segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Estiagem e reflexos na logística


ESTIAGEM E REFLEXOS NA LOGÍSTICA




Se não bastasse a crise do setor elétrico, os atrasos na realização de obras essenciais ao pátio gerador e distribuidor de energia e uma política desastrosa de contenção de preços que vem deixando as empresas distribuidores de energia num verdadeiro “poço sem fundo” de dívidas que se acumulam, a estiagem prolongada vem colocando em risco a capacidade de abastecimento e causa preocupações quanto ao adequado suprimentos de água potável na cidade de São Paulo, a maior metrópole brasileira, além de impedir uma adequada navegação no Tiete-Paraná.
Os índices pluviométricos tem-se mostrados muito baixos em comparação com as séries históricas. Reservatórios das hidroelétricas se encontram com um estoque de água abaixo dos níveis esperados o que, de certa forma, poderá comprometer a geração de energia elétrica.
Uma dicotomia se alinha diante desse quadro. De um lado, um trabalho seletivo para a controlar a vasão dos reservatórios objetivando impedir que atingiam níveis críticos que possam comprometer a geração. De outro, as medidas para manter o represamento e controle da vasão dos reservatórios das usinas geradoras, determinadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), acabou resultando no rebaixamento do calado para a navegação, como é o caso do Tietê-Paraná que serve de fluxo de transporte de produtos.
O reflexo imediato ocorreu em duas frentes: de um lado, os operadores logísticos que atuam no transporte por esse manancial hídrico estão dispensando cerca de 700 empregados e vê consideravelmente reduzida a possibilidade de transportar por esse modal três milhões de toneladas de grãos e celulose destinadas ao Porto de Santos.
Com isso, os produtores do agronegócio são obrigados a buscar alternativas para escoar suas produções, recaindo no modal rodoviário, com uma elevação de custos da ordem de 300%!
Comparativamente, enquanto que o transporte pela hidrovia tem um custo médio de R$ 45,00 por tonelada transportada, no modal rodoviário esse valor se eleva para R$ 175,00 por tonelada. A eficiência operacional também tem grandes reflexos, bastando verificar que um comboio fluvial de 100 mil toneladas tem a mesma carga transportadas por 200 caminhões!
Além de encarecer os custos, aumentar a poluição e o consumo de combustíveis fósseis, também eleva o fluxo de veículos que passam a transitar nas rodovias, proporcionando assim a possibilidade de um maior congestionamento e riscos de acidentes.
Porém, no que se refere ao suprimentos de energia elétrica, é importante registar, conforme relata Velloso,  que:  “as razões para o desequilibro entre a oferta e demanda estão nos vários atraso de entrega de obras o que, em boa medida, se deve ao populismo tarifário, e em sérios defeitos no planejamento do sistema, a cargo do governo.”

Fonte:
Velloso, R- in O mico ficou com as distribuidores – O Globo – 11/08/2014

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
         Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
         Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
        Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

China e novas estratégias logísticas

CHINA e novas estratégias logísticas.
Com uma visão estratégica fantástica, a China busca alternativas para o canal do Panamá. Para isso pretende desenvolver a maior obra de engenharia dos últimos tempos!


Com objetivo de criar rotas alternativas para o transporte de produtos destinados a importação e exportação, Xi Jinping anunciou na reunião dos BRIC´s (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) realizada no Brasil nos dias 15 e 16 de julho deste ano na cidade de Fortaleza, que a China estará engajada no projeto de construção do maior canal navegável do mundo!

Esse projeto destina-se a construção de um canal transversal que unirá o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico, partindo de Brito no Pacífico até o Punta de Gorda no mar do Caribe.
Essa obra capitaneada pela HKND Groups, liderado pelo magnata Wang Jung, terá um investimento estimado em US$ 40 bilhões (quatro vezes o PIB da Nicarágua) e deverá estar em operação em 2019. Os legisladores nicaraguenses, num esforço conjunto, aprovaram um acordo que permitirá que a empresa chinesa, com exclusividade, construa e explore por 50 anos o canal.

Além das questões relacionadas a atender a uma crescente demanda por transporte marítimo, há razões geopolíticas importantes. Diferentemente do canal de Panamá que é protegido pelos Estados Unidos, o canal que a China pretende construir na Nicarágua ficará subordinado ao próprio país. 

Com essa vantagem estratégica a China garantirá o suprimento de grãos e outros produtos, além de driblar a influência dos Estados Unidos na região!  Nesse sentido, vale registrar as palavras do embaixador Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China: “.. o que é impressionante no caso da China é a visão estratégica e a capacidade de realização.”

O canal terá uma extensão de 286 quilômetros no corredor de navegação, incluindo 80 quilômetros através do Lago Nicarágua e permitirá, pelo seu porte, a passagem de grandes embarcações de até 250.000 toneladas. A área a ser alagada, após a sua construção, foi estimada em 400 quilômetros quadrados, além da construção de duas eclusas de 30 metros.

Inúmeros obstáculos deverão ser vencidos na sua construção, especialmente porque o projeto prevê a passagem pelo Lago Nicarágua, muito rico em biodiversidade, que poderá ser afetado pelo fluxo de embarcações de grande porte que por ele irão navegar. Além disso, o projeto prevê o trajeto por áreas densamente arborizadas nas florestas e por reservas indígenas, o que poderá afetar o equilíbrio do ecossistema da região.

Um dos efeitos mais preocupantes está relacionado ao efeito que o fluxo de grandes navios poderá provocar no Lago Nicarágua, o maior lago da América Central, pois além da sua biodiversidade, ele é uma das principais fontes de água doce.

Esse canal tem também por objetivo atender a demanda insatisfeita para o transporte entre os continentes que foram estimadas, numa projeção para o ano de 2025 entre 500 a 800 milhões de toneladas.

Outra questão se impõe, qual seja a possibilidade de haver uma concorrência entre o Canal de Nicarágua e o Canal do Panamá. Estudos preliminares apontam que, a abertura do novo canal deverá tirar a metade do tráfego do Canal do Panamá.  Para termos uma ideia do impacto, segundo a revista The Economist, o canal do Panamá tem uma receita de US $ 2 bilhões, dos quais cerca de US $ 700 milhões são destinados ao Tesouro do Panamá.

Os estudos já se encontram na fase avançada pois há previsão de inicio da obra ainda neste ano, porém muitas questões e desafios surgirão ao longo da execução desse projeto que poderá ser considerado a maior obra de engenharia dos últimos tempos!

Fonte:
Nicaragua plans rival canal route - BBC_News in http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/5405884.stm -  acesso 30/07/2014
Gran Canal Interoceanico por nicaragua – disponivel em http://enriquebolanos.org/desarrollo_soc_economico/grancanal/Canal%20x%20Nicaragua%20-%20Perfil%20Agosto%202006.pdf – acesso 30/07/2014.
Fariello, D – in  China busca alternativas ao canal de Panamá – O Globo 27/07/2014  pag. 39.
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Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier
Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência