SUPPLY CHAIN – ESTRATÉGIAS GLOBAIS para RESILIÊNCIA
Conflitos geopolíticos geram reflexões sobre novas estratégias para as
cadeias globais de suprimentos. O objetivo precípuo é criar resiliência no
fornecimento de bens e serviços.
Por exemplo, no ano de 2010 a China restringiu as suas exportações de
minérios de terras raras (matéria prima essencial para a produção de itens de
alta tecnologia) para o Japão, em face de um conflito numa disputa territorial.
O resultado foi que o Japão redirecionou a sua cadeia de suprimentos desses
insumos, reduzindo a importação da China de 90% para 58% em uma década (Foreign
Affairs).
O mapeamento das cadeias de suprimentos, diante de conflitos geopolíticos
e domésticos, assim como as lições da pandemia (lockdowns), tornaram-se uma necessidade estratégica essencial,
objetivando redirecionar fontes de suprimentos e criar maior resiliência na
manutenção do suprimentos de bens e serviços.
Nesse contexto, diversos países em grupo ou em particular, estão
trabalhando no mapeamento de suas cadeias de suprimentos críticos de forma a
permitir um monitoramento precoce na produção de sistemas de alerta, ao mesmo
tempo em que promovem a diversificação de suas fontes de fornecimento.
O caso brasileiro mais recente foi retratado em face do conflito entre
a Rússia e a Ucrânia e a sua dependência de fertilizantes originários da Rússia,
Bielorrúsia e da própria Ucrânia. Tal
crise provocou a necessidade de reduzir essa dependência através da produção
interna, a exemplo da Cibra que inaugurou em 21/09/2022 uma nova fábrica de fertilizantes no Distrito Industrial 3 de Uberaba, no
Triângulo Mineiro, com um investimento de R$ 55 milhões (Diário de Minas).
As palavras de ordem agora são reshoring (retorno dos processos
industriais a nível doméstico e friendshoring (estreitar as relações
entre nações amigas para o fornecimento de bens e serviços).
E não fica só nessa toada! Incidentes políticos podem promover
restrições ou embargos no abastecimento de certos produtos, como por exemplo, a
concessão do Prêmio Nobel da Paz a um dissidente chinês em 2010, levou a Pequim
restringir a importação de salmão norueguês que atingia 94% (Foreing Affairs) para
37%, um colapso que impactou a economia norueguesa em US$ 60 milhões por ano!
Do mesmo modo, como relatamos em postagem realizada no dia 13/12/2022,
nessa plataforma, os Estados Unidos proibiram a importação para a China de
equipamentos destinados à produção de chips de alta tecnologia e mesmo o
fornecimento de chips para os chineses.
Os Estados Unidos, por exemplo, ainda pagam um alto preço por ter
direcionado grande parte do seu parque industrial para os territórios chineses,
em busca de redução de custos e incentivos governamentais.
Diante desse cenário, por exemplo, Austrália, Índia, Japão e o próprio
EUA criaram o denominado Quadrilateral (Quadrilateral Security Dialogue), um
grupo de parceiros confiáveis envolvendo esses quatro países, com objetivo de
construir cadeias de suprimentos resilientes para vacinas, semicondutores e
tecnologias emergentes, especialmente aquelas focadas em energia limpa.
Diversas outras alianças estratégicas estão se formando (friendshoring/reshoring)
com o objetivo de evitar interrupções nas cadeias de suprimentos, quer sejam
por motivos de conflitos geopolíticos internacionais ou coerções econômicas,
como os exemplos citados acima. Essas alianças acabam resultando num cenário de
resiliência coletiva entre países amigos, transformando-se em uma estratégia de
operação conjunta.
Como bem explica a OCDE: “ as maiores lições da crise são que os
governos precisarão responder a futuras crises com velocidade e escala, salvaguardando
a confiança e a transparência.”
A pergunta que fica é: Estamos nos preparando estrategicamente para
isso?
“Vem, vamos embora que esperar não é
saber”.
Quem sabe faz a hora e não espera
acontecer!”
Geraldo Vandré
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