terça-feira, 6 de dezembro de 2022

1899 – Série do Netflix - Uma visão provocativa!

 1899 – Série do Netflix

Da Caverna de Platão para uma Simulação Computacional.

Uma visão provocativa!



A série de origem alemã, estreada na Netflix em 17  de novembro deste ano (2022), foi concebida por Barah bo Odar e Janjte Friese, os mesmos autores da série Dark, tão polêmica e complexa.

O enredo se desenvolve através de várias vivências e ações dramáticas de um grupo de imigrantes de várias regiões da Europa que resolvem partir, a bordo do navio Kerberos, com destino aos Estados Unidos.

Em meio à viagem, a tripulação do Kerberos acaba encontrando uma embarcação que estava à deriva e considerada desaparecida, denominada Prometheus.

A partir do encontro de Kerberos com Prometheus, as vidas dos passageiros começam a se transformar em um verdadeiro pesadelo, onde cada um traz consigo um segredo obscuro que vai sendo revelado ao longo da trama, quando o passado surge como uma realidade paralela, como se cada personagem adentrasse em um portal e, através dele, vivenciasse ativamente o seu passado.

Vale lembrar que “Kerberos”, na área da tecnologia da informação, é um “protocolo de rede, que permite comunicações individuais seguras e identificadas, em uma rede insegura”; como também é cão guarda de três cabeças (Cérbero) do deus Hades na mitologia grega.

Do mesmo modo, Prometheus , na área de tecnologia da informação, é um kit de ferramentas de monitoramento e alerta de sistemas de código aberto e também um titã na mitologia  grega.

Não sabemos se os autores pretendiam jogar com essas dualidades ao dar os nomes das embarcações!

Muitos observam essa série à luz do “Mito da Caverna”, um clássico bastante conhecido da obra de Platão, citada em sua República. Sem sermos repetitivos, vale relembrar esse mito que se funde quando pessoas foram aprisionadas em uma caverna desde a infância e estavam acorrentadas e assim, somente podiam visualizar apenas sombras distorcidas que eram projetadas através da claridade fornecida por uma fogueira e sendo essas o único conhecimento que dispunham.

Nossa abordagem vai além, passando por considerar as últimas pesquisas da neurociência: “O modelo do cérebro como uma máquina de processamento de informações é uma hipótese profunda em que neurociência, psicologia e teoria da computação estão agora profundamente enraizadas. Onde a neurociência moderna visa modelar o cérebro e seus mecanismos dinâmicos de processamento de informações de percepção e cognição, tal qual uma rede de nós funcionais densamente interconectados.” (op.cit . Robin A. A. Ince at all. In  Tracing the Flow of Perceptual Features in an Algorithmic Brain  Network – Nature/Scientifical Reports – dez/2015 – em tradução livre).

Nesse sentido, podemos perceber que temos vários “periféricos” que atuando como sensores, são responsáveis por conduzir as informações até o nosso cérebro e nele são processadas: visão (visão computacional), audição (reconhecimento de voz e traduções), olfato ( chip de silício com olfato” capaz de detectar odores que variam de explosivos a patógenos), tato (mão biônica que usa eletrodos para simular a sensação do tato em pacientes amputados) e paladar (já temos robótica  gastronômica, falta pouco para um robô degustador).

E, nessa operação, o nosso cérebro funciona como um grande computador que, acoplado a esses dispositivos e utilizando complexos algoritmos, responde aos estímulos produzindo uma série de efeitos periféricos de resposta: afastar a mão diante de um calor intenso, cobrir o nariz diante de um odor indesejável etc. Assim, o nosso cérebro é o centro das sensações e das emoções.

É nessa direção que olhamos essa série!

Hoje, as Big Techs coletam um massivo volume de dados dos usuários das redes de internet permitindo assim, praticamente, traçar o perfil comportamental de cada um deles. A sofisticação chega a tal ponto que é possível simular uma “conversa” com um antepassado nosso que tenha convivido no mundo das redes sociais, mediante sofisticados algoritmos de machine learning que conseguem produzir, com base no Big Data desse antepassado, diálogos bem semelhantes aos produzidos na conversa entre Blake Lemoine (engenheiro da Google) que entrevistou a inteligência artificial (IA) LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo).

E dentro desse enfoque a série abre, segundo nossa análise, um leque para uma nova abordagem especulativa, ao mostrar que tudo não passa de uma simulação realizada por um grande computador quântico. Aliás, não poderia ser diferente, dado o volumoso número de atividades realizada no processamento das informações em todos os cenários descritos.

Aí, voltamos a velha questão: estaremos mergulhados numa Matrix? Esse mundo é real ou uma simulação realizada por seres superdesenvolvidos?

Embarquemos então numa "viagem" especulativa, no nosso Kerberos, mediante um exercício intelectual, em face de Brostrom (Superinteligência) e Virk (The Simulation Hypothesis), que não descartam a hipótese de estarmos mergulhados em um universo virtual!

Dentro do escopo desse raciocínio especulativo, provado que a informação é o quinto estágio da matéria, uma pergunta intrigante nos visita: Será que o universo que conhecemos e habitamos é uma simulação "rodando" em algum computador? Pensando melhor, se a informação é um componente chave do universo, então é bem possível que em algum lugar, um computador quântico pode estar "rodando" o universo inteiro como uma simulação!

Ou em breve, considerando o volume de informações de cada um de nós, disponíveis em massivos bancos de dados das Big Techs, teremos a possibilidade de vivenciar nosso passado em um processo de simulação computacional? Ou mesmo, num futuro próximo, utilizando uma versão mais sofisticada do projeto do Neuralink, que permita conectar o nosso cérebro um computador quântico, simular uma vida toda?

Mas isso é uma mera especulação provocativa!

Há mais coisas no céu e terra, Horácio, do que foram sonhadas na sua filosofia” - Shakespeare in Hamlet



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