BRASIL FORA DOS TRILHOS
Lançado com pompas e circunstâncias na 18ª. Feira
Internacional de Logística em 2012, o Plano de Logística do Governo não decola.
Enquanto isso, empresários operam verdadeiros milagres para o escoamento de
seus produtos destinados ao mercado nacional e a exportação!
Lançado com grande
efeito midiático, em 2012 durante a 18ª. Feira internacional de Logística e
Transporte de Carga e Comércio Exterior, o Ministério de Transporte e a
Secretaria de Portos apresentaram o que veio a se denominar de Plano Nacional
de Logística Integrada.
Enquanto países
como o Canadá, China, Rússia, Estados Unidos e União Europeia trabalham
buscando reduzir os custos logísticos de transporte, através de investimentos
em infraestrutura que minimizem esses custos e maximize a utilidade dos
recursos aportados na modernização da infraestrutura, o Brasil, um país de
dimensões continentais, na contramão, utiliza o modal rodoviário como
predominante no transporte de longa distância!
Vivacqua, fazendo
um estudo comparativo entre a nossa malha logística e a malha do Canadá que
apresenta certa semelhança com a nossa, destaca que no Canadá há uma “participação racional de rodovias, ferrovias
e navegação, cada um atuando em sua faixa própria (caminhões em distâncias
curtas e médias, ferrovias e navegação nos trajetos maiores e nos troncos de
grande densidade de tráfego)“.
Seu estudo,
considerando os corredores ferroviários de Carajás, Norte-Sul, Ferronorte e
Centroleste, e num horizonte de 25 anos, demonstram que o Estado economizaria R$
130 bilhões em manutenção das rodovias e R$ 30 bilhões em acidentes! Do lado
empresarial, essa economia atingiria R$ 800 bilhões de reais em fretes, além de
o nosso país economizar R$ 600 bilhões em óleo diesel!
Os contrastes continuam!
Um estudo realizado pelo ILOS (Instituto
de Logística e Supply Chain) destaca a presença de condomínios logísticos
no Brasil com a seguinte distribuição: região Sudestes com aproximadamente 83%
deles, região Nordeste, Norte e Centro-Oeste, tem um concentração de
aproximadamente 10% e região Sul com 8,3%. Percebe-se desta análise, que o
Governo deveria fixar um elenco de prioridades para a construção de
infraestruturas de apoio e/ou melhorias levando em conta a concentração e
distribuição desses condomínios!
No que ser refere
ao modal ferroviário, este já possuiu uma extensão de 40 mil quilômetros em
ferrovias, cuja ascensão iniciou-se no tempo do império. Devido ao descaso e, numa
visão míope centrada no denominado “rodoviarismo”
que teve sua origem com o ex-presidente Washington Luís que, ao assumir a
presidência, inaugurou em 1928 a Rodovia Rio-Petrópolis – a primeira rodovia
asfaltada do Brasil - passamos a priorizar o modal rodoviário em vez de maximizar
as operações logísticas através do uso de ferrovias e da navegação, muito
especialmente em função da extensão geográfica do nosso país!
Hoje só restam 29
mil quilômetros de trilhos nas ferrovias, dos quais somente cerca de 10 mil
quilômetros permitem operação adequada! Apesar de o Governo ter lançado um
programa de recuperação das linhas férreas e a construção de novas, tudo não
passou de mera intensão descrita no papel com baixíssima eficácia na sua
execução. O Governo se mostra incompetente como gerente de projeto,
excetuando-se, é claro, quando se trata da voracidade tributária a que todos
nós, pessoas físicas e jurídicas, estamos submetidos!
Um dos clássicos
casos a comentar refere-se à soja originária do Estado de Mato Grosso que é
transportada para o porto de Santos. O fluxo de caminhões chega a números
alarmantes, além de criar grandes congestionamentos nas rodovias. Mesmo com o
novo sistema de agendamento, que primeira semana de fevereiro, atingiu a marca
de 40 mil caminhões agendados para o Porto de Santos, os problemas continuam!
Exemplo em http://www.youtube.com/watch?v=bWmbTAmmc-o.
O transporte poderia ser realizado por via
ferroviária como prevê a proposta de fusão da ALL Logística com a empresa Rumo
(Cosan Logística), que pretende, se a
fusão de concretizar, aumentar em sete anos o transporte de soja que hoje
atinge 12 milhões de toneladas para 35 milhões de toneladas, eliminando assim um
milhão de viagens de caminhão por ano que hoje são utilizados no transporte
dessa mercadoria!
Um olhar mais
detalhado sobre a disparidade construtiva de ferrovias pode ser observado, comparativamente
a outros países, na figura 2:
Figura 2 – Comparação das ferrovias com outros países
Fonte: Exame – Edição Nº 1063 – de 16/04/2014 – pag. 52.
Outro caso também emblemático acontece com a Ferrovia Norte Sul. Sessenta por cento da produção da região
ainda será escoada por via rodoviária, pois a ferrovia sozinha não vai reduzir
a dependência do modal rodoviário!
De acordo com Pavan, presidente da Consultoria Macrologística citado
na reportagem da revista Exame, dos R$ 100 bilhões que o Governo quer investir
em ferrovias, “boa parte poderá não
servir para nada”! A Transnordestina, por exemplo, orçada em R$ 7,5 bilhões
não parece viável se consideramos o volume de carga que será transportado por
essa ferrovia que corta do Nordeste.
Mesmo considerando que muito dos planos elaborados pelo Governo possam
ter uma visão mais estratégia e expansionista da malha ferroviária brasileira que
também resultará na formação de vilarejos e cidades em torno das ferrovias como
costuma acontecer e o passado demonstra, os planos ainda não saíram do papel!
Com diz o velho ditado: “De boas intensões o inferno está cheio”.
No nosso país esse inferno já é percebido pelos empresários, com a
elevada carga tributária, as dificuldades para o escoamento de suas produções
e, o que é mais danoso, a perda considerável das safras e da competitividade
internacional!
O Governo precisa urgentemente sair do discurso pomposo e criar
disposição para a construção de uma infraestrutura que atenda efetivamente as
necessidades do nosso país.
Chega de Planejamento. A hora agora é ”Ação”!
Fontes:
Maia, Jr. - In A hora da largada? – Exame – edição 1063 – de 16/04/2014.
FiordeNews – Uma rede logística a para o País. – http://fiorde.com/wordpress/blog
- acesso 25/04/2014
Vivacqua ,P.A – in Transporte e Desenvolvimento – Um binômio
inseparável – Academia Nacional de Engenharia.
Ministros anunciam Plano Nacional de Logística Integrada na Intermodal
– Revista Tecnologistica – 11/04/2012 – http://tecnologistica.com.br - acesso: 18/04/2014.
Seminário Nacional - IV Brasil nos Trilhos – http://www.antf.org.br/ - acesso: 20/04/2014.
Plano Nacional de Logística e Transporte - Ministério do Transporte - 27/04/2012.
Plano Nacional de Logística e Transporte - Ministério do Transporte - 27/04/2012.
________________________
Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em
engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
- Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
- Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
- Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
Nenhum comentário:
Postar um comentário