domingo, 21 de agosto de 2022

 

COMO O EFEITO CHICOTE E O EFEITO DOMINÓ
ACABARAM “SACUDINDO” AS CADEIAS DE SUPRIMENTOS


A perspectiva de um efeito chicote decorre de um evento produzido por uma mudança no comportamento da demanda de um produto, na ponta de consumo que acaba provocando um reflexo que se propaga ao longo da sua cadeia de suprimentos; tal qual um  expert que usando um chicote provoca uma série de ondas senoidais, cada vez mais crescentes.

Para que seja possível mitigar o denominado “efeito chicote”, o requisito básico necessário é proporcionar visibilidade da cadeia de suprimentos do produto considerado na análise desse efeito. Isso significa dizer que essa cadeia de suprimentos deverá estar interligada “ponta a ponta”, o que é viável mediante uso intensivo da tecnologia da informação, especialmente com rede de internet de alta performance.

Apesar do exponencial avanço tecnológico existente e perfeitamente disponível para aplicações das mais diversas nas redes logísticas, há grandes ineficiências nos processos logísticos de inúmeras empresas que acabam resultando numa miríade de problemas cujos reflexos são verificados no aumento de estoques ou faltas desses e, por via de consequência, acabam produzindo incrementos de custos,  redução das margens de lucro e perda de vendas, para o caso da impossibilidade de atender as expectativas dos consumidores.

Assim como, ao lançarmos uma pedra em uma lagoa com águas tranquilas, percebemos a formação de uma série de ondas concêntricas que, gradativamente, vão se propagando; do mesmo modo, o efeito chicote nas cadeias de suprimentos não são sentidos de imediato e podem levar algum tempo para que todos os atores que operam em uma cadeia de suprimentos sejam atingidos por essa onda!

Fenômeno semelhante, mas com intensidade mais acelerada, acontece com o denominado “efeito dominó”.

Por exemplo, durante a pandemia, as atividades portuárias ficaram paralizadas em decorrência do lockdown, provocando uma elevado acúmulo de contêineres nos pátios dos portos.

Tal evento produziu a escassez de contêineres para locação, cujo reflexo imediato foi o aumento do aluguel desses contêineres, que se elevaram exponencialmente. Basta registar um caso típico: o aluguel de um conteiner para o transporte de produtos desde a China até os EUA, custava US$ 2 000 ; com a crise provocada pelo lockdown, esse aluguel chegou a ultrapassar US$ 24 000.

O segundo evento resultante teve reflexo nos prazos de entrega das mercadoria, muito especialmente  para as cadeias de suprimentos otimizadas e ajustadas no conceito do modelo “Just in Time” e, mesmo independente dessa modelagem a falta de insumos e matérias-primas acabou provocando a paralização de várias plantas industriais ou uma redução drástica na sua capacidade de produção.

Por exemplo, aqui no mercado brasileiro, a indústria automobilística sofreu grandes reveses por falta de eletrônicos destinados aos sistemas de eletrônica embarcada em seus veículos, cujos reflexos resultaram numa redução de 25% na capacidade de produção de veículos automotores.

Ainda no contexto do “efeito chicote”, destacamos dois eventos que promoveram, em grande medida o seu impacto:

De um  lado, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia acabaram por promover uma considerável escassez de produtos como fertilizantes, gás , petróleo etc. e produtos alimentícios (trigo, milho etc.).

Em face desse evento, a lei da oferta e da procura se mostraram vigorosa, impulsionando uma inflação a nível mundial, sem precedentes, como resultado do considerável aumento nos preços desses produtos.

De outro lado, em muitos seguimentos das redes de varejo e numa perspectiva de aumento da demanda, após a pandemia, muitos varejistas readequaram os seus estoques e suas encomendas, prevendo uma retomada da economia e assim, permitindo atender adequadamente os seus clientes desejosos de bens de consumo duráveis. Porém, uma inflação que se aproximava gradualmente acabou por redirecionar o consumo desses clientes mais cautelosos, para produtos essenciais como alimentos, itens de  higiene e limpeza etc.

O resultado desse reposicionamento dos consumidores foi um aumento dos estoques, numa verdadeira “freada de arrumação”, provocando por via de consequências o efeito chicote nas cadeias produtivas.

Por exemplo, a Samsung, classificada como a sétima maior empresa importadora dos EUA, acabou solicitando que seus fornecedores reduzissem à metade a sua produção, em face da acentuada queda nas vendas, bem abaixo das esperadas!

Nesse cenário tão conturbado que vivemos, o certo é que as políticas governamentais de aperto de crédito refletidas pela acelerada elevação das taxas de juros (FED e demais Bancos Centrais), numa frenética busca de redução dos efeitos inflacionários, acabou por redirecionar o mercado consumidor que se mostra cauteloso e, por via de consequência, promoveu, em muitos segmentos , um acentuado aumento no custos dos estoques nas cadeias de suprimentos.

Termino  com uma frase do magistral Sun Tzu (A Arte da Guerra) :

Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.”

Nota: Esse artigo também foi publicado no meu Linkedin



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