quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Os perigos do Capitalismo de Vigilância.

CIÊNCIA e TECNOLOGIA
OS PERIGOS DO CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA 


O termo Capitalismo de Vigilância foi cunhado por Shoshana Zuboff em sua obra denominada A Era do Capitalismo de Vigilância.

Em sua definição clássica, a autora o trata como uma maneira unilateral de transformar a experiência humana em matéria-prima gratuita, mediante sua tradução em dados comportamentais.

Diante desse quadro, embora os objetivos declarados das Bigs Tech seja no uso desses dados como objetivo de aprimorar produtos e serviços, em verdade ele vai mais além!

Ora, é notório que, em face da competividade exacerbada, esse massivo banco de dados (Big Data) que pode incluir hoje, muitas vezes, dados biométricos tais como: reconhecimento facial, batimentos cardíacos, movimento dos olhos, rastreamento de sua movimentação através do GPS existente nos equipamentos (celulares, tablets etc.), se transformam em um poderoso instrumento de predição e mesmo, manipulação!

Por um lado, na predição, ao dar um “like” em um filme que um indivíduo assistiu, no Netflix, por exemplo, ou mesmo em sua rotina de visitas a determinados sites, esse processo alimenta os algoritmos de aprendizado que passam a oferecer a esse indivíduo, tal qual um filtro em camadas, exatamente o que o indivíduo gostaria de apreciar!

Essa convergência algorítmica funciona, exemplificando, tal qual o lançamento de uma bola de ping-pong ao chão. Ela vai, em um processo de queda gradual, reduzindo a sua altura na queda, até parar.

Nesse contexto, ouso dizer que esse processo de convergência é um dos responsáveis pelo atual clima de intolerância e radicalização que estamos convivendo em nossos dias!

Isso ocorre porque passamos a ver, ouvir e sentir cada vez mais uma banda estreita das ocorrências, em face da convergência desses algoritmos levar a um mundo imaginário de convivência em uma bolha de eventos que nos tocam e sensibilizam.

Nesse processo os usuários passam a receber estímulos produzidos por esses algoritmos, por apresentar sempre produtos e serviços na escala preditiva baseada em seus comportamentos nas redes sociais etc. Assim, quando um produto ou serviço for apresentado fora da sua “bolha de sensibilidade”, haverá uma grande possibilidade desses indivíduos rejeitá-lo. Isso acontece por que, de forma sub-reptícia, o algoritmo o capturou!

Por outro lado, a manipulação das pessoas ficou patente com o famoso escândalo da Cambridge Analytica que, utilizando dados comportamentais dos usuários do Facebook (Meta), promoveu uma massiva propaganda, especialmente junto ao público jovem, para uma votação favorável ao Brexit (processo de saída do Reino Unido da União Europeia que se iniciou em 2017).

Como bem descreve Zuboff: “...o capitalismo de vigilância é uma forma nefasta comandada por novos imperativos econômicos que desconsideram normas sociais e anulam direitos básicos associados à autonomia individual, os quais são essenciais para a própria possibilidade de uma sociedade democrática” (op.cit. pag.23).

Por exemplo, ao monitorar posts, fotografias, interações e atividades realizadas na internet, os algoritmos do Facebook (Meta) podem deduzir “quando um jovem se sente estressado, derrotado, nervoso, bobo, inútil ou fracassado” (op. cit pag. 351);  o que é muito perigoso!

Basta lembrar do regime chinês e sua vigilância totalitária, onde milhões de câmera espalhadas por todos os cantos e acopladas à sistemas de reconhecimento facial, vigiam e controlam a população nas mais diversas situações; assim como estabelece um sistema de pontuação em função do comportamento de cada indivíduo. Por exemplo, ao atravessar uma rua fora da faixa de pedestre, não respeitar a sinalização para pedestres etc., um chines, capturado pelo sistema de câmeras, imediatamente recebe uma pontuação negativa que resultará em certas dificuldades em receber empréstimos, bônus do governo etc.

Embora não estejamos em regimes totalitários como o chinês, o certo é que as Bigs Tech nos controlam de forma audaciosa e furtiva, basta examinar os recentes casos mundiais de censuras promovidas por seus algoritmos repressores, projetados para captar palavras escritas ou faladas que, segundo seus conceitos, representam uma ameaça ao “escopo” da plataforma.

Não é incomum um criador de conteúdo receber uma notificação de que seu produto foi retirado da plataforma por “violar os princípios norteadores desta plataforma”. Essa ditadura disfarçada acaba em muitas situações cancelando a presença desse continuísta ou mesmo desmonetizando-o e, por via de consequência impedindo de continuar operando nela, especialmente que muitos sobrevivem desse tipo de serviço oferecido!

Cancelamentos de perfis de Twitters, Instagram, Youtube etc tem sido um evento bastante corriqueiro em nossos dias. E a audácia vai mais longe como foi o famoso caso do cancelamento da conta do Twitter do ex-presidente americano Donald Trump e muitos outros, em todo o planeta e mais recentemente, aqui no Brasil, numa atitude que afronta a liberdade de expressão, várias contas da plataforma do Youtuber etc. e mesmo contas pessoais de grupos de WhatsApp foram censuradas, apesar de tratar-se de conversação particular entre grupo de pessoa, constituindo assim uma censura indevida!

A verdade é que quanto maior for o leque de conexões e inserções nas redes, em grande medida agora com a implantação do 5G e operacionalidade da internet das coisas, tudo estará conectado e, por via de consequência, será passível de análise e controle.

Será que no futuro próximo teremos uma tecnocracia totalitária controlada por algoritmos de inteligência artificial que passarão a vasculhar as redes em busca de dados sobre cada cidadão e assim elaborando e avaliando suas atitudes comportamentais?

“O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém!”

Shakespeare  in O Mercador de Veneza .

 


 

 

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