MALHA FERROVIÁRIA BRASILEIRA.
Um entrave logístico.
Como mencionado em postagem anterior, a
greve dos caminhoneiros abriu a cortina do teatro da infraestrutura logística
brasileira, mostrando de forma clara e insofismável a sua fragilidade, entre
outros fatores, a elevada concentração dos transportes ser realizado via modal
rodoviário!
Essa greve trouxe à tona um velho
problema que o Brasil atravessa: apesar de ter dimensões continentais, persiste
de forma totalmente equivocada em manter sua malha de transporte altamente
concentrada em um único modal: o modal rodoviário que, apesar
de ter maior flexibilidade operacional, não é adequado para grandes distâncias!
Enquanto países como o Canadá, China,
Rússia, Estados Unidos e União Europeia trabalham buscando reduzir os custos
logísticos de transporte, através de investimentos em infraestrutura que
minimizem esses custos e maximize a utilidade dos recursos aportados na
modernização da infraestrutura, o Brasil, um país de dimensões continentais, na
contramão, projeta o direcionando da maior parcela dos recursos para
implementar e expandir as rodovias.
Apesar do lardeado Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e mesmo o denominado Programa de Investimentos
em Logística, apresentados em sofisticados relatórios multicoloridos, muitas das
obras neles configuradas não deslancharam e outras tantas se destacaram, não
pela sua eficiência operacional, mas em
face dos escândalos de corrupção delas resultantes, noticiados nos principais
periódicos, no país e no exterior!
Figura
2- Corredores Logísticos de Exportação (Soja e Milho).
Fonte: Ministério dos Transporte - ENEAX - 2018.
O exame da figura 2, que apresenta os
principais corredores logísticos destinados à exportação da soja e do milho, permiti
ter uma exata percepção de como a nossa infraestrutura logística sofre de uma
grave crise, em face da sua assimetria da nossa matriz de transporte dado que 65%
dela está concentrada modal rodoviário!
Na figura 3 apresentamos um estudo retratando a densidade do transporte ferroviário - quilômetros de infraestrutura ferroviária por mil quilômetros quadrados - comparando essa densidade com outros países. Vale destacar, nessa figura, que a China, no período de 2011 \ 2014, mais do que duplicou a sua infraestrutura nesse modal; enquanto o Brasil continua na "lanterninha" nesse grupo amostral !
Na figura 3 apresentamos um estudo retratando a densidade do transporte ferroviário - quilômetros de infraestrutura ferroviária por mil quilômetros quadrados - comparando essa densidade com outros países. Vale destacar, nessa figura, que a China, no período de 2011 \ 2014, mais do que duplicou a sua infraestrutura nesse modal; enquanto o Brasil continua na "lanterninha" nesse grupo amostral !
Figura 3 - Densidade do Transporte Ferroviário.
Fonte:
CNT/Rezende, F. (2017).
Uma outra abordagem refere-se a extensão
da nossa malha ferroviária. Hoje possuindo uma extensão de 30.576 quilômetros, opera
com bitolas variáveis (distância entre os dois trilhos), que oscila entre 0,60
metros à 1,435 metros; dificultando assim a interligação entre rotas
ferroviárias e mesmo a flexibilidade operacional no transporte por esse modal.
Importante observar que em sua extensão
atual, a malha ferroviária também inclui a malha urbana e trens turísticos ou
culturais. Vale registrar, para nossa decepção, que a malha existente em 1940 atingia
um total de 34.252 quilômetros! Ou seja, regredimos nesse ambiente, especialmente em função da desativação de trechos não viáveis economicamente!
Estudos realizados por Vivacqua, ainda
nos idos de 2014, apontavam que, levando em consideração os corredores
ferroviários de Carajás, Norte-Sul, Ferronorte e Centroleste, e num horizonte
de 25 anos, o país economizaria R$ 130 bilhões em manutenção das rodovias e R$
30 bilhões em acidentes!
Os reflexos do lado empresarial envolvem as economias em fretes que poderiam atingir R$ 800 bilhões de reais. Além
disso, o país economizaria R$ 600 bilhões em óleo diesel, melhorando como
efeito resultante, o impacto ambiental com a redução do uso de combustíveis fósseis!
Outra avaliação de extrema relevância está
relacionada ao volume de investimentos em logística, realizados em relação ao PIB; via
comparação com outros países, como mostra a figura 4.
Figura 4 – Investimentos nos modais de transporte em relação ao PIB
Fonte:
Ministério dos Transporte (ENAEX – 2018)/ O Globo
Como podemos observar na figura 4, os
investimentos no modal ferroviário foram praticamente insignificantes, não
retratando a real necessidade para a nossa infraestrutura. Representando em
2015, um pífio percentual de 0,07% do nosso PIB !
Por um lado, como explanado em postagens anteriores e segundo estudos realizados Frischtak e Mourão, o Brasil para recuperar a sua infraestrutura, terá que investir, uma média de 4,15% do PIB
anualmente e durante 20 anos! De outro, vale destacar, como bem mostrou Velloso no Forum Nacional (Agosto/2018), a ocorrência de uma queda acentuada dos investimentos públicos em relação ao PIB. O resultado é a impossibilidade de que sejam realizadas melhorias significativas na nossa infraestrutura!
Diagnóstico elaborado pelo IPEA, que retrata as principais dificuldades para o uso mais efetivo do transporte ferroviário, apresenta os seguintes pontos:
Diagnóstico elaborado pelo IPEA, que retrata as principais dificuldades para o uso mais efetivo do transporte ferroviário, apresenta os seguintes pontos:
- Indisponibilidade de rotas;
- Baixa flexibilidade das operações
- Baixa velocidade no transporte
- Reduzida disponibilidade de vagões
- "Falta de clareza quanto à obrigatoriedade de investimentos em ampliação da prestação do serviço de transporte pelas concessionárias;
- Pouca garantia de retorno dos investimentos realizados pelas concessionárias;
- Baixo poder de atuação da agência reguladora em questões de interconexão de malha ferroviária, devido à assimetria de informações entre as concessionárias e destas com a agência;
- Impossibilidade do o poder concedente requisitar a devolução de trechos ferroviários subutilizados, para posterior concessão a outras empresas".
Para que o leitor conheça um exemplo de plano logístico integrado, apresentamos abaixo o link da plataforma logística da Comunidade Valenciana:
https://www.youtube.com/watch?v=JiWtWnKll2s
No nosso País, o inferno logístico já é, de longa data, percebido pelos empresários: dificuldades para o escoamento de produtos, elevada carga tributária, excessiva burocracia etc.; levando invariavelmente a uma perda considerável da competitividade . E assim, continuamos "como dantes. no quartel de Abrantes !".
Fonte:
Gonçalves, P.S. In https://professorgoncalves.blogspot.com
VIVAQUA, P.A – in
Transporte e Desenvolvimento – Um binômio inseparável – Academia Nacional de
Engenharia. (2014)
Rezende, F. in Panorama das Ferrovias
Brasileiras – CNT (2017).
ENAEX 2018 – Painel VI –
Fatores pra ampliar a eficiências em transporte, reduzir custos de logística e
elevar a competitividade. Debatedores: Povia, M; Rodrigues Jr.M; Bella Filho,
J.D; Barbosa, M.; Souza, C.L; Paes, F.S. e Torkashi, A. Moderador: Pires, J.
IPEA – Transporte
ferroviário no Brasil – Comunicado IPEA n° 50 (2010).
Frischtak,
C.R; MOURâo, J. in O
Estoque de Capital de Infraestrutura no Brasil: Uma abordagem setorial –
Painel: Desafios da Nação – (Agosto/2017).
VELLOSO, R, - in Previdência Pública e Infraestrutura: A saída para o Brasil - Forum Nacional (Seção Especial) - Painel I - 23/08/2018.
VELLOSO, R, - in Previdência Pública e Infraestrutura: A saída para o Brasil - Forum Nacional (Seção Especial) - Painel I - 23/08/2018.
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