Os novos desafios da Cadeia de Suprimentos
A cadeia de
suprimentos hoje vive momentos de transição espetaculares e grandes desafios.
De um lado, a
migração para as grandes cidades com elevadas taxas de ocupação dos espaços
físicos e considerável mudança do comportamento dos bens de consumo; a volatilidade
da demanda em função dos recentes avanços tecnológicos - que reduzem de forma
drástica o ciclo de vida dos produtos – e a inquietação gerada por um mercado
incerto em face da constante presença de novos concorrentes e novas formas de
aguçar a voracidade consumista que existe nos grandes centros urbanos, requer
uma logística diferenciada.
Nessa equação
problemática que não apresenta solução simples, inserem-se novos vetores, quais sejam
as questões voltadas para a sustentabilidade e necessidade de olhar o futuro
sob o prisma da finitude dos recursos em todas as suas formas.
Muitas cadeias de
suprimentos existentes hoje foram projetadas considerando premissas básicas de
concentração da produção em uma unidade fabril, gerenciamento estável da
produção e fluxo de demanda, mercado relativamente cativo, entre tantos outros
fatores. As estratégias utilizadas com base nessas premissas representam hoje
altos riscos em face das constantes mutações do mercado, posicionamento dos
recursos, oferta e demanda de insumos etc.
Aconteceram grandes
transformações no mundo!
O primeiro choque
aconteceu com o fatídico 11 de setembro de 2001 quando inesperadamente os
Estados Unidos se viu ameaçado por uma força externa que abalou
consideravelmente a sua estrutura.
O segundo choque
demorou um pouco mais, e se fez presente com os arquitetos de Wall-Street e a
denominada “auto regulação” dos mercados, tal qual entregar o controle do
galinheiro às raposas felpudas! Deu no que deu! A famosa crise do subprime, cujo resultado, tal
qual um Tsunami ou terremoto, espalhou-se por todo o planeta com consequências
ainda em processo de ajustes.
Diante desse
quadro, tudo mudou! A ideia original de calibrar a cadeia de suprimentos,
ajustando-as as características da demanda de uma única vez não tem a menor
chance de bons resultados, pois os mercados estão cada vez mais voláteis e
altamente dispersos!
Assim, a ótica
agora é modificar consideravelmente as estratégias de produção, aproveitado de
um lado do avanço tecnológico na área da manufatura com a massiva aplicação da
robótica e automação, e de outro, usufruindo das possibilidades quase infinitas
dos dispositivos e equipamentos interconectados a rede da internet, como meios
para obtenção de informações essenciais para realizar os ajustes da produção em
função das expectativas de consumo (uso
do bigdata, por exemplo – ver postagem nesse blog).
Em face da dinâmica
construída no contexto da globalização, concentração urbana e volatilidade da
demanda, a solução é criar uma verdadeira fragmentação das cadeias de
suprimentos de forma a torna-las cada vez mais flexíveis e menores. A
flexibilidade como vetor de ajustamento contínuo as flutuações de consumo e a
redução de seu tamanho para permitir maior velocidade e flexibilidade no fluxo
de atendimento às exigências da demanda.
De um lado, a
sofisticação tecnológica introduzida nos anos mais recentes na manufatura com a
eletrônica embarcada e a automação, está obrigando a que as empresas aumentem
seus investimentos em processos mais modernos e paralelamente busquem pessoal
altamente qualificado para a operação e o gerenciamento da manufatura. Dada a escassez de pessoal qualificado no mercado de trabalho, essas empresas acabam
ficando com o ônus do treinamento interno, capacitando assim os profissionais
existentes em sua força de trabalho o que de certa forma é uma boa prática.
De outro, a
volatilidade da demanda vem criando sérios desafios para que sejam realizados
os ajustes necessários destinados à produção dos diversos itens que compõem a
seu elenco de produtos ofertados.
Para que essa
estratégia venha a funcionar de forma
satisfatória é necessário que o projeto dos produtos passe por uma nova
concepção, onde a engenharia, a criatividade, a funcionalidade e a intercambiabilidade
das peças visando a montagem de um elenco de produtos a partir de “kits’
básicos, deverão ser os fatores chaves na busca de alternativas viáveis de
produção, como mostrado na figura apresentada no início desta postagem.
Na figura, considerando-se
o modelo tradicional de produção, o canal de distribuição atende aos pedidos dos
clientes com base em um sistema de previsão de vendas, formando assim elevados
estoques de produtos acabados no final da linha de produção. Esses produtos
passam então a aguardar a demandas dos clientes para serem fornecidos.
No modelo
modificado, a estrutura do produto é construída com base em componentes e kits
padronizados que permitem a montagem final de um elevado número de produtos.
Assim os estoques gerados são de kits e componentes que poderão atender a um
grande elenco de produtos finais.
Para melhor
elucidar o processo, consideremos um exemplo bem simplificado, partindo-se da
demanda por microcomputadores com três itens básicos: CPU , Monitor e HD.
Imaginemos o desenvolvimento de kits com CPU que utilizam processadores modelos
I3 ; I5 e I7; Monitores de 23 , 32 e 40 polegadas e discos rígidos (HD) com 500
Mbytes, 750 Mbytes e 1 Terabytes. Dentro desse elenco, através de uma análise
combinatória será possível produzir um total de 27 produtos diferentes (3 tipos
de CPU x 3 tipos de monitores x 3 tipos de disco rígido =27), a partir de nove kits !
O avanço da
tecnologia em todos os seus campos aliada a possibilidade de manter maior
visibilidade da cadeia de suprimentos são elementos que permitem modificar os
processos produtivos, com criatividade e novas concepções de projeto, permitindo
assim que a cadeia de suprimentos passe a operar mais próxima de um modelo
puxado, com grandes vantagens em custos e ganhos de competitividade.
Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em
engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
· Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember –
Editora Interciência;
· Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
· Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
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