quarta-feira, 26 de julho de 2017

O Futuro do Trabalho

O FUTURO
DO TRABALHO

“A automação vai causar desemprego e precisamos nos preparar para isso.”
Mark Cuban

Um pouco de história
Quando adentrei na faculdade de engenharia convivíamos com duas especialidades. A minha, inclinada para a engenharia mecânica, convivia perfeitamente com a turma da engenharia civil.

O grande sonho de consumo de qualquer estudante de engenharia, especialmente, de engenharia civil, era possuir uma máquina de calcular fabricada pela FACIT, cujo modelo é apresentado na figura 2.

Figura 2 – Máquina de calcular – FACIT x Software de Cálculo Estrutural.

A destreza no uso dessa máquina estava na velocidade com que se deslocava o curso (setas branca e vermelha), especialmente nas operações de multiplicação e divisão.  Para multiplicar por dez, por exemplo, deslocava-se o cursor para a esquerda premindo-se a tecla vermelha à esquerda e logo a seguir, girava-se na manivela no sentido horário. Semelhante processo acontecia na divisão, quando então se utilizava da tecla branca e giro da manivela no sentido anti-horário.

Naquela época os escritórios de engenharia especializados em cálculo estrutural, possuíam salas amplas, onde inúmeros calculistas com suas máquinas FACIT´s trabalhavam loucamente. Ao adentrar numa sala dessas escutava-se uma verdadeira sinfonia produzida pelo manejo, muito barulhento, dessas máquinas.

Posteriormente, com o advento dos computadores e softwares especializados em cálculo estrutural, essas máquinas viraram peças de museu e as grandes salas e seus calculistas desapareceram do mercado de trabalho!

Com a introdução da automação no setor bancário e uso abrangente dos caixas eletrônicos para a realização de diversas operações financeiras e, posteriormente, com uso do chamado home banking, o setor bancário brasileiro perdeu aproximadamente 160.000 postos de trabalho e, cada vez mais, a automação adentra nos mais diversos serviços, reduzindo consideravelmente a força de trabalho; inclusive nas operações do mercado financeiro. Hoje softwares especialistas fazem as operações de compra e venda de ativos numa velocidade de milissegundos – para os interessados sugiro a leitura do livro de Michael Lewis, que leva o título de “Flash Boys”.

Outro evento marcante na minha memória aconteceu quando apresentei ao meu pai, o processador de texto da Microsoft, o conhecido Word® (Figura 3) que entre outras extravagâncias, tem a possibilidade de apagar palavras inserindo outras em seu lugar.

Ele, aposentado e ex-funcionário público, era um “craque” na datilografia (a datilografia, para que nunca ouviu falar foi a antecessora ao processo de digitação de documentos!) pois preparava os formais de partilhas e outros documentos. Literalmente ele entrou em êxtase!  Isso porque, à sua época, um documento não poderia conter rasuras e para consertar o erro, o único dispositivo existente era o uso a palavra: “digo”. Assim, por exemplo, suponha que, ao datilografar Rio, tenha datilografado Ria. A solução tradicional, com o uso da máquina de datilografia, era: “onde digo Ria, digo Rio” e o texto assim seguia!


Figura 3 – Máquina de Datilografia x Processador de Texto


E a evolução tecnológica acendeu-se como um raio em velocidade e dispersou-se por todas as áreas do conhecimento humano. De lá para cá, vimos passar um filme, em altíssima velocidade, que mostra como a tecnologia e a automação invadiam os espaços e reduziam o uso da força de trabalho menos especializada. E o ciclo continua!

Em recente artigo publicado na revista eletrônica Futurism,  foi anunciado que a Foxconn, um grande fornecedor da Apple, está substituindo 60.000 empregados da sua força de trabalho de 110.000 empregados por robôs!

O mesmo artigo informa que no centro de produção chinês de Kunshan, cinco grandes empresas investiram US$ 630 milhões em inteligência artificial (AI) e o resultado é obvio, redução considerável do uso de mão-de-obra que será fatalmente substituída por sistemas de automação.

Essa é uma tendência que se propaga por todos os ambientes e por todos os recantos do planeta e veio para ficar!

A revista The Economist apresentou um artigo no qual é discutido, de forma resumida, o resultado de um estudo realizado por Freya e Osborneb (2017) da Universidade de Oxford no qual, mediante elaboração de cálculos matemáticos e probabilísticos, foi possível determinar a probabilidade de que um determinado ramo de atividade venha a ser substituído por processos de automação e inteligência artificial.

O resultado desse estudo é apresentado, de forma sucinta, na figura 3 e indica, por exemplo, que existe uma chance de 99% para que os operadores de telemarketing, assim como de 94% de que contadores e auditores, sejam substituídos por sistemas inteligentes nos próximos anos.

Figura 3 – Empregos em extinção
Probabilidade de alguns empregos serem substituídos por robots
Fonte: Business Insinder e Freya e Osborneb (2017)

Tal qual uma onda que, em alguns casos, assemelha-se a um tsunami, um grande número de profissões e profissionais serão, literalmente retirados do mercado de trabalho, substituídos por tecnologias mais avançadas e de alta produtividade. Por exemplo, na Índia as tecnologias digitais estão promovendo inúmeras inovações que poderão produzir um impacto na economia entre US$ 550 bilhões e US$ 1,0 trilhões por ano, a partir de 2025, segundo estudos do McKinsey Global Institute.

Como a evolução das espécies, empregos sucumbem, dando lugar a novas modalidades de trabalho que requerem expertises das mais diversas e em todos os campos da vida humana. 

Na própria agricultura, por exemplo, antes funcionando à base de um arado atrelado a um boi ou cavalo que sulcava o terreno, sempre conduzido por agricultor; hoje opera com tratores e colhedeiras trabalhando em ritmo acelerado e conduzidas por sistemas automatizados e com inteligência artificial embarcada, operando com auxílio de GPS, possibilita que sejam monitoradas à distância.

O declínio de muitas profissões dará lugar, como a própria evolução das espécies, outras novas e focadas nas novas tecnologias. Dentro desse processo evolutivo, um estudo desenvolvido pela Universidade de Kent, utilizando-se de uma visão prospectiva, elaborou um mapa da evolução das profissões, partindo-se do hoje (“aqui e agora”) e projetando-se para um período de 50 anos, como mostra a figura 4.


Figura 4 – Mapa das profissões do futuro.
Fonte: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm.

Não restam dúvidas que os avanços tecnológicos com a automação, inteligência artificial e robótica estão modificando drasticamente a forma com a qual trabalhamos, convivemos e o próprio conceito do trabalho. Como afirma o diretor da Innovate UK : “sobrevivência no trabalho dependerá dos mais adaptáveis”; algo bem semelhante à evolução das espécies ! O mesmo comenta Mark Cuban – empreendedor e filantropo americano e CEO da HDNET: “haverá muitas pessoas desempregadas substituídas por tecnologias e se não começar a lidar com isso agora, teremos alguns problemas reais”.

A inteligência artificial está se desenvolvendo numa velocidade estonteante e também sendo disseminada por todos os campos, muito especialmente em função das redes de alta velocidade e armazenamento em nuvens. E essa é uma preocupação muito séria; principalmente se considerarmos o poder do denominado aprendizado profundo que consiste na utilização de uma quantidade maciças de dados sobre um determinado objeto, por exemplo, e “ensinado” às máquinas a identificarem esse objeto. 

Suponha que queremos que a máquina tenha o conceito de um determinado objeto, basta conectá-la a internet, alimentando-a com milhões de imagens desse objeto, dando-se assim o conceito geral desse objeto. O procedimento seguinte é testar mais e mais imagens desse mesmo objeto, corrigindo eventuais erros de detenção desse objeto. Como a máquina tem a capacidade de testar milhões de objetos em um curto espaço de tempo; esse é o ganho da denominada tecnologia de “deep learning” !

Aliadas a essa avalanche tecnológica, novas expertises são indispensáveis para um perfeito enquadramento dos profissionais do futuro em suas respectivas áreas de atuação, em termos de suas habilidades e competências, como mostra a figura 5.
 
Figura 5 – Habilidades e competências funcionais.
Fonte: The Future of Jobs (WEF – 2016) – Pag. 21.

Nesse campo é importante registrar que a educação continuada é a mola mestra que permitirá auxiliar as pessoas desenvolverem novas habilidades, adaptando-se continuamente às novas exigências dos mercados; onde os empregadores estarão muito mais interessados em termos de especialidades funcionais.

Portanto, é impossível parar no tempo! A sobrevivência no mercado de trabalho vai depender substancialmente da sua capacidade de se reinventar a cada instante e estar bem “antenado” com os avanços tecnológicos que acontecem diariamente objetivando estar preparado para novos desafios.

Nesse sentido nunca é tarde lembrar da velha piada de dois executivos que se encontravam em uma ilha na qual vivia um tigre faminto. Um deles começou a calçar o seu tênis, enquanto o outro as gargalhadas lhe dizia: “você acha que vai correr mais do que o tigre?“ O executivo que calçava o tênis respondeu: “Claro que não, mas seguramente vou correr mais rápido do que você”!

Portanto, esteja preparado pois o desemprego tecnológico poderá bater na sua porta!

Fonte:

Futurism – in Apple Supplier Just Cut 60,000 Jobs. Replaces Factory Workers With Robots - disponível em : https://futurism.com/apple-supplier-just-cut-60000-jobs-replaces-factory-workers-with-robots/ - acesso: 20/07/2017.

Fastcompany – in These Will Be The Top Jobs In 2025 (And The Skills You’ll Need To Get Them) – disponível em https://www.fastcompany.com/3058422/these-will-be-the-top-jobs-in-2025-and-the-skills-youll-need-to-get-them - acesso: 22/07/2017.

Freya, C.B  e Osborneb, M. A. in The future of employment: How susceptible are jobs
to computerisation? – disponível em Technological Forecasting & Social Change 114 (2017) 254–280.

McKinsey – in Technology, Jobs and The Future of Work – Mckinsey Global Institute  (2016).

Frey, Carl B. and Osborne Michael A. in The future of employment: How susceptible are jobs to computerization? disponível em : http://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/publications/view/1314

The Gardian in Will jobs exist in 2050? – disponível em: https://www.theguardian.com/careers/2016/oct/13/will-jobs-exist-in-2050 - acesso: 22/07/2017.

University of Kent – in Future Jobs – disponível em: https://www.kent.ac.uk/careers/Choosing/future-jobs.htm - acesso: 22/07/2017.

PWC/ FGV-EASPO in O Future do trabalho: Impactos e desafios para os organizações no Brasil – relatório da pesquisa – (2014).

PWC  in The future of work - A journey to 2022 – www.pwc.com/humancapital - acesso: 22/07/2017.

WEF – in The Future of Jobs - Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution - Global Challenge Insight Report (2016).


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