institute  (2016).

Frey, Carl B. and Osborne Michael A. in The future of employment: How susceptible are jobs to computerization? disponível em : http://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/publications/view/1314

The Gardian in Will jobs exist in 2050? – disponível em: https://www.theguardian.com/careers/2016/oct/13/will-jobs-exist-in-2050 - acesso: 22/07/2017.

University of Kent – in Future Jobs – disponível em: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm - acesso: 22/07/2017.

PWC/ FGV-EASPO in O Future do trabalho: Impactos e desafios para os organizações no Brasil – relatório da pesquisa – (2014).

PWC  in The future of work - A journey to 2022 – www.pwc.com/humancapital - acesso: 22/07/2017.

WEF – in The Future of Jobs - Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution - Global Challenge Insight Report (2016).


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Economia Colaborativa avança na Logística.

ECONOMIA COLABORATIVA AVANÇA NA LOGÍSTICA

O cenário econômico global acaba por impulsionar uma nova forma de pensar e agir a respeito da economia como um todo, partindo-se para um novo conceito denominado de economia compartilhada.

A velha proposta de consumismo exacerbado deu lugar a uma nova forma que enfatiza acima de tudo o consumo consciente e não a mera posse de um bem. Em verdade, a aposta aqui é buscar um equilíbrio com a redução de custos tanto para as pessoas como nos negócios.

Nesse contexto está a eliminação da ociosidade, respeito a sustentabilidade e, em função desse novo olhar, procura-se compartilhar bens e serviços, através da incorporação de novas tecnologias e inovações tecnológicas que produzam efetivo ganho social, econômico e tecnológico.

Exemplos explodem por todas as áreas, entre elas podemos citar na mobilidade urbana, um dos modelos mais conhecidos é a plataforma do UBER que, mediante o uso de um aplicativo, é possível solicitar o transporte de passageiros de uma localidade para outra, aproveitando a ociosidade de carros particulares; além de permitir o denominado UBER POOL no qual há sensível redução nos custos de transporte em face do compartilhamento também da viagem.

Do mesmo modo, a Chevrolet desenvolveu um aplicativo denominado Lyft para promover o compartilhamento de caronas. Assim, por exemplo, um determinado grupo de moradores do Recreio dos Bandeirantes (Brasil – RJ) poderão compartilhar suas viagens para o trabalho no centro da cidade do Rio de Janeiro, com consideráveis reduções de custos.

Dentro dessa mesmo ambiente funciona um aplicativo denominado Bynd destinado ao compartilhamento de caronas em um ambiente corporativo.

Figura 3 – Exemplos de Carona Compartilhada.
Fonte: https://www.lyft.com/expressdrive e https://bynd.com.br/

Outro modelo em franca expansão é o AirBnB e Couchsurfing que estão focados nas plataformas de hospedagem mundial e especialmente projetados para viajantes que procuram acomodações em diversas partes do mundo. Através dessas plataformas, muitos moradores de diversas cidades do mundo abrem suas portas para receber esses viajantes o que produz um duplo benefício: de um lado, o viajante reduz os seus custos com a hospedagem e de outro, o morador acaba recebendo uma renda extra com a hospedagem.

Nos mais diversos campos de negócios existem também  ofertas de serviços compartilhados, como por exemplo, o uso de escritórios compartilhados. Aqui no Rio de Janeiro temos vários, entre eles, o escritório compartilhado da OAB/RJ (Ordem dos Advogados)

Outra modalidade é a plataforma colaborativa criada pela DHL que vem trabalhando num projeto piloto em Estocolmo (Suécia), destinado a compartilhamento de entregas, conectando, via aplicativo (MyWays – www.myway.com), pessoas que querem maior flexibilidade nas opções de entregas de produtos. 

Esse sistema rastreia consumidores que adquirem produtos on line em uma hora específica e o local de sua entrega e então oferece alternativas para que seja realizada a entrega. Assim, através de um simples aplicativo, o poder do compartilhamento se faz presente de forma intensa e econômica!

E os novos modelos de negócios não param por ai!

Na logística, o campo também é vastíssimo!

Vamos tomar como exemplo o caso brasileiro no que se refere ao transporte de carga. Segundo pesquisas realizadas, só no eixo Rio – São Paulo, os veículos trafegam com aproximadamente 35% em ociosidade, principalmente em face do desencontro com as denominadas “cargas de retorno”.

Nesse sentido, o fundador e CEO da empresa TruckPad, após visita ao Vale do Silício, desenvolveu a ideia de compartilhamento e dentro desse enfoque, milhares de caminheiros e oito mil empresas compartilham, através de um aplicativo para celulares, o transporte de cargas evitando assim que vários caminhões rodem nas estrada sem carga em seu interior.

Figura 3 – TruckPad e CargoX
Fonte: www.truckpad.com e www.cargox.com.br.


Um outro aplicativo dentro desse mesmo propósito é o CargoX , uma plataforma que possui informações que permite conexão com transportadoras locais e caminhoneiros autônomos, facilitando, assim o fornecimento de serviços de transporte com qualidade e rapidez, conseguindo reduzir a ociosidade dos veículos e, através de um melhor aproveitamento dos espaços e viagens, obter reduções nos custos da ordem de 30%. 

Essa tecnologia despertou um grande interesse de investidores antenados com essas novas modalidades de negócios e, em razão disso, no ano passado (2016) a Goldman Sachs decidiu investir R$ 35 milhões na empresa.

Através da plataforma da CargoX, a pesquisa é realizada em tempo real, capturando dados sobre as principais variáveis envolvidas com os fretes, dentre elas:  rotas, perfis, localizações etc. através de Big Data, permitindo assim que clientes de seus serviços possam fazer cotação online e obter informações sobre caminhoneiros e outras facilidades operacionais no transporte.

Outro aspecto importante e relacionado à logística de distribuição vem produzindo novos enfoques através da distribuição compartilhada. Nesse sentido, a combinação de rotas entre diversos fornecedores poderão resultar em ganhos consideráveis dado que um mesmo veículo poderá ter seus custos otimizados com esse compartilhamento de cargas para entregas, muito especialmente em função da eclosão do e-commerce que vem crescendo de forma acelerada e reduzindo substancialmente a existência de lojas físicas devido aos altos custos de manutenção e operação.

Nesse campo, podemos citar o exemplo de empresas da área editorial que uniram esforços para criar uma estrutura compartilhada para a entrega de jornais. Assim, um mesmo veículo é destinado, através da roteiros bem elaborados, a realizar a entrega de jornais e revistas nos diversos pontos de distribuição desses produtos que são supridos por diversos fornecedores.

Outro campo em franca expansão é o uso de armazenagem compartilhada. Hoje, com as avançadas tecnologias de produção e a denominada manufatura 4.0,  possível produzir muito mais em operações puxadas (on demand) do que em operações empurrada (produzir para estoque). O resultado é minimizar os níveis de estoques e, por via de consequência, reduzir os espaços para armazenagem de produtos. Assim em vez de ociosidade em um armazém ou centro de distribuição, compartilha-se esse espaço onde o uso da tecnologia da informação é o elemento agregador.

É evidente que as formas de trabalho, os avanços tecnológicos e os processos inovadores que habitam todas as áreas do conhecimento humano estão promovendo grandes transformações e nesse contexto, a logística não fica fora!

Portanto é indispensável estar conectado ao futuro que construímos diariamente sob pena de acabarmos fazendo parte dos coadjuvantes do Jurassi Park e simplesmente fecharmos as porta dos nossos negócios!

Fontes:
SCM247 – in Logistics and Share Economy – disponível em:   http://www.supplychain247.com/article/logistics_and_the_sharing_economy - acesso: 10/07/2017

McKinsey Interview – in Toward a circular economy in food -  disponível em: http://www.mckinsey.com/business-functions/sustainability-and-resource-productivity/our-insights/toward-a-circular-economy-in-food - acesso: 10/07/2017.

McKinsey Report – in An integrated perspective on the future of mobility – disponível em http://www.mckinsey.com/business-functions/sustainability-and-resource-productivity/our-insights/an-integrated-perspective-on-the-future-of-mobility - acesso: 10/07/2017.


Busse, Bruna O. in Economia Colaborativa: Conceito e Exemplos – disponível em : https://www.farolworking.com.br/single-post/2017/01/11/Economia-Colaborativa-e-Exemplos - acesso: 12/07/2017.

Westmann, P. – in Economia Compartilhada reduz custos, inclusive na logística – disponível em: http://www.painellogistico.com.br/economia-compartilhada-reduz-custos-inclusive-na-logistica/ - acesso: 09/07/2017.

Cartledge, J. in DHL trials crowd sourced package delivery in Stockholm – disponível em: http://postandparcel.info/57668/news/it/dhl-trials-crowd-sourced-package-delivery-in-stockholm/ - acesso: 12/07/2017.


domingo, 2 de julho de 2017

Logística e Roubo de Carga no Brasil

LOGÍSTICA E ROUBO DE CARGA NO BRASIL

A logística brasileira, já enfrenta problemas devido a baixa qualidade da infraestrutura, agora passa a enfrentar um novo desafio: o furto e roubo de cargas que ultimamente tem se mostrado como um vetor em franca expansão.

Se, de um lado, a ocorrência de um acidente em uma estrada, envolvendo um caminhão de transporte com carga de produtos de consumo, nas proximidades de regiões habitadas, resulta em saques, de outro, o crescente roubo de cargas tem se mostrando um empreendimento vantajoso para os meliantes que se utilizam de um aparato bélico digno dos utilizados nas guerras.

Normalmente a ação dos criminosos ocorre em pontos estratégicos sobre a ótica da velocidade do tráfego dos caminhões ou locais com facilidades para que esses meliantes possam operar com maior flexibilidade.

É importante registrar, que ao lado do tráfico de entorpecentes, essa modalidade de delito vem crescendo consideravelmente. Só nos últimos quatro anos esse tipo de ação criminosa aumento em 86% das estradas brasileiras, segundo estimativas do relatório da Firjan (março/2017).

Com bem explicita o referido relatório: “problema do roubo de cargas no Brasil se tornou tão grave que, em uma lista de 57 países, o país é apontado como o oitavo mais perigoso para o transporte de cargas, à frente países em guerra e conflitos civis, como Paquistão, Eritréia e Sudão do Sul” (op.cit.)

No quadro I apresentamos uma estatística da ocorrência desse tipo de delito no período de 2011 a 2016:


Quadro I – Roubo de Cargas no Brasil / Frota transportadora.
Fonte: Ambiente de Negócio – FIRJAN (março/2017).

Examinando mais detalhadamente as estatísticas apresentadas no relatório da Firjan, extraímos que 90,1% das ocorrências de roubo de cargas acontecem na região sudeste, distribuídos como mostra a figura 2.


Figura 2 – Mapa do Roubo de Carga na Região Sudeste.
Fonte: FIRJAN (Março/2017).

Essas ocorrências permitiram estimar, para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, onde a incidência é considerável, um prejuízo material em 2016 de R$ 1,6 bilhões; sem considerar a violência física que atingem os profissionais de transporte de cargas, em alguns casos, tendo como resultado mortes!

 Na figura 3 apresentamos a evolução dos roubos de cargas ocorridos no Estado do Rio de Janeiro, baseado em relatório elaborado pelo Instituto de Segurança Pública do Estado.


Figura 3 – Evolução do Roubo de Cargas  no Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: DGTIT / PCERJ. Organizado por: ISP/RJ.

Não foi sem razão que, recentemente, com objetivo de chamar a atenção das autoridades, os profissionais de transporte de cargas realizaram um ato público em uma das principais artérias de acesso ao Rio de Janeiro que acabou provocando um grande congestionamento de veículos, com reflexos nas rodovias Presidente Dutra e Washington Luiz (Figura 4).


Figura 4 – Rodovias Presidente Dutra e Washington Luiz.
Fonte: Mobilidade e Urbanismo em Nova Iguaçu.

Toda essa violência perpetrada pelos meliantes, além de comprometer os custos das operações e dos produtos, acaba tendo reflexos na contratação de seguros, cada vez mais caros em função dessa variável e, em muitos casos, provocando certa recusa no transporte de carga, por parte dos caminheiros para as áreas de grande potencial de riscos de roubos de cargas.

Paralelamente a essa agravante situação é o panorama traçado nas estratégias de comercialização, levando a produtores darem preferência a outros mercados de menor risco, em especial quando se trata de cargas de produtos de alta facilidade de comercialização, como é o caso de bebidas, cigarros e produtos alimentícios.

Em recente pesquisa realizada por repórteres do jornal “O Globo e GloboNews” foi constatado que uma carga roubada nas proximidades do Rio de Janeiro , Arco Metropolitano e Avenida Brasil, por exemplo, encontram-se disponíveis em mãos de vendedores ambulantes, no metrô, ônibus urbano e trens da Supervia, em um prazo de duas horas após a prática do roubo, tal a capilaridade com a qual essa “Logística de Distribuição Meliante” consegue progredir no teatro das ações criminosas.

Conclui-se que é indispensável o combate massivo ao roubo de cargas e seus elos com as facções criminosas, tanto a nível Estadual quanto Federal. Essa ação conjunta: Estadual x Federal começa também no combate ao tráfego de armas tão frequente e, verdadeiramente, escancarado em todo o território nacional.

O mapeamento de maior incidência no roubo de cargas, como apresentado a Figura 5, tomando por base dados obtidos através do site www.g1.globo.com e informações dos relatórios elaborados pelo Instituto de Segurança Pública – RJ, dá uma boa indicação de medidas preventivas que podem ser realizadas através de ações de patrulhamento em articulação com a Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, no âmbito de suas respectivas atribuições.

Figura 5 – Mapeamento do Roubo de Carga – R de Janeiro e S.Paulo.
Fonte: G1.com.br – ISP/RJ e FIRJAN.

Com hipótese complementar para o rastreamento do roubo de carga, estudar a possibilidade de inserção de chip de rastreamento, de forma aleatória, dentro das embalagens individuais dos produtos, como por exemplo, num pacote de maços de cigarros ou caixa de produtos comestíveis de pequeno porte, o que permitirá traçar rotas do movimento dos produtos furtados, podendo-se assim, mediante investigações mais apuradas realizadas pela inteligência investigativa, mapear os grandes receptadores e, por via de consequência, seus canais de distribuição meliante.

Não deixando de registrar ser indispensável melhor prover as forças operacionais (Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Policia Federal) com maiores recursos financeiros, melhorias salariais e operacionais (monitoramento das rodovias, uso de drones, aumento da segurança nas fronteiras, etc.), objetivando permitir uma ação efetiva no combate ao tráfico de drogas e armas e coibir roubo de cargas que em certa medida canaliza recursos para o tráfico de drogas e de armas em toda a nossa extensão territorial. 

Fontes:
FIRJAN – Relatório Ambiente de Negócios – março/2017.
Waiselfisz. J. J. – in Relatório de Violência no Brasil 2016.
Ferreira, M. – Relatório de Roubo de Cargas – Instituto de Segurança Pública – E. do Rio de Janeiro (2016).
Portal : www.g1.globo,com.br
MSCB Advogados Associados – A responsabilidade Civil do Transportador de Carga .