COMO O EFEITO CHICOTE E O EFEITO
DOMINÓ
ACABARAM “SACUDINDO” AS CADEIAS DE
SUPRIMENTOS
A perspectiva de um efeito chicote decorre de um evento
produzido por uma mudança no comportamento da demanda de um produto, na ponta de
consumo que acaba provocando um reflexo que se propaga ao longo da sua cadeia
de suprimentos; tal qual um expert que
usando um chicote provoca uma série de ondas senoidais, cada vez mais
crescentes.
Para que seja possível mitigar o denominado “efeito chicote”,
o requisito básico necessário é proporcionar visibilidade da cadeia de
suprimentos do produto considerado na análise desse efeito. Isso significa
dizer que essa cadeia de suprimentos deverá estar interligada “ponta a ponta”,
o que é viável mediante uso intensivo da tecnologia da informação,
especialmente com rede de internet de alta performance.
Apesar do exponencial avanço tecnológico existente e
perfeitamente disponível para aplicações das mais diversas nas redes
logísticas, há grandes ineficiências nos processos logísticos de inúmeras
empresas que acabam resultando numa miríade de problemas cujos reflexos são
verificados no aumento de estoques ou faltas desses e, por via de consequência,
acabam produzindo incrementos de custos,
redução das margens de lucro e perda de vendas, para o caso da
impossibilidade de atender as expectativas dos consumidores.
Assim como, ao lançarmos uma pedra em uma lagoa com águas
tranquilas, percebemos a formação de uma série de ondas concêntricas que,
gradativamente, vão se propagando; do mesmo modo, o efeito chicote nas cadeias de
suprimentos não são sentidos de imediato e podem levar algum tempo para que todos
os atores que operam em uma cadeia de suprimentos sejam atingidos por essa onda!
Fenômeno semelhante, mas com intensidade mais acelerada,
acontece com o denominado “efeito dominó”.
Por exemplo, durante a pandemia, as atividades portuárias
ficaram paralizadas em decorrência do lockdown, provocando uma elevado acúmulo
de contêineres nos pátios dos portos.
Tal evento produziu a escassez de contêineres para locação,
cujo reflexo imediato foi o aumento do aluguel desses contêineres, que se
elevaram exponencialmente. Basta registar um caso típico: o aluguel de um
conteiner para o transporte de produtos desde a China até os EUA, custava US$ 2
000 ; com a crise provocada pelo lockdown, esse aluguel chegou a ultrapassar
US$ 24 000.
O segundo evento resultante teve reflexo nos prazos de
entrega das mercadoria, muito especialmente
para as cadeias de suprimentos otimizadas e ajustadas no conceito do
modelo “Just in Time” e, mesmo independente dessa modelagem a falta de insumos
e matérias-primas acabou provocando a paralização de várias plantas industriais
ou uma redução drástica na sua capacidade de produção.
Por exemplo, aqui no mercado brasileiro, a indústria
automobilística sofreu grandes reveses por falta de eletrônicos destinados aos
sistemas de eletrônica embarcada em seus veículos, cujos reflexos resultaram
numa redução de 25% na capacidade de produção de veículos automotores.
Ainda no contexto do “efeito chicote”, destacamos dois eventos
que promoveram, em grande medida o seu impacto:
De um lado, o conflito
entre a Rússia e a Ucrânia acabaram por promover uma considerável escassez de produtos
como fertilizantes, gás , petróleo etc. e produtos alimentícios (trigo, milho
etc.).
Em face desse evento, a lei da oferta e da procura se
mostraram vigorosa, impulsionando uma inflação a nível mundial, sem
precedentes, como resultado do considerável aumento nos preços desses produtos.
De outro lado, em muitos seguimentos das redes de varejo e
numa perspectiva de aumento da demanda, após a pandemia, muitos varejistas readequaram
os seus estoques e suas encomendas, prevendo uma retomada da economia e assim,
permitindo atender adequadamente os seus clientes desejosos de bens de consumo
duráveis. Porém, uma inflação que se aproximava gradualmente acabou por
redirecionar o consumo desses clientes mais cautelosos, para produtos
essenciais como alimentos, itens de
higiene e limpeza etc.
O resultado desse reposicionamento dos consumidores foi um
aumento dos estoques, numa verdadeira “freada de arrumação”, provocando por via
de consequências o efeito chicote nas cadeias produtivas.
Por exemplo, a Samsung, classificada como a sétima maior
empresa importadora dos EUA, acabou solicitando que seus fornecedores
reduzissem à metade a sua produção, em face da acentuada queda nas vendas, bem
abaixo das esperadas!
Nesse cenário tão conturbado que vivemos, o certo é que as
políticas governamentais de aperto de crédito refletidas pela acelerada
elevação das taxas de juros (FED e demais Bancos Centrais), numa frenética busca
de redução dos efeitos inflacionários, acabou por redirecionar o mercado consumidor
que se mostra cauteloso e, por via de consequência, promoveu, em muitos segmentos
, um acentuado aumento no custos dos estoques nas cadeias de suprimentos.
Termino com uma frase do magistral Sun Tzu (A Arte da
Guerra) :
“Não é
preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados
para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.”
Nota: Esse artigo também foi publicado no meu Linkedin
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