1899 – Série do Netflix
Da Caverna de Platão para uma Simulação Computacional.
Uma visão
provocativa!
A série de origem alemã, estreada na
Netflix em 17 de novembro deste ano
(2022), foi concebida por Barah bo Odar e Janjte Friese, os mesmos autores da
série Dark, tão polêmica e complexa.
O enredo se desenvolve através de várias
vivências e ações dramáticas de um grupo de imigrantes de várias regiões da
Europa que resolvem partir, a bordo do navio Kerberos, com destino aos Estados
Unidos.
Em meio à viagem, a tripulação do Kerberos
acaba encontrando uma embarcação que estava à deriva e considerada desaparecida,
denominada Prometheus.
A partir do encontro de Kerberos com
Prometheus, as vidas dos passageiros começam a se transformar em um verdadeiro
pesadelo, onde cada um traz consigo um segredo obscuro que vai sendo revelado
ao longo da trama, quando o passado surge como uma realidade paralela, como se
cada personagem adentrasse em um portal e, através dele, vivenciasse ativamente
o seu passado.
Vale lembrar que “Kerberos”, na área da
tecnologia da informação, é um “protocolo de rede, que permite comunicações
individuais seguras e identificadas, em uma rede insegura”; como também é cão
guarda de três cabeças (Cérbero) do deus Hades na mitologia grega.
Do mesmo modo, Prometheus , na área de
tecnologia da informação, é um kit de ferramentas de monitoramento e alerta de
sistemas de código aberto e também um titã na mitologia grega.
Não sabemos se os autores pretendiam
jogar com essas dualidades ao dar os nomes das embarcações!
Muitos observam essa série à luz do “Mito
da Caverna”, um clássico bastante conhecido da obra de Platão, citada em sua
República. Sem sermos repetitivos, vale relembrar esse mito que se funde quando
pessoas foram aprisionadas em uma caverna desde a infância e estavam
acorrentadas e assim, somente podiam visualizar apenas sombras distorcidas que
eram projetadas através da claridade fornecida por uma fogueira e sendo essas o
único conhecimento que dispunham.
Nossa abordagem
vai além, passando por considerar as últimas pesquisas da neurociência: “O
modelo do cérebro como uma máquina de processamento de informações é uma
hipótese profunda em que neurociência, psicologia e teoria da computação estão
agora profundamente enraizadas. Onde a neurociência moderna visa modelar o
cérebro e seus mecanismos dinâmicos de processamento de informações de
percepção e cognição, tal qual uma rede de nós funcionais densamente interconectados.”
(op.cit
. Robin
A. A. Ince at all. In Tracing the Flow
of Perceptual Features in an Algorithmic Brain
Network – Nature/Scientifical Reports – dez/2015 – em tradução livre).
Nesse sentido, podemos perceber que temos
vários “periféricos” que atuando como sensores, são responsáveis por conduzir
as informações até o nosso cérebro e nele são processadas: visão (visão
computacional), audição (reconhecimento de voz e traduções), olfato ( chip de
silício com olfato” capaz de detectar odores que variam de explosivos a
patógenos), tato (mão biônica que usa eletrodos para simular a sensação do tato
em pacientes amputados) e paladar (já temos robótica gastronômica, falta pouco para um robô degustador).
E, nessa operação, o nosso cérebro
funciona como um grande computador que, acoplado a esses dispositivos e utilizando
complexos algoritmos, responde aos estímulos produzindo uma série de efeitos
periféricos de resposta: afastar a mão diante de um calor intenso, cobrir o
nariz diante de um odor indesejável etc. Assim, o nosso cérebro é o centro das
sensações e das emoções.
É nessa direção que olhamos essa série!
Hoje, as Big Techs coletam um massivo
volume de dados dos usuários das redes de internet permitindo assim,
praticamente, traçar o perfil comportamental de cada um deles. A sofisticação
chega a tal ponto que é possível simular uma “conversa” com um antepassado
nosso que tenha convivido no mundo das redes sociais, mediante sofisticados
algoritmos de machine learning que conseguem produzir, com base no Big Data
desse antepassado, diálogos bem semelhantes aos produzidos na conversa entre Blake
Lemoine (engenheiro da Google) que entrevistou a inteligência artificial (IA)
LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo).
E dentro desse enfoque a série abre,
segundo nossa análise, um leque para uma nova abordagem especulativa, ao mostrar
que tudo não passa de uma simulação realizada por um grande computador
quântico. Aliás, não poderia ser diferente, dado o volumoso número de
atividades realizada no processamento das informações em todos os cenários
descritos.
Aí, voltamos a velha questão: estaremos
mergulhados numa Matrix? Esse mundo é real ou uma simulação realizada por seres
superdesenvolvidos?
Embarquemos então numa "viagem"
especulativa, no nosso Kerberos, mediante um exercício intelectual, em face de
Brostrom (Superinteligência) e Virk (The Simulation Hypothesis), que não
descartam a hipótese de estarmos mergulhados em um universo virtual!
Dentro do escopo desse raciocínio
especulativo, provado que a informação é o quinto estágio da matéria, uma
pergunta intrigante nos visita: Será que o universo que conhecemos e habitamos
é uma simulação "rodando" em algum computador? Pensando melhor, se a
informação é um componente chave do universo, então é bem possível que em algum
lugar, um computador quântico pode estar "rodando" o universo inteiro
como uma simulação!
Ou em breve, considerando o volume de
informações de cada um de nós, disponíveis em massivos bancos de dados das Big
Techs, teremos a possibilidade de vivenciar nosso passado em um processo de
simulação computacional? Ou mesmo, num futuro próximo, utilizando uma versão mais
sofisticada do projeto do Neuralink, que permita conectar o nosso cérebro um
computador quântico, simular uma vida toda?
Mas isso é uma mera especulação
provocativa!
“Há mais coisas no céu e terra, Horácio, do que foram sonhadas na sua
filosofia” - Shakespeare in Hamlet
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