terça-feira, 24 de janeiro de 2023

AI Revolution

AI Revolution


Pessoalmente comparo a revolução que estamos convivendo através do uso intensificado da Inteligência Artificial (AI), culminando com a criação do primeiro protótipo mais avançado, qual seja a GTP-3 (OpenAI), que opera mediante uma conversação “homem-máquina” através da linguagem natural, a dois eventos igualmente impactantes e significativos.

O primeiro deles, leva-me a retornar a Alexandria, quando no reinado do Grego Ptolomeu, foi, criado o primeiro acervo geral do conhecimento humano, erguido em 331 a.C, que ficou cunhado como Biblioteca de Alexandria.

Nela estava reunido uma vastíssima coleção de pergaminhos das mais variadas regiões do nosso planeta e abrangendo todas as áreas do conhecimento humano disponíveis a época.

Comparativamente e, num paralelismo, reputo-a hoje como o Big Data, o verdadeiro combustível que faz mover, na velocidade da luz, os diversos algoritmos de machine learning, cada vez mais sofisticados e complexos.

Outro evento igualmente importante, segundo a minha ótica, aconteceu em 1439, quando Johannes Gutenberg inventou um meio mecânico de impressão por tipos móveis, que consistia na montagem de placas nas quais eram inseridas os diversos caracteres das palavras, formando assim frases e parágrafos e então estampados em uma folha de papel; exercendo um impulso fundamental para a divulgação do conhecimento, antes hermético e só disponível para quem tivesse muito dinheiro ou participasse de comunidades religiosas fechadas.

Isso acontecia dado que as obras eram compiladas pelos denominados “copistas”, também conhecidos como monges copistas, que possuindo uma excelente caligrafia e um elevada cultura, operavam como verdadeiras impressoras humana, copiando literalmente as obras, transformando essas cópias em livros especialmente produzidos, utilizando peças de carneiro ou cabra, devidamente tratadas e denominadas de pergaminhos, onde imprimiam seus escritos, utilizando para isso tintas e penas de gansos.

Esses fatos históricos dos monges copistas, em certa medida, são explicitados em duas obras magníficas de Humberto Eco, escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano, em suas obras: “O nome da Rosa” (história se passa no século XIV, em um mosteiro beneditino na Itália) e “Baldulino” (história de um monge beneditino e mestre de noviços em um mosteiro).

Gutemberg acabou revolucionando o conhecimento, através da sua massiva divulgação, a começar por sua primeira publicação que ficou igualmente famosa a Bíblia e assim abrindo espaço para que grandes obras estivessem mais acessíveis a uma vasta gama de pessoas. Daí comparar a invenção da imprensa e a explosão do conhecimento ao Google e agora, mundo se depara com IA ​​generativa, que está progredindo impetuosamente; onde a mais recentes das tecnologias de processamento de linguagem natural, desenvolvida pela OpenAi, denominada de GPT- 3, está criando um verdadeiro frenesi no seu uso, por todas as raças nas mais longínquas regiões do nosso planeta.

Hoje, utilizando-se as funcionalidades da tecnologia da GPT- 3, há um vasto campo de aplicações, como por exemplo, a facilidade na escrita de uma obra, como: “The Eyes of the Dragon"; "The GPT-3 Manifesto" escrito por Emma Watson; "Code of Conduct" e "The Last Human", romance de ficção científica; "The Secret of the Island" romance de mistério e aventura. Todas essas obras foram escrita pela GPT-3, mediante um treinamento específico envolvendo o foco  do romance. Por exemplo, a GPT-3 foi treinada para desenvolver obras de mistério e aventura; daí, após esse treinamento ela poderá produzir obras sobre o tema treinado.

É evidente que o resultado produzido pela GTP-3 não é o produto definitivo e, por via de consequência, terá que sofrer as devidas adequações e revisões do autor do projeto que submeteu a AI para auxiliá-lo na sua elaboração.

Não haverá limites nesse universo!

Questões encontram-se em acalorados debates quanto a real originalidade dessas obras, mesmo sabendo que seus autores destinaram um tempo para ajustá-las a partir dos textos gerados pela OpenAI.

As preocupações já existem, especialmente no meio universitário, onde os professores estão apreensivos quanto ao plágio, em especial devido a certa dificuldade na sua detenção e nesse sentido já existe uma versão Beta de um aplicativo, denominado de ZeroGTP que é capaz de fazer uma varredura no texto e verificar se o mesmo foi gerado pela AI GPT-3!

Do mesmo modo, como explicitou o jornalista Stephen Marche, em artigo publicado por The Atlantic: “questões práticas estão em jogo: os departamentos de humanas julgam seus alunos de graduação com base em suas redações. Confere-se um título de doutor com base na redação de uma tese. O que acontece quando ambos os processos podem ser significativamente automatizados?” (op.cit. in Adital in “O GPT-3 desafia a inércia acadêmica” – 17/01/2023).

Hoje artigos dos mais diversos estão sendo produzidos por pesquisadores com ajuda dessa ferramenta. Por exemplo, em versões denominadas de pré-print (quando o artigo ainda não foi revisado por pares) publicado na bioRxiv (The Preprint Serve for Biology) - pesquisadores apontam que o chatbot de IA pode escrever falsos resumos de artigos científicos que chegam a convencer os cientistas, visto que muitos não conseguiram identificar que o artigo foi escrito pela GPT-3.

Como bem explicita os autores do artigo da bioRxiv, publicado no 27 de dezembro de 2022: “Os limites do uso ético e aceitável de grandes modelos de linguagem para ajudar a escrita científica ainda precisam ser determinados”. Do mesmo modo recomenda: “A avaliação de resumos para periódicos e conferências médicas deve adaptar-se a política e a prática para manter padrões científicos rigorosos” e daí sugerirem “a inclusão de detectores de saída AI no processo editorial e divulgação clara se essas tecnologias forem usadas.”

Estamos diante de novos processos e novas ferramentas que tanto poderão ser usados para o bem quanto para produzir efeitos danosos, nas mais diversas áreas do conhecimento humano, inclusive nas tão conhecidas falsas narrativas, também conhecidas como “Fake News”.

Como escrevi em artigo anterior (GTP-3, GPT-4 ... GPT-n e a Evolução Tecnológica): “não adianta ir contra essa onda progressista e tecnológica, ela em verdade, é um verdadeiro Tsunami tecnológico que vai engolir todos aqueles que se oporem a ela, ou, examinando-a sobre o prisma da teoria da Evolução de Darwin, ou evoluímos em um processo adaptativo ou seremos tragados por ele”! Do mesmo modo, quando lembrei “aos críticos e céticos” que as tentativas de bloquear  os avanços da ciência e da tecnologia, a exemplo dos Luditas, , não impedirão o seu progresso!

O que precisamos desenvolver são novas abordagens adaptativas que, garantindo a utilização do aparato tecnológico, não nos leve a cair em uma cilada que conduza a humanidade a destruição da própria espécie.

O Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui.” - Shakespeare in A Tempestade.




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