quarta-feira, 4 de junho de 2014

Custo Brasil

CUSTO BRASIL

   “O capital é como água, flui por onde encontra menos  obstáculo”
Delfim Neto.


Dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas acabam encarecendo os investimentos, onerando o fluxo de bens e serviços (tanto no que se refere ao mercado interno quanto para exportação), reduzindo a nossa competitividade, aumentando o desemprego, mitigando a mão de obra qualificada e emperrando o desenvolvimento do País. Eis aqui, uma definição clássica do denominado “Custo Brasil”!
Tal qual uma mão invisível, para lembrar Adams Smith, esse processo ao estilo “kafkiano” é um verdadeiro freio para a economia e o desenvolvimento do Brasil.
O chamado “Custo Brasil” é fator significativo na determinação dos preços dos produtos que refletem uma baixa competitividade no mercado internacional e mesmo traz reflexos no mercado interno que , na contramão, acaba importando muitos bens de consumo, principalmente dos Estados Unidos e da China, por serem muito mais baratos do que aqueles produzidos no próprio país!
O custo Brasil que destrói a nossa competitividade é resultado de muitos fatores. Um estudo realizado pela FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, produzido por Rabelo (2011), elenca vários componentes sistêmicos causadores da perda da competitividade da economia brasileira, dentre eles: burocracia, elevado custo do capital de giro, alta carga tributária; baixa capacidade da infraestrutura.
O custo da burocracia, calculado pelo autor do citado estudo, atinge 2,6% dos preços industriais. O custo do capital é comprometido com o alto spread cobrado pela rede bancária e também influenciado pela taxa SELIC. Como exemplo neste âmbito, o custo de capital de giro, considerando um taxa de juros reais de 2,8% ao ano, pode resultar em uma taxa anual de 19% para o tomador do empréstimo, especialmente em função do elevado spread bancário.
No quesito infraestrutura sua deficiência é gritante!
Como comentado em várias postagens desse Blog, a matriz de transporte do Brasil é grandemente concentrada no modal rodoviário com um agravante, pois somente 14% das estradas brasileiras são pavimentadas. O resultado é um custo logístico mais oneroso que também mostra reflexos no consumo de combustíveis e na manutenção de veículos – só no item pneus, esse tem uma durabilidade nas estradas brasileiras correspondente a 1/3 da durabilidade nas estradas americanas!
Na logística há grandes desafios que necessitam ser superados diariamente e que resultam em aumento de custos. Por exemplo, para fazer escoar a nossa produção de grãos até os portos com destino a exportação, além da carência de armazéns destinados a estocagem do produto o que resulta na perda de parte da produção, apesar da elevada produtividade nesse ramo do agro negócio, grande parte da safra é transportada pelo modal rodoviário o que representa um maior custo para os exportadores.
Além disso, a inexistência de uma infraestrutura portuária adequada acaba se refletindo em filas intermináveis de caminhões que chegam mesmo a atingir 27 quilômetros de extensão que ficam aguardando autorização para o desembarque da carga. Recentemente houve uma tentativa de melhoria do congestionamento no tráfego desses veículos com a criação de um sistema de agendamento para descarga para os veículos que se destinam aos portos de Paranaguá e de Santos.

No item tributação, uma empresa de porte médio no Brasil, por exemplo, precisa atender a 3.207 normas tributárias, segundo estudos realizados pelos IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. O mesmo Instituto registra que o arsenal legiferante brasileiro atua de uma forma voraz produzindo, em média, 46 normas tributárias por dia útil enquanto que a Secretaria da Receita Federal cria uma nova Instrução Normativa a cada 26 minutos!
Não há a mínima condição de uma empresa dominar tamanho arsenal de normas e procedimentos o que também acaba produzindo aumento de seus custos em face da necessidade de manter um plantel de assessores tributários ou contratar uma consultoria especializada na área para desvendar tamanha complexidade tributária! 
Todos esses meandros relacionados aos tributos e taxas se alinham para o Brasil possuir uma carga tributária que representa aproximadamente 36,42% do seu PIB (Produto Interno Bruto), segundo o IBPT, levando o País a ocupar a primeira posição entre os BRICS, que possuem uma carga tributária média de 22%!
Outro aspecto não mesmo relevante está relacionado à burocracia para o pagamento dos impostos no Brasil. Segundo estudos realizados pelo Banco Mundial, em 2012, para o preparo, registro e pagamento de tributos são necessários, em média, 2.600 horas, enquanto que na China, por exemplo, esse dispêndio de tempo não ultrapassa 340 horas.
Outro vetor para o agravamento do denominado Custo Brasil está diretamente vinculado à baixa produtividade das indústrias brasileiras, com mostra o gráfico da figura 2, elaborado pelo McKinsey Global Institute, que apresenta um estudo comparado entre vários Países.

Figura 2 – Produtividade
O Brasil precisa urgentemente melhorar significativamente em várias frentes! 
Entre tantos outros desafios: reduzir a carga tributária, simplificar a burocracia, investir pesadamente em sua infraestrutura, ampliando e aperfeiçoando a participação da iniciativa privada nos investimentos do setor, desenvolver projetos destinados à educação para melhor qualificar a sua mão de obra e assim melhor alavancar o desenvolvimento econômico do País que possui enormes potencialidades !
Fonte:
IBPT - Carga tributária brasileira é quase o dobro da média dos BRICS  in https://www.ibpt.org.br/noticia/ - acesso 30/05/2014.
Problema de logística afetam competividade no Brasil – Revista da Madeira – Edição nº 135 – maio de 2013.
Connecting Brazil to the world: A path to inclusive growth - McKinsey Global Institute – May 2014.
Gerbeli, L.G. – in Custo logístico consome 13,1% da receita das empresas – in Economia&Negocios – 31/10/2012 – www.estadao.com.br/noticias - acesso 28/05/2014.
Durão, M. in Custos logísticos voltam a crescer no País, diz pesquisa – http://exame.abri.com.br/economia/noticias/ - acesso 28/05/2014.
Da Silva, J – Logística e custo Brasil in www.agronoticasmt.com.br/artigos/ acesso 28/05/2014.
ANTAC – Boletim Anual de Movimentação de Cargas – Brasília 2014.
Velloso, R. e outros in INFRAESTRUTURA: Os caminhos para sair do buraco (2013) - disponível em http://www.raulvelloso.com.br/ - acesso 20/05/2014.
__________________________________________
Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
• Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – EditoraInterciência;
•  Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
•   Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.

Um comentário: