sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A vulnerabilidade da Internet das Coisas

A vulnerabilidade da Internet das Coisas

Conforme comentamos em nossa postagem anterior na qual tratamos da Internet das Coisas, existe uma grande vulnerabilidade na sua estrutura. Os sensores conectados aos dispositivos e aparelhos que permitem o acesso via internet cabeada ou wifi não são concebidos como “computadores” e, por via de consequência, não dispõem de sofisticados sistemas de bloqueio de entrada por algum intruso que queira ter acesso à rede de dados ou mesmo ao seu computador pessoal.
Na verdade, todos os dispositivos conectados a uma rede de dados podem se tornar “uma porta de oportunidades” para indivíduos com intenções escusas. A preocupação não é nova. E, em razão disso o uso de firewall, senhas sofisticadas e mais recentemente senhas biométricas (digital do polegar ou mesmo a própria íris), assim como antivírus tem se espalhado por todos os lados na busca de maior segurança na proteção de dados e informações pessoais e empresarias.
A Internet das Coisas, devido a sua vulnerabilidade passou a ser uma verdadeira mina de ouro para os hackers. Em verdade, essa nova modalidade de hiperconectividade é uma porta aberta para os hackers e suas múltiplas intenções maliciosas. Por exemplo, a maior parte dos equipamentos e aparelhos com eletrônica embarcada utilizam o conhecido sistema operacional Linux que além de realizar suas tarefas operacionais permitir o acesso por redes sem fio. Foi detectado que um vírus denominado Linux. Darlloz (um worm que se espalha aproveitando a vulnerabilidade dos sistemas e que pode impedir que os usuários remotos se conectem ao computador comprometido) é capaz de tirar proveito da vulnerabilidade desse sistema operacional e pode se espalhar na rede infectado todos os sistemas e mesmo causar sérios problemas.
Alguns exemplos dão conta da fragilidade sistêmicas da Internet das Coisas:
  • Notícias recentes dão conta que hackers aproveitando os dispositivos eletrônicos instalados em geladeira conseguiram enviar SPAM
  • Um proprietário de uma smart TV da LG nos EUA descobriu que o aparelho continuava coletando dados sobre seus hábitos como telespectador, mesmo após ele ter desativado a opção da TV que permite esse procedimento.
  • Há relatos de violação de sistemas por hackers a partir de babás eletrônicas, TV com acesso a internet.
  • Através de um circuito interno de monitoramento é possível invadir a privacidade ou mesmo obter informações disponíveis em diversos equipamentos, eletrodomésticos, veículos etc.
  • Um hacker poderá invadir um sistema de sinalização de trânsito de uma grande cidade e provocar um verdadeiro caos na movimentação dos veículos e, até mesmo causar acidentes, bastando inverter, repentinamente, o sinal do fluxo de carro em um cruzamento!
  • Lâmpadas inteligentes HUE (fabricadas pela Philips), que possuem um controle de cor, tom e intensidade opera através da combinação de três LEDs – um vermelho, um verde e um azul – o que equivale a 16 milhões de cores diferentes e que podem ser operadas por um sistema wifi, permitindo total controle da hora que acende ou apaga mesmo quando você está longe de casa, vem sendo alvos fáceis de hackers que passam a controlar o sistema!

Com os sistemas cada vez mais integrados passamos a ficar cada vez mais dependentes deles. E essa é a grande preocupação no sentido de tentar evitar invasões dos cybers criminosos que passaram a ter uma nova porta de entrada: os dispositivos que são acoplados a internet.
A denominada comunicação maquina a máquina (conhecida com a sigla M2M que funciona através de um sensor localizado remotamente para coletar dados que são então enviados, via wifi, para uma rede e, através de roteadores, levados a um servidor na Internet.) vem chamando a atenção da comunidade de criminosos e preocupando intensamente as empresas.
Como relata Carreto, estrategista de segurança da Symantec: “essa ultraconectividade gera riscos à privacidade”.
A Symantec em seu blog sobre segurança ao analisar a vulnerabilidade da Internet das Coisas apresenta algumas recomendações básicas:
Proteja o roteador e demais dispositivos existentes em sua residência, por exemplo, utilizando senhas de acesso bem mais complexas do que aquelas normalmente utilizadas, tais como “1234”. Portanto, crie senhas complexas com letra e números e anote em algum lugar seguro caso você venha a esquecê-la;
Garanta que o firewall do seu roteador esteja devidamente configurado;
Verifique frequentemente junto ao fabricante do roteador se está disponível alguma nova versão do software do equipamento;
A preocupação com a vulnerabilidade atual da “Internet das Coisas” está levando às empresas a se mobilizarem numa tentativa de criar mecanismos que permitam obter maior proteção de seus sistemas. Porém, uma coisa é certa: não existe sistema 100% seguro!
O que devemos fazer é manter nossas proteções atualizadas e trabalhar dentro do velho e conhecido mote aqui parodiado: “o preço da privacidade é a eterna vigilância!”.
Fonte:
Chui, M.;Löffler,M. & Robert r. – in The internet of Things – McKinsey Quartely- March 2010.
Evans, D. – in The Internet of Things – How the Next Evolution of Internet is changing everything – Cisco Internet Business Solution Group (IBSG) - White paper – April 2011.

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
·         Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
·         Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
·         Logística e Cadeia de SuprimentosO Essencial – Editora Manole.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A internet das coisas

A internet das coisas


O termo “Internet das Coisas” ou IoT (Internet of Things) surgiu em 1999 com Kevin Ashton que criou, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um sistema de padrão global de RFID (identificação por Rádio Frequência) e outros sensores, permitindo assim maiores facilidades para interligar objetos dos mais diversos às redes de dados.
A evolução da tecnologia e a avalanche de novos dispositivos eletrônicos instalados nos mais diversos equipamentos com a denominada eletrônica embarcada elevou a possibilidade que os mesmos sejam interconectados, muito especialmente com o uso massivo do RFID. A tecnologia de rádio frequência abre a possibilidade de que os objetos físicos passem a se comunicar com sistemas digitais.
Esse processo é possível a partir de dois vetores: de um lado a existência de uma grande proliferação de sensores que são utilizados por pessoas e em dispositivos e equipamentos dos mais diversos; de outro a possibilidade de conectar esses sensores à internet através de sistemas especialmente projetados para esse fim.
Na área empresarial a Internet das Coisas está expandindo a possibilidade de se obter melhorias significativas nos processos industriais através do uso de sensores que são disponibilizados em vários pontos dos processos produtivos. Os sensores são ligados a computadores permitindo assim a leitura de dados em diversos pontos dos processos. Esses sensores podem então ser utilizados para realizar ajustes pontuais necessários para aperfeiçoar os processos de produção.
A “Internet das Coisas” também já está sendo utilizada por empresas de diversos setores para gerenciar e rastrear bens físicos, melhorando assim a visibilidade da cadeia de suprimentos (ver postagem - Big Data na Logística), aumentando a eficiência dos processos gerenciais e decisórios e atendendo as exigências dos clientes.
A variedade e quantidade de sensores que vem sendo instalados nos mais diversos dispositivos estão causando uma verdadeira revolução na área da informação.
Considerando que uma conexão entre um sensor e um computador pode ser feita através de uma rede cabeada ou mesmo sem fio (wifi) está surgindo uma nova modalidade de sistema de informação se consideramos o mundo físico sob a ótica de um mundo informacional. Através dos bens físicos será possível capturar diversas informações com o uso de sensores instalados nesses bens e, por conta desse processo, a movimentação física deles vai se assemelhar, num futuro próximo, à transmissão de dados na internet.
Estudos realizados pela Cisco IBSG (Internet Business Solution Group), mostram  que em 2015 deveremos possuir 25 milhões de dispositivos conectados à internet, envolvendo uma população de 7,2 bilhões de pessoas. Representando uma taxa de 3,47 dispositivos conectados por pessoa.
Em 2020, segundo o mesmo estudo, a população mundial deverá atingir 7,6 bilhões de pessoas e haverá o dobro de dispositivos conectados a internet, o que elevará a taxa para 6,6 dispositivos por pessoa, interconectados à rede!
A cada dia são criados novos dispositivos, novos equipamentos, novos eletrodomésticos, novos veículos os quais passaram a possuir aparatos eletrônicos destinados ao controle das operações. Esses dispositivos são projetados para desenvolver uma determinada tarefa, como por exemplo, controlar a temperatura da nossa geladeira, controlar o ponto de preparo do arroz que se encontra numa máquina para cozinhar o produto, controlar a luz e a temperatura ambiente de uma sala, controlar os parâmetros da mistura de combustível e ar aspirado para o motor com objetivo de aumentar o desempenho do seu carro etc.
Considerando que esses dispositivos podem ser interconectados através de sistemas especiais com o uso de um sistema de radio frequência (RFID), passamos a ter uma grande conveniência e flexibilidade na operação desses dispositivos que passam a poder ser controlados remotamente. Edifícios comerciais e empresariais possuem diversos controles de temperatura, ventilação, ar condicionado, iluminação, serviço de telefonia e de segurança que são controlados de uma central de operações e mesmo poderão ser acessados remotamente através de uma rede a eles conectada.
Essa nova formatação da rede hiperconectada vai produzir benefícios consideráveis dado que as informações poderão fluir de um dispositivo para outro e em diversas situações e locais. Por exemplo, você pode estar em um supermercado e receber uma informação da sua geladeira que está faltando leite! Você está viajando e recebe uma informação através de seu celular que você esqueceu o aparelho de ar condicionado de sua residência ligado e então, com o uso do próprio celular você envia um comando para desligar o aparelho instalado em sua residência. Essa é uma nova revolução que veio para ficar!
A grande preocupação com a denominada “Internet das Coisas”, dado que a mesma envolve a hiperconectividade entre inúmeros dispositivos e equipamentos, está relacionada ao fato de que os sensores neles instalados não são considerados computadores, e, por via de consequência, não têm um tratamento adequado no que se refere ao item segurança, e assim, passamos a ter vários equipamentos que apresentam grande vulnerabilidade na sua operação.
Se, de um lado vamos ter inúmeras facilidades e benefícios com o uso desses dispositivos interconectados; de outro, poderemos estar sujeito a riscos consideráveis em termos de segurança e vulnerabilidade, tanto para as redes empresariais quanto pessoais.
Isso vai acontecer porque esses dispositivos poderão ser explorados a partir da sua vulnerabilidade por pessoas com objetivos escusos. Por exemplo, utilizando a vulnerabilidade de um sensor conectado numa rede, criminosos podem obter informações críticas relacionadas aos negócios de uma empresa, ter acesso a dados pessoais de seus funcionários, obter informações dos números e senhas de cartões de crédito, sabotar sistemas de produção etc., mas isso é assunto para uma nova postagem!
Fonte:
Chui, M.;Löffler,M. & Robert r. – in The internet of Things – McKinsey Quartely- Marcn 2010
Evans, D. – in The Internet of Things – How the Next Evolutino of Internet is changing everything – Cisco Internet Business Solution Group (IBSG) - White paper – April 2011.
Taurion, C. – in Internet das Coisas - http://www.ibm.com/midmarket/br/pt/pm/internet_coisas.html - acesso - 14/02/2014.

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
Administração de EstoquesTeoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
Logística e Cadeia de SuprimentosO Essencial – Editora Manole.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A nova economia industrial na era da sustentabilidade

A nova economia industrial na era da sustentabilidade

O modelo tradicional de manufatura que produz um bem a partir da transformação de matérias-primas, insumos e componentes em um produto que é então oferecido ao mercado e que após um período de utilização é descartado, vem sendo utilizado até o presente.

Com uma frequência rotineira, produtos fabricados em potencias industriais enviados para os mercados consumidores são rapidamente descartados! Para darmos um pequeno exemplo, moveis residenciais são descartados nos Estados Unidos com apenas seis meses de uso; telefones celulares, computadores e tablets são descartados assim que seja disponibilizada no mercado uma versão mais sofisticada e atualizada!

Afastando a mentalidade atual de produzir, vender e descartar e repensando o conceito de descartabilidade para um conceito de desmontagem, recuperação e reciclagem, estudos realizados pela McKinsey, levando em conta um determinado segmento de mercado que utiliza materiais no valor de US$320.0 bilhões, estimam que aproximadamente 80% desse valor poderia ser recuperado, se um enfoque de produção baseado na reutilização e na sustentabilidade fosse utilizado.

A ideia central aqui é maximizar o número de ciclos de produtos consecutivos, que serão gerados a partir de um produto inicial, através da reutilização, reparação, reciclagem e remanufatura. Esse novo processo produtivo tem por objetivo primordial reduzir, por via de consequência, a quantidade de material novo agregado ao produto, a energia utilizada e os custos de novo produto remanufaturado.

Dentro desse conceito, o projeto básico é conceber produtos e componentes que são mais fáceis de serem reciclados, facilitando a sua desmontagem e recuperação, mantendo a qualidade do material e reduzindo o impacto ambiental no processo reciclagem na manufatura.

É evidente que os recursos existentes no planeta não são inesgotáveis e a preocupação se torna ainda maior a partir do momento em que as classes consumidoras vêm crescendo em ritmo bastante acelerado, haja vista a previsão elaborada pela McKinsey que estima o ingresso de três bilhões de novos consumidores nos mercados até 2020. É a denominada “nova classe média mundial”.

De um lado, os estudos realizados pelo professor James Clarck da Universidade de York, Reino Unido, baseados na análise dos níveis de reciclagem de produtos indicam que a utilização dos recursos finitos se manterá alta e que seremos incapazes de manter estoques suficientes para atender as futuras demandas.

Fazendo um cotejamento entre a reciclagem de produtos e os elementos nela contidos através do exame paralelo da tabela periódica, o professor Clarck projeta que elementos como ouro, prata, índio, irídio, tungstênio e muitos outros indispensáveis para as indústrias estarão esgotados em um prazo entre cinco e cinquenta anos.

De outro é importante observar que muitas reservas minerais disponíveis hoje se encontram em áreas altamente instáveis sob o ponto de vista político o que indica a grande possibilidade da ocorrência de uma interrupção no suprimento desses materiais (ver nesse blog a postagem sobre riscos logísticos) e a possibilidade de elevação dos preços desses itens, além de ensejará uma restrição na sua oferta.

Observando-se mais detalhadamente a ocorrência de diversos vetores ambientais tais como o acentuado aumento da erosão do solo, o esgotamento das reservas de água doce (a Coca-Cola perdeu uma licença de operação na Índia para fabricar refrigerantes para não colocar em risco a falta de água doce destinada a abastecer as populações locais), o desmatamento exacerbado e descontrolado; acabam também por produzir maiores restrições quanto à disponibilidade desses recursos e, por via de consequência, seus preços se tornarão ainda mais voláteis tendendo a aumentar aceleradamente em um futuro próximo. Esses eventos estão produzindo vários problemas, entre eles dificuldades no fornecimento de cana-de-açúcar, frutas cítricas e tantos outros itens que fazem parte do cardápio alimentar de muitas famílias.

Em seu relatório de risco elaborado pelo Forum Econômico Mundial (WEF) de 2012 já era previsto o risco quanto a abastecimento de água potável, a crise de escassez de alimentos, aumento da poluição ambiental e a extrema volatilidade dos preços das commoditeis agrícolas e de energia.

Considerando esse quadro tão desastroso quanto à escassez de recursos e o elevado grau de descarte dos produtos comercializados, surgiu um novo conceito de produção industrial que passou a ser denominado de a nova economia industrial ou “economia circular” que é uma reinvenção do comportamento tradicional do mercado mediante a utilização de uma nova modelagem através de uma economia compartilhada e consumo colaborativo.

A fundamentação para essa nova economia está relacionada ao principio da maximização da utilidade dos bens, facilitada pelo avanço tecnológico, permitindo assim que esses bens sejam alugados, emprestados, trocados ou doados. Como citado no relatório do Forum Econômico Mundial 2014 ; “a economia compartilhada tem a capacidade de desbloquear o valor social, econômico e ambiental de ativos inexplorados ou subutilizados”, produzindo três benefícios básicos:
  • Econômico – com o uso de formas mais eficiente e resiliente dos recursos;
  • Ambiental – pela eficiência no uso dos recursos focados na sustentabilidade;
  • Comunitário – através de uma maior integração entre as pessoas.

A economia industrial sustentável cria uma nova forma de utilização dos recursos revertendo o ciclo de vida através da reutilização, remanufatura ou reciclagem, gerando benefícios para todos: clientes, empresas e sociedade.
Alguns exemplos elucidam essa nova modelagem colaborativa, como citados no relatório do WEF: o custo de remanufatura de telefones celulares poderia ser reduzido em 50% por dispositivo se a indústria projetasse os aparelhos celulares com a preocupação de facilitar a sua desmontagem, melhorando o ciclo reverso do produto e incentivando uma política de devolução dos aparelhos descartados (a Earthworks calcula que 130 milhões de celulares reciclados renderiam 5,5 toneladas de ouro e de outros metais preciosos); os custos de embalagem, processamento e distribuição de cerveja poderia ser reduzido em 20% se a indústria cervejeira passasse a utilizar garrafas de vidro reutilizáveis; cada tonelada de roupas coletadas no Reino Unido pode gerar uma receita de US$ 1.975 dólares a partir da oportunidade da sua reutilização na indústria de materiais de isolamento ou estofamento, ou simplesmente reciclados em novos fios para serem reutilizados na indústria têxteis.
A fábrica da Renault, por exemplo, localizada em Choisy-le–Roi, nas proximidades de Paris, remanufatura vários componentes de seus veículos como: motores, sistemas de transmissão, bombas de injeção etc. para a revenda, com uma utilização de menos 80% de energia e menos 90% de água, gerando menos 70% de resíduos de óleo e detergente, nos processos, comparativamente a uma nova produção. Vale registrar que a produção de um carro exige mais de cinquenta vezes o seu peso em água, ou cerca de 150 mil litros!
Além disso, seus projetos de produtos tem a preocupação de torná-los mais fáceis de desmontar e serem reutilizados, operação essa que também vem sendo estendida para os seus fornecedores, como por exemplo, o reestudo do fluido utilizado no corte e refrigeração do sistema de usinagem permitiu aumentar a eficiência do produto e reduzir em 90% o volume de descarte de resíduos.
O mundo maravilhoso dos recursos inexoráveis e a produção para consumo de bens com um ciclo de vida cada vez mais reduzido para serem rapidamente descartados não tem futuro! A escassez de recursos já se mostra presente em todos os recantos do nosso planeta e portanto é hora de repensarmos uma nova forma de produzir, utilizar e reciclar os produtos da forma mais econômica e com o menor impacto ambiental possível.
Fontes:
World Economic Forum – Toward the Circular Economy: Accelerating the scale-up across global supply chains – Collaborators: Ellen MacArthur Foundation and McKinsey & Company – January 2014.
Nguen, H.; Stuchtey, M. e Zils, M. in Remaking the industrial economy – McKinsey – February, 2014.
Fleming, T. e Zils, M. in Toward a circular economy: Philps Ceo Frans van Houten – Interview – McKnsey quarterly – February, 2014.
Gandhi, A.; Magar, C.; and Roberts, R. in How technology can drive the next wave of mass customization – McKinsey & Company – In Insights & Publications – February 2014.
Leonard, Annie in A História das Coisas – Editora Zahar (2011).

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
Administração de estoquesTeoria e Prática em coautoria de E.Scwember – Editora Interciência.
Administração de Materiais4ª. edição – Editora Campus/Elsevier.
Logística e Cadeia de Suprimentos – O essencial – Editora Manole.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Globalização, perspectivas para 2014 e cadeia de suprimentos.

Globalização, perspectivas para 2014 e cadeia de suprimentos.


É inegável que o mundo se tornou globalizado e hiperconectado. Basta acontecer qualquer ocorrência mais séria em alguma parte do mundo para que imediatamente ela esteja presente nas principais mídias em todo o planeta!
De uma forma geral podemos tratar a globalização envolvendo uma tríade de vetores em constante movimentação logística: capital, pessoas e demais recursos.
De um lado, o impulso provocado pela inovação tecnológica, muito especialmente com a facilidade de acompanhar, pesquisar ou veicular qualquer informação em plataforma de multimídia, está causando uma elevada pressão dos consumidores junto às empresas fornecedoras de bens e serviços em um sistema no estilo “aqui e agora”, ou seja, ao realizarem uma compra via internet querem receber o produto no menor espaço de tempo possível e ter informações precisas sobre o andamento de seus pedidos em tempo real!
De outro lado, a globalização e regionalização dos mercados estão produzindo uma avalanche de novos ingressantes nesses mercados que são os denominados novos integrantes da classe média mundial, muito especialmente nos países emergentes.
Para termos uma ideia do potencial desse mercado, estudos realizados pela consultoria McKinsey estimam que no ano de 2030, um elenco de três bilhões de novos consumidores estarão ingressando na denominada classe média! Alguns estudos também apontam que em 2040 a China deverá concentrar cerca de 60% da sua população em grandes centros urbanos.
Essa avalanche de novos consumidores que se projetam nos mercados está levando às grandes corporações a se focarem vivamente nessas economias emergentes, muito especialmente em função do potencial desse mercado que cresce consideravelmente.
As maiores oportunidades para as empresa nos próximos anos, segundo estudos realizados pela Ernest & Young estão relacionadas à comercialização de produtos para os consumidores dos países emergentes.
Muitos economistas acreditam que os mercados emergentes, no ano de 2014, vão crescer mais rapidamente do que os mercados das economias mais desenvolvidas, o que permite uma boa reflexão sobre a economia global para este ano de 2014, tomando como base o relatório elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Segundo o FMI, o crescimento da economia mundial em 2014 será da ordem de 3,7%. Para os Estados Unidos, cujo crescimento ocorrido em 2013, conforme dado divulgado pelo Departamento de Comércio do EUA atingiu 1,9%; é esperado, segundo uma nova avaliação realizada pelo FMI, um crescimento de 2,8% para 2014.
Fazendo um cotejamento entre diversas economias, podemos citar que a Europa (zona do Euro) que teve um crescimento negativo no ano passado começa a abandonar a recessão e entrar em uma rota de recuperação e, por via de consequência, deverá fechar o ano de 2014, segundo projeções do FMI, com um crescimento de 1%. Fora da zona do euro, vale uma nota especial para a Inglaterra que deverá registrar um índice bem mais alto em relação à Europa, projetando-se um PIB de 2,4% para este ano.
A China por sua vez, uma alavanca propulsora da economia mundial e que investe pesadamente em sua infraestrutura, deverá declinar um pouco saindo de 7,7% em 2013 para 7,5% estimados para 2014.
A mesma análise feita para a Índia indica um crescimento potencial da ordem de 5,4% comparativamente ao período anterior (2013) que foi de 4,4%.
Quanto ao Japão, esse deverá manter o mesmo patamar do ano passado e assim mantendo idêntico desempenho em 2014, ou seja, na faixa dos 1,7%.
Para o Brasil, embora não tenhamos ainda os dados oficiais, segundo previsão dos economistas, o nosso PIB (Produto Interno Bruto) em 2013 deverá alcançar 2,28% enquanto que as estimativas para 2014, cujas perspectivas foram recentemente revisadas, projetam um crescimento de apenas 1,95%!
Com a economia global recebendo um input tão positivo é esperado a ocorrência de um elevado movimento em diversos setores da economia mundial, impulsionando, por via de consequência, o fluxo do comércio internacional, o que vai projetar uma maior demanda de bens e serviços que circularão nas cadeias logísticas, valendo registrar que a OMC (Organização Mundial do Comércio) estima que o crescimento global no comércio de mercadorias em 2014 deverá atingir 4,5%.
Aproveitando essa onda, o Brasil deveria estar preparado, porém, a precariedade de sua infraestrutura como citado em nossa postagem anterior é um fator impeditivo de avanços consideráveis. Enquanto o Brasil, em face da Copa Mundial de Futebol investe, em estádios destinados a abrigar as competições R$ 8 bilhões, destina tão somente R$ 2,7 bilhões para obra de infraestrutura!
Há vetores que complicam ainda mais o cenário brasileiro, começando pela fragilidade com que nos deparamos no sistema elétrico que não vem dando conta da demanda de energia, a falta de credibilidade dos investidores em face do uso exacerbado de uma “contabilidade criativa” para maquiar os dados da economia, a elevada burocracia e mesmo o excesso de regulamentação que dificulta a livre iniciativa, são fatores impeditivos do desenvolvimento do nosso país.

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro e M.Sc. em engenharia de produção pela COPPE/UFRJ e autor da seguintes obras didáticas:
Administração de Estoques - Teoria e Prática - em coautoria de E.Schwember - Editora Interciência.
Administração de Materiais - 4a. Edição - Editora Campus/Elsevier.
Logística e Cadeia de Suprimentos - o essencial - Editora Manole.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

PORTO DE MARIEL

PORTO DE MARIEL

                  Enquanto o governo Dilma investe milhões de 
                      dólares   em um porto em Cuba, o Brasil continua 
capenga em sua infraestrutura portuária!


O governo de Dilma Rousseff inaugurou em Cuba o Porto de Mariel onde o BNDES disponibilizou recursos da ordem de US$ 682 milhões.
As negociações para a construção do porto de Mariel foram iniciadas no Governo Lula e complementadas no Governo de Dilma Rousseff.
Ficou ajustado que o BNDES financiaria 70% de toda a obra de infraestrutura portuária em Cuba.
Segundo reportagem da revista Veja, o BNDES aportou três vezes mais recursos para  construção do porto em Cuba do que canalizou para melhorar a infraestrutura no complexo portuário de Suape – Estado de Pernambuco!
Enquanto o governo brasileiro investiu cerca de US$ 225 milhões por ano no porto de Mariel, em total descompasso, destinou tão somente US$ 15 milhões para os terminais portuários brasileiros, agindo na contramão da expansão da infraestrutura brasileira, tão necessária para fazer escoar a nossa produção e em especial as safras agrícolas.
Não é desconhecido que embora o Brasil venha batendo recordes em sua produção de grãos a cada ano, o abandono da nossa infraestrutura logística vem causando perdas substanciais das nossas safras! Estimativas dão conta de que neste ano 22% da safra de grão será perdida devido à precariedade da nossa infraestrutura de apoio logístico!
Estradas em péssimas condições vêm encarecendo consideravelmente os custos de transporte. Na armazenagem de grãos, embora os silos existentes possam hoje abrigar 125 milhões de toneladas, eles são insuficientes para atender o crescente aumento da produção agrícola!
No item relacionado à infraestrutura portuária, responsável por 95% das cargas exportadas, nossos portos não apresentam condições adequadas. O Porto de Santos, por exemplo, necessita de serviços de dragagem para permitir que grandes cargueiros possam atracar no terminal portuário, pois esses navios exigem uma profundidade de 15 metros na área do terminal.
Do lado político da questão, o mais estranho é que o acordo de financiamento foi classificado como secreto e consequentemente o povo brasileiro não tem informações detalhadas de como e em que condições esse contrato foi firmado!
Com a classificação de “secreto” o público só terá acesso aos detalhes desse acordo em 2027!
Além disso, não há qualquer garantia efetiva de que a dívida assumida pelo Governo cubano seja paga!  Como afirma o professor José Azel da Universidade de Miami: “Cuba é conhecida pelos calotes”!
Enquanto nós contribuintes somos penalizados pela voracidade da carga tributária brasileira, estamos correndo o risco de não ver o retorno um centavo do empréstimo de U$ 682 milhões destinados pelo BNDES para a construção do Porto de Mariel!

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro e M.Sc. em engenharia de produção pela COPPe/UFRJ e autor das seguintes obras didáticas:
Administração de Estoques - Teoria e Prática - em coautoria de E. Schwember - Editora. Interciência.
Administração de Materiais - 4a. Edição - Editora Elsevier.
Logística e Cadeia de Suprimentos - O Essencial - Editora Manole.