sexta-feira, 7 de março de 2014

Os novos desafios da Cadeia de Suprimentos

Os novos desafios da Cadeia de Suprimentos


A cadeia de suprimentos hoje vive momentos de transição espetaculares e grandes desafios.
De um lado, a migração para as grandes cidades com elevadas taxas de ocupação dos espaços físicos e considerável mudança do comportamento dos bens de consumo; a volatilidade da demanda em função dos recentes avanços tecnológicos - que reduzem de forma drástica o ciclo de vida dos produtos – e a inquietação gerada por um mercado incerto em face da constante presença de novos concorrentes e novas formas de aguçar a voracidade consumista que existe nos grandes centros urbanos, requer uma logística diferenciada.
Nessa equação problemática que não apresenta solução simples, inserem-se novos vetores, quais sejam as questões voltadas para a sustentabilidade e necessidade de olhar o futuro sob o prisma da finitude dos recursos em todas as suas formas.
Muitas cadeias de suprimentos existentes hoje foram projetadas considerando premissas básicas de concentração da produção em uma unidade fabril, gerenciamento estável da produção e fluxo de demanda, mercado relativamente cativo, entre tantos outros fatores. As estratégias utilizadas com base nessas premissas representam hoje altos riscos em face das constantes mutações do mercado, posicionamento dos recursos, oferta e demanda de insumos etc.
Aconteceram grandes transformações no mundo!
O primeiro choque aconteceu com o fatídico 11 de setembro de 2001 quando inesperadamente os Estados Unidos se viu ameaçado por uma força externa que abalou consideravelmente a sua estrutura.
O segundo choque demorou um pouco mais, e se fez presente com os arquitetos de Wall-Street e a denominada “auto regulação” dos mercados, tal qual entregar o controle do galinheiro às raposas felpudas! Deu no que deu! A famosa crise do subprime, cujo resultado, tal qual um Tsunami ou terremoto, espalhou-se por todo o planeta com consequências ainda em processo de ajustes.
Diante desse quadro, tudo mudou! A ideia original de calibrar a cadeia de suprimentos, ajustando-as as características da demanda de uma única vez não tem a menor chance de bons resultados, pois os mercados estão cada vez mais voláteis e altamente dispersos!
Assim, a ótica agora é modificar consideravelmente as estratégias de produção, aproveitado de um lado do avanço tecnológico na área da manufatura com a massiva aplicação da robótica e automação, e de outro, usufruindo das possibilidades quase infinitas dos dispositivos e equipamentos interconectados a rede da internet, como meios para obtenção de informações essenciais para realizar os ajustes da produção em função das expectativas de consumo (uso do bigdata, por exemplo – ver postagem nesse blog).
Em face da dinâmica construída no contexto da globalização, concentração urbana e volatilidade da demanda, a solução é criar uma verdadeira fragmentação das cadeias de suprimentos de forma a torna-las cada vez mais flexíveis e menores. A flexibilidade como vetor de ajustamento contínuo as flutuações de consumo e a redução de seu tamanho para permitir maior velocidade e flexibilidade no fluxo de atendimento às exigências da demanda.
De um lado, a sofisticação tecnológica introduzida nos anos mais recentes na manufatura com a eletrônica embarcada e a automação, está obrigando a que as empresas aumentem seus investimentos em processos mais modernos e paralelamente busquem pessoal altamente qualificado para a operação e o gerenciamento da manufatura. Dada a escassez de pessoal qualificado no mercado de trabalho, essas empresas acabam ficando com o ônus do treinamento interno, capacitando assim os profissionais existentes em sua força de trabalho o que de certa forma é uma boa prática.
De outro, a volatilidade da demanda vem criando sérios desafios para que sejam realizados os ajustes necessários destinados à produção dos diversos itens que compõem a seu elenco de produtos ofertados.
Para que essa estratégia venha a funcionar de forma  satisfatória é necessário que o projeto dos produtos passe por uma nova concepção, onde a engenharia, a criatividade, a funcionalidade e a intercambiabilidade das peças visando a montagem de um elenco de produtos a partir de “kits’ básicos, deverão ser os fatores chaves na busca de alternativas viáveis de produção, como mostrado na figura apresentada no início desta postagem.
Na figura, considerando-se o modelo tradicional de produção, o canal de distribuição atende aos pedidos dos clientes com base em um sistema de previsão de vendas, formando assim elevados estoques de produtos acabados no final da linha de produção. Esses produtos passam então a aguardar a demandas dos clientes para serem fornecidos.
No modelo modificado, a estrutura do produto é construída com base em componentes e kits padronizados que permitem a montagem final de um elevado número de produtos. Assim os estoques gerados são de kits e componentes que poderão atender a um grande elenco de produtos finais.
Para melhor elucidar o processo, consideremos um exemplo bem simplificado, partindo-se da demanda por microcomputadores com três itens básicos: CPU , Monitor e HD. Imaginemos o desenvolvimento de kits com CPU que utilizam processadores modelos I3 ; I5 e I7; Monitores de 23 , 32 e 40 polegadas e discos rígidos (HD) com 500 Mbytes, 750 Mbytes e 1 Terabytes. Dentro desse elenco, através de uma análise combinatória será possível produzir um total de 27 produtos diferentes (3 tipos de CPU x 3 tipos de monitores x 3 tipos de disco rígido =27), a partir de nove kits !
O avanço da tecnologia em todos os seus campos aliada a possibilidade de manter maior visibilidade da cadeia de suprimentos são elementos que permitem modificar os processos produtivos, com criatividade e novas concepções de projeto, permitindo assim que a cadeia de suprimentos passe a operar mais próxima de um modelo puxado, com grandes vantagens em custos e ganhos de competitividade.

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e  autor das seguintes obras didáticas:
·   Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
·   Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
·   Logística e Cadeia de SuprimentosO Essencial – Editora Manole.

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