terça-feira, 25 de outubro de 2022

SUSTENTABILIDADE

EXPLOSÃO DO NORD STREAM

CONSEQUÊNCIA AMBIENTAIS 


Vários pesquisadores estão investigando a possibilidade de as explosões nos gasodutos Nord Stream tenham causado danos ambientais em face dessas explosões terem rompido os oleodutos no Mar Báltico e ter ocorrido nas proximidades da ilha dinamarquesa de Bornhholm, uma área onde agentes de guerra química armazenados foram despejados em 1947 como parte da desmilitarização da Alemanha no pós-guerra.

O certo é que cerca de 32.000 toneladas de armas químicas, contendo 11.000 toneladas de agentes ativos de guerra química, foram descartadas no local, conforme informa Hans Sanderson, cientista ambiental da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

É evidente que, com a ação do tempo, o envoltório de metal que protege o material descartado, já apresenta sinais de corrosão, permitindo, por via de consequência que o seu conteúdo esteja contaminando o sedimento circundante.

A grande preocupação desses pesquisadores está voltada para o fato de que e a expulsão violenta de metano existente no oleoduto rompido possa prejudicar a biodiversidade marinha. Os contaminantes incluem o isótopo radioativo césio-137, produtos químicos retardadores de chamas chamados éteres difenílicos polibromados e metais pesados, incluindo mercúrio, cádmio e chumbo.

Embora os resultados das pesquisas sobre os possíveis danos causados pelo vazamento do Nord Stream vão demorar a preocupação é especialmente gerada pelo fato de que este é um sedimento, altamente poluído, se disperse no ambiente marinho, causando um grave dano ambiental.

Fonte:  Nature News - 21 October 2022.



sábado, 22 de outubro de 2022

A Caixa de Pandora dos Algoritmos.

A CAIXA DE PANDORA DOS ALGORITMOS.


Parafraseando a velha e conhecida provocação da Esfinge de Tebas que desafiava os passantes, podemos escrever: “Decifra-me ou lhe retirarei desta plataforma!”.

Com a proliferação de algoritmos que habitam hoje, o mundo das Big Techs, deveremos estar de acordo com os seus preceitos ou seremos banidos das redes sociais, em função das políticas que lhes foram implementadas.

A censura mediante o uso de softwares de inteligência artificial (AI), que abastece seus algoritmos de machine learning, passou a ter uma presença universal, em todas as plataformas de mídia que nos conectamos!

Um dos grandes problemas encontra-se no viés, usados por esses algoritmos, que nos cerceiam ou nos conduzem. Por exemplo, ao realizarmos uma pesquisa através dos mecanismos de buscas do Google ou do Bing (Edge) , passamos a  sofre um processo de filtragem, promovida por esses algoritmos que, ao final, acabamos em um  verdadeiro processo de afunilamento do nosso conhecimento. Assim, cada vez mais, o espectro  da nossa pesquisa vai se reduzindo, tal qual um filtro/funil que conduz um líquido até um recipiente.

Em artigos que publicamos em nosso Blog (https://professorgoncalves.blogspot.com) : “Algoritmos, mestres e senhores” (28/Nov/2018) e “Prisioneiros dos Algoritmos” (03/Jan/2022), tratamos desses perigos!

A palavra algoritmos foi criada pelo persa, al-Khawarizmi; matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo; um erudito da Casa da Sabedoria em Bagdá.  No contexto de uma definição clássica produzida pela Universidade de Oxford, temos que: “um algoritmo é um conjunto de regras ou instruções bem definidas para solução de um problema.”

Com a massiva produção de dados, gerados na comunicação e entretenimento, Youtube, Facebook (Meta), ferramentas de busca (Google), Instagram, WhatsApp etc, criando, por via de consequência, um massivo volume de dados (Big Data), foi então possível potencializar os algoritmos.

Nesse contexto, os avanços da inteligência artificial nos campos de aprendizado máquina (machine learning)  e aprendizado profundo (deep learning), proliferou de tal forma que passou a ser uma verdadeira “doença tecnológica, muito especialmente porque eles tem a possibilidade de aprender ao cabo de cada iteração que realizam e, levando-se em conta que eles não sofrem pressões humanas, desapontamentos psicológicos, problemas emocionais ou conjugais e nem sentem fadiga, seguramente, podem operar 24 horas por dia e sete dias por semana, melhorando assim, de forma exponencial, a sua resposta de performance.

Como comentei em meu Blog: ...”em verdade, como explica Molina, pesquisador de inteligência artificial aplicada da Universidade de São Carlos II – Madri: “os algoritmos foram desenhados para resolver problemas concretos, mas não para compreender o que está acontecendo ao seu redor, só veem sinais e aplicam sempre a mesma solução. As máquinas são totalmente autistas, e lhes dar uma compreensão de seu entorno é muito complicado” (op. cit. Gonçalves, Blog - 2018).

Por exemplo, nos EUA, os juízes criminais têm como “auxiliar”, um programa de inteligência artificial denominado COMPAS (Correction Offender Management Profiling for Alternative Sanctions); um sistema de gerenciamento do perfil dos infratores com objetivo de sugerir sanções alternativas.

Esse sistema destina-se a avaliar o risco e a previsão de criminalidade para os réus nas audiências prévias ao julgamento. O algoritmo de AI desse sistema baseia-se na análise de 173 variáveis, com a finalidade de calcular a probabilidade de reincidência criminal de cada indivíduo, numa escala de 1 a 10.

Considerando que a base de dados de aprendizado desses algoritmos foi construída com informações recebidas do departamento de polícia, as perguntas usadas na pesquisa inicial do COMPAS, acabavam construindo um viés humano considerável!

O resultado da análise desse sistema, chegava a tal ponto de perpetuar recomendações, inadvertidamente racistas, levando a que os negros recebam atributos negativos com uma pontuação muito maior do que os meliantes brancos.

Outro caso clássico que também cito nos artigos referenciados, aconteceu em 2017, quando a polícia de Israel acabou prendendo um trabalhador palestino, que foi interrogado por diversas vezes, pelo simples fato de ter postado uma foto no Facebook, ao lado de um trator com os dizeres: “bom dia” em árabe.

Como o software de AI não tinha essa palavra em seu repertório, ele a associou à palavra “atacar” em hebraico que é muito semelhante. Somente após a descoberta do erro foi que esse palestino foi liberado!

Com bem descreve Weizenbaum do MIT (op. cit. Gonçalves, Blog - 2018): “nunca deveríamos deixar que os computadores tomassem decisões importantes, porque nunca terão as qualidades humanas como a compaixão e a sabedoria.”

O certo é que hoje, convivemos com máquinas que funcionam como verdadeiros Big Brothers do George Orwell e mesmo, frequentemente somos tolhidos por verdadeiros Ministérios da Verdade (Orwell e, sua obra 1984).

Assim, tal qual o mito de Prometeu, considerado um defensor da humanidade, que ao roubar o fogo de Héstia e entregá-lo aos mortais (fornecimento de tecnologia) levou a Zeus, temendo que os mortais ficassem tão poderosos quanto os próprios deuses, a puni-lo, deixando-o amarrado a uma rocha por toda a eternidade, enquanto uma grande águia comia todo dia seu fígado, que se regenerava!

A hora é de uma grande reflexão!

“Liberdade, Liberdade abra as asas sobre nós!”

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

 

SUPPLY CHAIN
CADEIAS DE SUPRIMENTOS - SEUS REFLEXO NA INFLAÇÃO.

Em artigos que publicamos nesse espaço: Cadeias Globais de Suprimentos Alimentares em Risco (28/05/2022) e Embargos, Geopolítica e Cadeias de Suprimentos (27/05/2022), havíamos comentado que os eventos que se desenvolveram em todo o planeta, iniciando com a pandemia , conjugada posteriormente  com o  conflito entre a Rússia e a Ucrânia, indiscutivelmente causariam grande impacto no suprimento de uma grande variedade de produtos.

Como bem explica o Estudo Especial efetuado pelo Banco Central: ​“As cadeias globais de suprimentos foram impactadas de forma inédita durante a pandemia de Covid-19. Os gargalos gerados nas cadeias repercutiram negativamente na atividade industrial e na inflação em diversas economias no mundo, inclusive no Brasil. Entre os principais efeitos no país, destacam-se as paralisações de fábricas por falta de componentes, especialmente no setor automotivo, e o persistente aumento de preços dos produtos importados, que perdura desde março de 2021”

O Estudo, disponível no link que deixo abaixo, selecionou um conjunto de variáveis, devidamente classificadas em três vetores:  preços de transporte, tempo de entrega dos fornecedores e escassez de insumos, objetivando “facilitar a análise e a interpretação da dinâmica de cada indicador”.

A metodologia a seguir imposta, resultou no cálculo de um “índice que agrega esses indicadores, com o objetivo de identificar o nível de pressão sobre a cadeia de suprimento do país”.

Os reflexos estão mostrados na figura.

Fonte: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/estudosespeciais




quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Tecnologia - Bases de lançamento de veículos espaciais.

TECNOLOGIA

BASES DE LANÇAMENTO DE VEÍCULOS ESPACIAIS 


Após o lançamento do famoso Sputinik I pela Rússia, em 4 de outubro de 1957, uma avalanche de artefatos foi lançada ao espaço, entre eles, um considerável volume de satélites, montagem da Estação Espacial Internacional (ISS) e agora em construção a estação espacial chinesa Tiangong (Palácio Celestial – em chines).

Para esses projetos, são necessários bases destinadas ao lançamento de veículos espaciais. Após o famoso Sputinik I que partiu da base de Baikonur (Rússia) uma infinidade delas foram construídas, valendo registrar que, junto com a base de Cabo Canaveral , essas eram as únicas inicialmente disponíveis.

Porém, com os avanços das tecnologias, a divulgação de muitas pesquisas e a importância da “ocupação do espaço sideral” como uma força estratégica e geopolítica, as bases de lançamento se proliferaram.

No mapa adaptado daquele produzido pela Visual Capitalist, são mostradas todas as bases operacionais de lançamento de veículos espaciais distribuídas por todo o planeta.

Vale registrar que a nossa a base de Alcântara (Maranhão), por ser proximal à linha do Equador, apresenta uma grande vantagem competitiva para os VLS (Veículos Lançadores de Satélites) em face de promover uma economia de 30% no combustível utilizado para o lançamento de satélites.  Mais uma vantagem que desponta no nosso Brasil!

Fonte da figura ; Visual Capitalist (2022).




terça-feira, 18 de outubro de 2022

A nova rota pelo Ártico é viável?

 A nova rota pelo Ártico é viável?


Com as mudanças climática em curso e consequente redução das geleiras no Ártico, abriu-se a possibilidade de uma nova rota alternativa, viabilizando a passagem de embarcações pelo Oceano Ártico.

Diante desse quadro, Kierkenes (Noruega), última cidade antes da fronteira Noruega-Rússia, que fica a cerca de 200 km de Murmansk, o principal porto do mar de Barents, assim como Adak, que desempenhou um papel importante durante a Guerra Fria como centro de vigilância dos EUA no rastreamento de submarinos, são considerados como verdadeiros hubs logísticos no curso da navegação pelo oceano Ártico.

Com o derretimento do gelo marinho na região e consequente possibilidade de acesso às abundantes reservas de petróleo e gás, um dos setores que são bastante beneficiados com essas condições climáticas favorável é o de Petróleo e Gás, em face da abertura para a exploração desses produtos, diante a redução da calota polar, permitindo, por via de consequência, abrir um leque de possibilidades exploratórias na região do Ártico.

No que se refere à logística de transporte propriamente dita, as rotas pelo Ártico podem encurtar significativamente a navegação, comparadas com as rotas que utilizam como passagem o Canal de Suez.

Por exemplo, o trajeto de Roterdã (Holanda) até Yokohama (Japão) que utiliza normalmente o Suez como passagem; se o trajeto for realizado via ártico, esse torna-se cerca de 7.100 quilômetro menor e é claro, realizado em menor tempo!

Do mesmo modo, uma embarcação saindo da China (Porto de Dalian) em direção à Holanda (Porto de Roterdã), realiza uma viagem de aproximadamente trinta dias utilizando o Canal de Suez, se utilizar a passagem pelo Ártico, esse percurso passa a ser realizado em aproximadamente quatorze dias!

Entretanto, a Maesk, a maior empresa de transporte de contêineres do planeta, embora considere que o trajeto via ártico seja mais curto do que as trajetórias que utilizam o Suez, não o examinam como comercialmente viável! Isso ocorre, segundo a empresa, em face das condições climáticas visto que o trajeto alternativo só está disponível por cerca de três meses por ano e que pode ser ainda mais reduzido em função das condições de tempo local, produzindo assim, por via de consequência, mais um vetor de incerteza logística na equação do transporte marítimo.

Apesar de todo esses entraves climáticos e operacionais, a China projeta ambições, à exemplo da Belt and Road Iniciative (A Nova Rota da Seda), e tem como objetivo desenvolver novas rotas via polar e para isso já as denominou de “Rota de Seda Polar”.

Dois aspectos adicionais devem ser considerados no âmbito da exploração da navegação pelo ártico: um volume crescente de tráfego marítimo através das águas cristalinas do Ártico pode acabar causando danos aos ecossistemas marinhos de crescimento lento e vida longa. Do mesmo modo há possibilidades da ocorrência de um desastre ambiental, tal qual o caso emblemático do navio Exxon Valdez, que despejou 41 milhões de litros de petróleo em uma área de vida selvagem no Alasca (EUA), o que poderá ser devastador para a biodiversidade marinha do Oceano Ártico.


 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

TECNOLOGIA - O poder do GPS e suas fragilidades.

 

O Poder do GPS e suas Fragilidades


O sistema GPS (Global Position System ou Sistema de Posicionamento Global) passou hoje a ter mil e uma utilidades, tamanha a sua ampla variedade de uso, nas mais diversas aplicações, tais como: na navegação aérea, no transporte terrestre, no rastreamento veicular, no controle de colhedeiras agrícolas, no estudo do comportamento de aves migratórias e animais,  sistemas de  carregamento e  descarregamento de contêineres por processos automáticos com uso desse equipamento para guiar os guindastes etc.

Esse sistema foi concebido inicialmente a partir do lançamento do primeiro satélite que orbitou o nosso planeta e lançado pelos russos, o famoso Sputnik I, em 4 de outubro de 1957 que levava cerca de 98 minutos para orbitar a Terra em seu caminho elíptico.

O lançamento do Sputnik acabou impactando substancialmente o desenvolvimento científico e tecnológico, inicialmente, com grande vigor na área militar diante da guerra fria, quando então surgiu uma grande preocupação dos americanos sobre a possibilidade de espionagem através do espaço, com o uso de satélites.

O projeto inicial de desenvolvimento do GPS tinha objetivos meramente militares. Entretanto, no governo de Ronald Reagan, em face do grave acidente ocorrido com o avião da Korean Airlines que saindo de Nova York com direção a Seul, foi abatido pelo sistema de defesa russo, por ter se distanciado da sua rota original, por erro de trajetória, invadindo o espaço aéreo da Rússia, o então presidente dos Estados Unidos, expandiu o seu uso para o campo civil.

O sistema funciona com o apoio de uma gama de satélites localizados numa altitude de 20 quilômetros, permitindo assim, fornecer informações de geolocalização de qualquer objeto, desde que possua um receptor de GPS; onde essa geolocalização é obtida mediante o cruzamento de dados de quatro satélites.

Mediante o uso de um sistema de coordenadas cartesianas tridimensional e considerando que os satélites marcam o mesmo horário, utilizando, por precisão relógios atômicos, esses transmitem sua posição e o “delay” nos horários de cada um deles recebido pelo receptor, permite calcular a distância de cada satélites e assim mediante sofisticados cálculos matemáticos que levam em conta inclusive a teoria da relatividade de Einstein, torna possível a localização do objeto que contém o receptor de GPS.

A questão da precisão é de suma importância, como relata Donald Sullivan do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos (NIST): “um atraso de três nanosegundos no relógio de um satélite vai representar um erro de um metro no posicionamento indicado” pelo GPS.

Os consideráveis avanços científicos e tecnológicos permitiram, não só lançar um maior número de satélites, como também aprimorar o índice de precisão na geolocalização por GPS, assim como a ampliação de seu uso, nos mais variados ambientes. Por exemplo, no sistema de navegação do UBER que todos conhecemos.

Por se tratar de elemento estratégico no campo da geopolítica, as grandes potências, com base na tecnologia existente, passaram a fazer novas pesquisas e projetaram sistemas próprios, como o GLONASS (sistema de localização global do governo russo), o BeiDou do governo chinês que começou a operar em 2018. Do mesmo modo, a União Europeia desenvolveu o sistema Galileo de uso civil.  A Índia possui o seu próprio sistema de GPS que é conhecido por Navic, assim como o japonês, denominado QZSS.

Como todos esses sistemas são apoiados em constelações de satélites que orbitam o nosso planeta e possuindo uma massiva e complexa eletrônica embarcada, eles passam a apresentar fragilidades sistêmicas, a começar pela possibilidade não descartada de ataques de hackers ou mesmo influência das denominadas tempestades geomagnéticas, em face das grandes erupções solares.

Basta lembrar, como relatei aqui, a queda de 40 satélites do projeto Starlink do Elon Musk, motivadas por recentes despachos de massa coronal produzida pelo Sol que desenvolve o denominado “vento solar” que provoca distúrbios no campo magnético do nosso planeta. Vale ressaltar, conforme estudos realizados por pesquisadores nos EUA, que um colapso do sistema GPS promoveria um prejuízo de US$1 bilhão por dia, na economia americana.

A verdade, como explicado aqui e no meu Blog, em tema específico: “A fragilidade dos Sistemas Complexos”, os avanços tecnológicos abrem um leque de fragilidades que precisam ser examinadas e mitigadas.

Imaginem um evento danoso no qual, uma forte erupção solar venha a provocar mutações severas no nosso campo magnético, colocando por via de consequência, o sistema de posicionamento global (GPS) fora de operação. Como ficará o fluxo de aeronaves que operam mediante o uso desse sistema?

E, navegando nesse “pálido ponto azul” como  Carls Sagan (1990) batizou o nosso planeta, ao observar uma foto tirada pela sonda Voyager 1, na infinitude do universo, aproveito a ocasião para parafrasear Arnold J. Toynbee (A study of history):  “Tornamo-nos deuses na tecnologia, mas permanecemos macacos dependentes dela!” 



domingo, 9 de outubro de 2022

Big Brother Global - O avanço no controle da mobilidade e privacidade.

 

BIG BROTHER GLOBAL
O avanço no controle da mobilidade e privacidade.



Twitter Paper: 

Criei o termo “Twitter Paper” com a finalidade de resumir, em poucas linhas, artigos longos que disponibilizo nesse espaço. No “Big Brother Global” abordo e discuto as consequências da instalação, em nosso planeta, uma quantidade superior a um bilhão de câmeras de vigilância, em sua maioria de fabricação chinesa. Adicionadas ao “Capitalismo de Vigilância” (Zuboff - 2019) que, em certa medida, vem invadindo a nossa privacidade pelas Bigs Tech; há a possibilidade de espionagem asiática (ver artigo “Uma invasão furtiva no planeta”) e, numa tentação totalitária, mesmo em democracias, da vigilância e controle dos cidadãos.

Artigo:

A proliferação de câmeras de vídeo por todos os espaços urbanos, edifícios, corredores, estádios, supermercados e demais áreas públicas, aliadas aos softwares de visão computacional e os algoritmos de reconhecimento facial, acabam colocando em xeque a nossa privacidade e abrindo um leque de oportunidade para o controle das pessoas, especialmente nos grandes centros urbanos.

Estudos realizados pela McKinsey, uma das maiores consultorias do mundo, mostraram o grande fluxo migratório de pessoas para os grandes centros urbanos. A constatação hoje é de que as áreas urbanas sofreram um grande afluxo de habitantes, apresentando um crescimento elevado. Estimativas indicam que até o ano de 2050, a população urbana atingirá um excepcional percentual de 68% de toda a população mundial.

Essa densidade demográfica acaba causando sérios problemas em várias frentes, como por exemplo: na mobilidade urbana, na segurança pública, no necessário incremento da infraestrutura básica (energia, saneamento, serviços de saúde pública, serviços de limpeza urbana etc.).

Para manter certo controle sobre esse fluxo populacional nas cidades, considerando a disponibilidade tecnológica existente, uma massiva instalação de câmeras de segurança, em diversos pontos estratégicos e destinado ao uma série de finalidades, acabou se propagando por todos os lados!

Um levantamento realizado pela Comparitech (11/07/2022), mostra uma classificação das principais cidades do mundo com maior volume de câmeras instaladas. São denominadas câmeras de Circuito Fechado de TV ou em inglês CCTV (Closed Circuit Television) que consiste em um sistema de monitoramento com câmeras distribuídas e conectadas a uma central de controle, onde as imagens são registradas, gravadas e disponibilizadas através de monitores.

Na citada publicação, excluindo a China e considerando as regiões com maior densidade de câmeras instaladas temos: Indore, Hyderabad, Delhi, Chennai, Cingapura, Moscou, Bagdá, Londres, São Petersburgo e Los Angeles, são as cidades mais vigiadas!

Estimativas realizadas pela IHS Markit (fusão da Information Handling Services (IHS) e a Markti) concluíram que existiam até o final do ano passado (2021), 1 bilhão de câmeras de vigilância em todo o mundo. A China é o país de maior controle por sistemas visuais do planeta. Com a sua gigantesca população, ela possui 54% de todas as câmeras instaladas no planeta e pretende aumentar ainda mais o potencial de controle de seus cidadãos.

Dado o seu regime totalitário, a vigilância dos cidadãos chineses é exacerbada, bem ao estilo do “Big Brother” da famosa obra de George Orwell denominada de “1984”. Através delas o PCCh (Partido Comunista Chines) pode controlar cada cidadão no curso de suas atividades diárias!

O sistema é tão sofisticado dado que, utilizando algoritmos de reconhecimento facial, essa vigilância controlando tudo e a todos pode, por exemplo penalizar chineses que venham a atravessar uma rua fora da faixa de pedestres, verificar os saques efetuados pelos clientes em caixas eletrônicos e uma variedade de comportamento que realizam no meio social.

É importante registrar que uma gama considerável de câmeras produzidas na China, como destacamos no artigo publicado nesta plataforma denominado: “Uma invasão furtiva no Planeta” e disponibilizado no dia 05/10/2022, encontram-se instaladas em vários pontos estratégicos nos mais diversos países: áreas militares, serviços públicos etc.

Para um cidadão que vive em um país livre e democrático, o processo de controle do PCCh chega a níveis de paranoia; valendo registrar que esse processo está se espalhando por todos os países do nosso planeta.

Para o leitor interessado, o vídeo abaixo, elaborado pelo The Economist, apresenta a tecnologia de vigilância via reconhecimento facial utilizado na China.

 https://youtu.be/lH2gMNrUuEY

“Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós.” (Samba enredo da Imperatriz Leopoldinese/RJ)

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Uma invasão furtiva no planeta.

UMA INVASÃO FURTIVA NO PLANETA 


Introdução

 Há um jargão popular na área da tecnologia da informação que é traduzido como “os dados são o novo petróleo”. O motivo é simples, os avanços da Inteligência Artificial (AI) e seus sofisticados algoritmos, dependem substancialmente da coleta massiva de dado; tal qual a indústria petroquímica necessita do petróleo. Algoritmos de “machine learning” tem “fome” por dados!

 É certo que as Bigs Tech possuem um volume gigantesco de dados que são coletados à cada segundo, todas as vezes que um usuário acessa uma rede social ou utiliza aplicativos para envio de mensagens etc.! Esse massivo volume de dados é classificado e armazenado nos mais diversos servidores dessas empresas, principalmente nas grandes corporações ligadas à tecnologia da Informação, como Google, Meta, Microsoft, Amazon etc.

 Não é fantasia ou delírio afirmar que as Bigs Tech conhecem os usuários das suas redes com uma profundidade muito maior do que possamos imaginar! Basta citar o famoso caso da TARGET, uma das maiores empresas varejistas dos EUA, que disponibiliza diversos produtos, desde eletrônicos a roupas. Utilizando-se de algoritmos de aprendizado máquina, eles conseguiram determinar com precisão, que uma adolescente estava grávida, baseado nas suas incursões nas redes sociais, trocas de emails e sites que visitava; o que causou um grande constrangimento para o seu pai que havia ameaçado processar esse varejista!

 Essa coleta de dados das Big Tech é hoje, uma verdade inconveniente que, em certa medida, vem sendo coibida através da elaboração de instrumentos legais para detê-las, em especial, devido ao enorme poder que detém frente ao acúmulo de informações classificadas que continuam sendo capturadas com ou sem a nossa “autorização”.

 Essa dominação através de dados foi denominada por Shoshana Zuboff de “Capitalismo de Vigilância”, como bem explicita: “o processamento da informação... está evoluindo para um elemento essencial de estratégia de longo prazo de manipulação com intenção de moldar e ajustar a conduta individual” (op. cit. Pag 223).

E mais, citando um estudo publicado no Australian que revelou a história de um documento oficial do Facebook (agora Meta) dirigido aos anunciantes da plataforma: “ao monitorar posts, fotografias, interações e atividades na internet, o Facebook pode deduzir quando um jovem se sente “estressado”, “derrotado”, “sobrecarregado”, “ansioso”, “burro”, “bobo”, “Inútil” e um “fracasso”. (op.cit. – pag. 350)

 Agora, imaginem um outro escopo desse espectro, considerando a captura dos nossos dados de forma absolutamente furtiva nos mais diversos recantos do planeta.

 É obvio que todos os países têm sistemas de espionagem, onde a regra corrente é “todos espionam a todos”. Para tanto, vale lembrar do episódio promovido por Edward Snowden, um analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA ( Central Intelligence Agency) e ex-contratado da NSA (National Security Agency), que tornou público as entranhas de vários programas do sistema de vigilância global da NSA! Essa toada resvalou em um incidente diplomático denunciado na ONU, pela então presidente Dilma Rousseff, quando destacou a espionagem que o governo brasileiro estava sofrendo perpetrada pelos EUA. 

A formação do Complexo Industrial Chines.

 As ações do então Henry Kissinger, secretário de Estado, que acabaram pavimentando a ida histórica do ex-presidente Richard Nixon à China em 1972, promoveram uma intensa atividade diplomática com a República Popular da China. Kissinger possuía um bom trânsito diplomático com Deng Xiaoping, considerado por ele como o responsável pela abertura da China para o mundo, com objetivo de levar a China a ser reconhecida internacionalmente.

 O processo desenvolvimentista implementado na China por Deng Xiaoping em sua fala: “Não devemos temer a adotar os métodos avançados de gestão aplicados em países capitalistas. A própria essência do socialismo é a libertação e o desenvolvimento dos sistemas produtivos. O socialismo e a economia de mercado não são incompatíveis", acabou produzindo uma abertura gradual do fechado mercado chinês!

 Daí, o deslocamento das cadeias produtivas do complexo industrial americano para a China foi um passo, principalmente em função das condições especiais oferecidas, assim como mão-de-obra barata, que acabou alavancando a produção com custos mais baixos apoiados por cadeias de suprimentos bem estruturada, tendo como base a disponibilidade de uma infraestrutura sedimentada no objetivo de atender ao mercado internacional. O resultado foi a migração de plantas de uma vasta gama de empresas americanas e de outros países, para a China, levando em seu bojo, todo o arsenal tecnológico e de pesquisas aplicadas que possuíam!

 Mas isso era só o começo para o pontapé inicial para uma invasão cibernética furtiva da China!

 Recordo-me, faz algum tempo, de ter lido uma reportagem sobre um sério incidente ocorrido no âmbito da tecnologia da informação bastante peculiar!

 O governo americano havia adquirido uma grande quantidade de roteadores para os seus diversos departamentos. Esses roteadores também podiam ser encontrados na Amazon, eBay e Walmart e tinham um preço bastante convidativo! Esses equipamentos foram distribuídos em diversos setores do Pentágono, CIA, FBI etc.

 Certo dia, um desses roteadores começou a apresentar um defeito em seu funcionamento e o responsável pelo setor enviou-o para manutenção e daí surgiu uma revelação surpreendente: esses roteadores da marca JetStream eram de origem chinesa e possuíam uma “backdoor” (“porta-de-fundos” que permite intrusão em dispositivos eletrônicos, escapando da autenticação ou criptografia).

 O site CyberNews destacou, após esse equipamento ter sido analisado pela equipe de pesquisadores da empresa Mantas Sasnauskas, que os roteadores não tinham um “erro de configuração”, mas instruções haviam sido plantadas propositalmente com objetivo de possibilitar a execução de comandos e permitir a intrusão de um hacker nos sistemas!

 Além disso, eles possuíam um Script (abreviatura de manuScript – instruções de uma sequência de comandos), que possibilitava vasculhar redes de “wi-fi” proximais, numa tentativa de também se conectar a elas!

 As análises realizadas pela Cybernews com base no volume de produção de roteadores, levou a uma estimativa entre 12 milhões e 24 milhões de roteadores vendidos no mercado que poderiam estar comprometidos com essa “backdoor”!

 Outro incidente complicado aconteceu, após a prisão da CFO da Huawei, Meng Wanzhou, por autoridades canadenses, a pedido dos Estados Unidos, que resultou em uma grande repercussão a nível mundial e mesmo, um grande impacto para muitas empresas americanas.

 Várias agências de segurança americanas como CIA, FBI e NSA, passaram a divulgar recomendações de que os americanos não utilizassem celulares fabricados pela empresa chinesa, informações essas repassadas para o Comitê de Inteligência do Senado americano, indicando um grande risco de espionagem em celulares fabricados pela empresa.

 Nesse incidente, inclusive diplomático, acabou gerando uma verdadeira “paranoia”, junto aos Estados Unidos, cujas autoridades começaram a banir diversas empresas chinesas da área de tecnologia da comunicação, sob a alegação de que elas estavam operando sob a influência do governo chines, possibilitando assim a realização de operações de espionagem e coleta de informações e desta forma, “direcionar, coletar, alterar, bloquear e redirecionar o tráfego da rede” (FFC)

 Outro aspecto a ser analisado refere-se ao massivo sistema de vigilância utilizado pelo governo chines para controlar seus cidadãos, um verdadeiro Big Brother, bem ao estilo de Orwell e sua famosa obra 1984.

 O fato é que na cidade de Hangshou (Hilmamn -2022) encontram-se instaladas as três maiores fábricas de câmeras de vigilância do país que são Dahua, Hikvision e Uniview que recebendo elevados incentivos do governo chines, evoluíram significativamente, transformando-se em avançados centros de produção de dispositivos eletrônicos de vigilância. Daí para partir para a exportação desses produtos foi uma questão de tempo.

 Em grande medida, a tecnologia de vigilância desenvolvida por essas empresas passou a fazer parte do arsenal de produtos utilizados por mais de 80 países em redor do nosso planeta. Embora o uso dessa tecnologia venha a ter objetivos nobre como manutenção da segurança e controle de tráfego, por exemplo, nada impede que seja também utilizada para fins totalitários de controle, assim como a possibilidade não descartada, de servirem como elementos de espionagem furtiva, especialmente porque milhares dessas câmeras encontram-se instaladas em locais de segurança nacional em diversos países como unidades militares, centros de administração pública etc.

 E o problema não para por aí!

 Uma investigação realizada pela Consumer Reports (29/09/2022) resultou no descobrimento de que o TikTok, um dos aplicativos mais populares, vem realizando parceria com um número crescente de outras empresas, com o objetivo de coletar dados sobre usuários das plataformas da Internet, mesmo para aqueles que não possuem conta no TikTok!

 Conforme relata a citada revista eletrônica, para analisar o uso do rastreamento online pelo TikTok, a Consumer Report solicitou à empresa de segurança Disconnect para verificar cerca de 20.000 sites em busca de pixels da empresa. Na lista de verificação, foram incluídos os 1.000 sites mais populares em geral, bem como alguns dos maiores sites com domínios que terminam em “.org”, “.edu” e “.gov”. O resultado foi a constatação de que centenas de empresas estavam compartilhando dados com o Tik Tok!

 O mais grave dessa análise: os pesquisadores da Disconnect realizaram uma ampla pesquisa por rastreadores do TikTok, analisando de perto que tipo de informação estava sendo compartilhada em sites específicos, como organizações de defesa e hospitais, juntamente com varejistas e outros tipos de empresas.

 A Disconnect descobriu que os dados transmitidos para o TikTok podem incluir até o seu endereço IP, que é um número de identificação exclusivo, permitindo saber: em qual página você está e o que você está clicando, digitando ou pesquisando, dependendo de como o site foi configurado! Como explica Patrick Jackson diretor de TI da empresa: “A maioria das pessoas não tem ideia de que o TikTok e outras empresas coletam informações sobre eles dessa maneira. A única razão pela qual isso funciona é porque é uma operação secreta.”

No mundo de hoje, vivemos uma verdadeira guerra cibernética, aliás tema esse tratado no Fórum Mundial. Diversos relatórios elaborados por empresas de segurança digital como a Blackberry Cylance apresentam as táticas que vem, à mais de uma década, sendo utilizadas por grupos chineses ligados ao governo local para espionar empresas e governos pelo mundo. Esses grupos usariam malwares e outras táticas para roubar informações de outras empresas e governos pelo mundo. Como não poderia deixar de ser, muitas dessas informações envolvem questões de propriedade intelectual e pesquisas avançadas nos mais diversos campos do conhecimento humano!

 O fato real é que o governo chines vem gradualmente se infiltrando em todos os países do planeta, quer seja, entre outras estratégias, mediante massivos investimentos em infraestrutura básica, especialmente dentro de um processo de dominação mediante o financiamento de obras para as quais os países beneficiados não apresentam capacidade de pagamento para os aportes realizados e por via de consequência, em função de esdrúxulas cláusulas contratuais, esses projetos passam a ser dominados e gerenciados pelo governo chines, ou através de avanços furtivos em operações secretas utilizando para isso das redes da internet.

Parafraseando uma parte do discurso de Tim Cook proferido em um evento sobre privacidade e segurança realizado em Washington, DC. pela EPIC : “Os ciberespiões estão usando todas as ferramentas da tecnologia à sua disposição. Se eles sabem que há uma chave escondida em algum lugar, eles farão de tudo para encontrá-la!”