O crescimento mundial da internet foi
lento e gradual, especialmente em face das dificuldades e custos na aquisição
de equipamentos necessários para que um usuário pudesse navegar nas redes
existente.
Com os avanços
tecnológicos e consequentes reduções de custos dos equipamentos, esse ritmo de
crescimento foi acelerado. Por exemplo, em 2005 as estimativas indicam que
havia 1 bilhão de usuários operando nas redes; hoje esse volume atinge mais de
5 bilhões de indivíduos o que, em certa medida, representa cerca de 63% da
população mundial, estimada em 8 bilhões de pessoas.
O celular por exemplo, que recebeu um
elevado impulso tecnológico no seu desenvolvimento e otimização - em verdade
ele hoje é um computador em na palma da mão – foi um dos principais elementos
que produziram uma avalanche de novos usuários.
Hoje as comunicações e transferência de
dados fluem em todas as direções para as mais variadas regiões do planeta;
valendo registrar que no Brasil, atingimos a marca de 83% de usuários ativos
(CETIC.BR), em especial, em face da desestatização das empresas de
telecomunicação, antes sob a égide do Governo, sem capacidade de injetar
investimentos necessários para atender aos requisitos de uma demanda crescente
por parte dos usuários.
Claro que esses requisitos de aceleração
da demanda por serviços de comunicação e redes de dados, implicam em massivos
investimentos em tecnologia em suas infraestruturas básicas de apoio, como
servidores, cabos de fibra ótica, softwares, roteadores etc.
Convivemos hoje com uma vasta rede de
troca de dados, nas mais variadas atividades que operamos em nossas vidas.
Fazer pagamentos, enviar mensagens, efetuar transações bancárias, operar na
bolsa de valores na compra e venda de ativos, fazer pesquisas sobre determinado
assunto, comprar produtos via ecommerce etc.
Do mesmo modo além das operações
realizadas mediante o tão conhecido PIX, o qual considero como um grande
treinamento para o futuro uso do real digital, temos diversas outras transações
comerciais, tais como aferição dos estoques, precificação dos produtos,
acompanhamentos de entregas, controle das operações logísticas etc.
Esse processo é realizado de forma tão
banalizada hoje, que não nos danos conta de como ele efetivamente opera. Como
denominamos na área de operações, é a infraestrutura que existe por detrás de
todas as operações que garantem a sua efetividade, também conhecida como backdoor.
Há uma infinidade de equipamentos que são
responsáveis e dão suporte às transferências de informações e de dados gerados
em um computador, celular, tablet ou qualquer outro equipamento de comunicação,
para outra unidade que vamos denominar de receptora. Seja via cabo,
micro-ondas, fibra ótica ou qualquer outro meio físico disponível que garanta a
operacionalidade do sistema na sua inteireza.
O certo é que hoje, a internet está tão
inserida nas nossas vidas como a energia elétrica que move o nosso planeta, faz
operar fábricas, habilita vários meios de transporte, VLT, Metrôs, trens etc.
Examinemos em primeiro plano a denominada
“espinha dorsal da internet” também conhecidos como backbone, que são
responsáveis por interligar diversos servidores de internet localizados nos
mais longínquos pontos do nosso planeta. Essa espinha dorsal é constituída de
uma gama considerável de cabos, em sua maioria de fibra ótica que são
conectados aos servidores, computadores etc, formando uma grande rede que
permite interligar um computador a outro, independente da distância que se
encontre.
De forma geral, esses backbones podem interligar
vários locais de um mesmo país (backbone nacionais), vários países no mesmo
continente (backbones internacionais) e aqueles que conectam países de vários
continentes (backbones intercontinentais). Por exemplo o backbone conhecido como RND
(Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) reúnem universidades, instituições
educacionais e culturais, agências de pesquisa, hospitais de ensino e parques e
polos tecnológicos e foi o primeiro instalado no Brasil com interligação
internacional.
Esses backbones atendem um grande número de países por todo o planeta,
através de conexões junto à provedores de serviços de internet (ISPs) e outras
redes, nas mais variadas regiões. Entre os maiores deles, citamos: Level 3
Communications, Cogent Communications, Tata Communications, NTT Communications
e Telia Carrier, que têm presença global e oferecem serviços em muitos países
em todos os continentes.
Para avaliarmos a extensão e volume de serviços desses backbones,
tomemos como exemplo um dos maiores deles, que é a Level 3 Communications, que
possui uma vasta rede de fibra ótica conectando várias cidades e países ao
longo do nosso planeta.
Nos EUA essa rede, que tem uma presença significativa, oferece serviços
de transporte de dados, comunicações de voz e soluções de nuvem para os mais
variados clientes do país.
Do mesmo modo, a sua extensão Latina Americana, também fornece
serviços para os países da América do Sul, tais como Brasil, Argentina, Chile
entre tantos outros.
Na Europa, essa rede atinge países como Reino Unido, França, Alemanha,
Itália, entre outros; na Ásia: Japão, China, Coreia do Sul, entre outros; na
África: África do Sul, Nigéria etc. e na
Austrália e Oceania, atende à Austrália e Nova Zelândia.
Como pode ser verificado, a potencialidade dessas redes é enorme e,
por via de consequência, riscos não são descartados.
Hoje,
praticamente, ninguém se preocupa com a internet, exceto nas ocasiões em que a
rede contratada por algum usuário apresente algum problema. Poucos se dão conta
da fragilidade existente nesse meio tão importante para a economia mundial como
um todo. Basta lembrar que as transações operam em todas as direções, atingindo
todos os países do nosso planeta e por elas fluem uma vasta gama de
informações, transações bancárias, contratos, autorizações, rastreamento de
produtos, transferência de dados etc.
Na verdade, a possibilidade de blackout generalizado na internet, é
considerada pelos especialista, de probabilidade muito baixa, haja vista que a
concepção da própria internet surgiu a partir da criação da ARPANET (Advanced Research
Projects Agency Network - Rede da Agência para Projetos de Pesquisa Avançada),
construída em 1969 para transmissão de dados militares sigilosos e interligação
dos departamentos de pesquisa nos Estados Unidos, dentro de uma pespectiva de
sistema descentralizados para garantir, diante de situações adversas, a
possibilidade de comunicação fluir entre as partes interessadas, mesmo na
ocorrência de um ataque nuclear.
Dentro desse conceito a internet, que é composta por uma rede global
de dispositivos e servidores interconectados, seguiu na mesma linha da ARPANET
(sua “matriz mãe”) e nesse sentido tem uma certa robustez à falhas, visto que a
interrupção em uma determinada área leva a que a rede se reestabeleça
automaticamente com objetivo de evitar interrupções generalizadas. Do mesmo
modo, o sistema possui mecanismos de backup e planos de contingência.
Mas tudo isso não descarta a possibilidade de um “cisne negro” de
Taleb, e nesse sentido os principais risco de ocorrência envolvem por exemplo:
Ataques cibernéticos: que poderão ser direcionados a infraestrutura
crítica da internet, como roteadores e servidores, causando interrupções nas
redes;
Desastres naturais: Terremotos, furacões e outros desastres naturais
são passiveis de danificar ou destruir equipamentos de rede e infraestrutura de
comunicação, causando interrupções na internet;
Falhas de hardware: Problemas com componentes críticos, como
dispositivos de armazenamento e servidores, podem causar problemas na internet;
Além de tantos outros, como por exemplo, danos a um cabo submarino ou
mesmo uma sabotagem, bem ao estilo do que aconteceu no gasoduto Nord Stream,
assim com uma falha do sistema elétrico provocada por algum problema em
equipamentos ou mesmo em decorrência de uma tempestade geomagnética que pode causar
transtornos nos mais diversos equipamentos eletrônicos; assim como a eventual
possibilidade de um âncora de algum navio simplesmente içar um cabo de fibra
ótica que interliga dois continentes!
Assim, um eventual problema, quer seja parcial ou mais generalizado,
poderá causar um verdadeiro caos em todos os campos. Apenas para dimensionar a
gravidade da situação, basta lembrar da ocorrência da suspensão da rede de WhatsApp
no Brasil, promovida por uma decisão judicial desastrada. Não precisamos citar
os transtornos decorrentes!
Do mesmo modo, uma miríade de situações entrará em colapso, como por
exemplo, suprimentos de alimentos e demais produtos, muito especialmente em
função de hoje, grande parte das cadeias logísticas estarem interconectadas
através de sistemas que trafegam pela internet.
Igualmente teremos um caos na área financeira, principalmente quando a
moeda digital estiver em franca utilização. E não precisa ir muito longe,
bastando para isso pensar na paralização das transações realizadas hoje via
PIX. Para ter dimensão desse problema, vale citar que no dia 20/12/2022 foram
realizadas 104,1 milhões de operações via PIX. Imaginem o caos formado!
Outra área também crítica é a comunicação, hoje realizada via
aplicativos como WhatsApp, Telegram, Signal etc que operam utilizando as redes
de internet.
O transporte de passageiros, sofrerá também um elevado impacto,
especialmente o transporte aéreo, basta lembrar, por exemplo, do recente caso
ocorrido nos Estados Unidos com o sistema de controle de tráfego aéreo da Federação
Federal de Aviação que levou ao cancelamento de diversos voos. assim como um
volumoso número de aeronaves com atrasos nas suas rotas.
Enfim, há uma vasta gama de situações que poderão acabar em um grande
caos, caso tenhamos falhas críticas nas redes de internet e não é possível
mensurar, na sua totalidade, o nível de problemas que poderão advir.
Daí a velha máxima: “A melhor segurança é a eterna vigilância!”