CUSTO BRASIL
“O capital é como água, flui por onde encontra menos obstáculo”
Delfim Neto.
Dificuldades estruturais,
burocráticas e econômicas acabam encarecendo os investimentos, onerando o fluxo de bens e serviços (tanto no que se refere ao mercado interno quanto
para exportação), reduzindo a nossa competitividade, aumentando o desemprego,
mitigando a mão de obra qualificada e emperrando o desenvolvimento do
País. Eis aqui, uma definição clássica do denominado “Custo Brasil”!
Tal qual uma mão invisível,
para lembrar Adams Smith, esse processo ao estilo “kafkiano” é um verdadeiro
freio para a economia e o desenvolvimento do Brasil.
O chamado “Custo Brasil” é
fator significativo na determinação dos preços dos produtos que refletem uma
baixa competitividade no mercado internacional e mesmo traz reflexos no mercado
interno que , na contramão, acaba importando muitos bens de consumo,
principalmente dos Estados Unidos e da China, por serem muito mais baratos do
que aqueles produzidos no próprio país!
O custo Brasil que destrói a
nossa competitividade é resultado de muitos fatores. Um estudo realizado pela FIESP
- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, produzido por Rabelo (2011),
elenca vários componentes sistêmicos causadores da perda da competitividade da
economia brasileira, dentre eles: burocracia, elevado custo do capital de giro,
alta carga tributária; baixa capacidade da infraestrutura.
O custo da burocracia,
calculado pelo autor do citado estudo, atinge 2,6% dos preços industriais. O
custo do capital é comprometido com o alto spread cobrado pela rede bancária e também influenciado pela
taxa SELIC. Como exemplo neste âmbito, o custo de capital de giro, considerando
um taxa de juros reais de 2,8% ao ano, pode resultar em uma taxa anual de 19% para o tomador
do empréstimo, especialmente em função do elevado spread bancário.
No quesito infraestrutura
sua deficiência é gritante!
Como comentado em várias
postagens desse Blog, a matriz de transporte do Brasil é grandemente concentrada
no modal rodoviário com um agravante, pois somente 14% das estradas brasileiras
são pavimentadas. O resultado é um custo logístico mais oneroso que também mostra
reflexos no consumo de combustíveis e na manutenção de veículos – só no item
pneus, esse tem uma durabilidade nas estradas brasileiras correspondente a 1/3
da durabilidade nas estradas americanas!
Na logística há grandes desafios
que necessitam ser superados diariamente e que resultam em aumento de custos. Por exemplo, para fazer escoar a nossa
produção de grãos até os portos com destino a exportação, além da carência de
armazéns destinados a estocagem do produto o que resulta na perda de parte da
produção, apesar da elevada produtividade nesse ramo do agro negócio, grande
parte da safra é transportada pelo modal rodoviário o que representa um maior
custo para os exportadores.
Além disso, a inexistência de
uma infraestrutura portuária adequada acaba se refletindo em filas
intermináveis de caminhões que chegam mesmo a atingir 27 quilômetros de
extensão que ficam aguardando autorização para o desembarque da carga.
Recentemente houve uma tentativa de melhoria do congestionamento no tráfego desses veículos com a criação de um sistema de agendamento
para descarga para os veículos que se destinam aos portos de Paranaguá e de Santos.
No item tributação, uma
empresa de porte médio no Brasil, por exemplo, precisa atender a 3.207 normas
tributárias, segundo estudos realizados pelos IBPT – Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação. O mesmo Instituto registra que o arsenal legiferante
brasileiro atua de uma forma voraz produzindo, em média, 46 normas tributárias por
dia útil enquanto que a Secretaria da Receita Federal cria uma nova Instrução
Normativa a cada 26 minutos!
Não há a mínima condição de
uma empresa dominar tamanho arsenal de normas e procedimentos o que também acaba
produzindo aumento de seus custos em face da necessidade de manter um plantel
de assessores tributários ou contratar uma consultoria especializada na área para
desvendar tamanha complexidade tributária!
Todos esses meandros
relacionados aos tributos e taxas se alinham para o Brasil possuir uma carga
tributária que representa aproximadamente 36,42% do seu PIB (Produto Interno
Bruto), segundo o IBPT, levando o País a ocupar a primeira posição entre os
BRICS, que possuem uma carga tributária média de 22%!
Outro aspecto não mesmo
relevante está relacionado à burocracia para o pagamento dos impostos no
Brasil. Segundo estudos realizados pelo Banco Mundial, em 2012, para o preparo,
registro e pagamento de tributos são necessários, em média, 2.600 horas, enquanto
que na China, por exemplo, esse dispêndio de tempo não ultrapassa 340 horas.
Outro vetor para o
agravamento do denominado Custo Brasil está diretamente vinculado à baixa
produtividade das indústrias brasileiras, com mostra o gráfico da figura 2, elaborado
pelo McKinsey Global Institute, que apresenta um estudo comparado entre vários
Países.
Figura 2 – Produtividade
O Brasil precisa
urgentemente melhorar significativamente em várias frentes!
Entre
tantos outros desafios: reduzir a carga tributária, simplificar a
burocracia, investir pesadamente em sua infraestrutura, ampliando e aperfeiçoando a participação da iniciativa privada nos investimentos do setor, desenvolver projetos
destinados à educação para melhor qualificar a sua mão de obra e assim melhor
alavancar o desenvolvimento econômico do País que possui enormes
potencialidades !
Fonte:
Problema de
logística afetam competividade no Brasil – Revista da Madeira –
Edição nº 135 – maio de 2013.
Connecting Brazil to the world: A path to inclusive
growth - McKinsey Global Institute – May 2014.
Gerbeli, L.G. – in Custo logístico
consome 13,1% da receita das empresas – in Economia&Negocios –
31/10/2012 – www.estadao.com.br/noticias
- acesso 28/05/2014.
ANTAC – Boletim Anual de
Movimentação de Cargas – Brasília 2014.
Velloso, R. e outros in INFRAESTRUTURA:
Os caminhos para sair do buraco (2013) - disponível em http://www.raulvelloso.com.br/ - acesso 20/05/2014.
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Paulo Sérgio
Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ,
professor do IBMEC/RJ e autor das
seguintes obras didáticas:
• Administração de Estoques – Teoria e Prática, em
coautoria de E. Schwember – EditoraInterciência;
• Administração de Materiais – 4ª. Edição –
Editora Campus/Elsevier;
• Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial
– Editora Manole.