domingo, 19 de janeiro de 2014

A logística predatória do capital especulativo

A logística predatória do capital especulativo
"O tempo não para !"
Cazuza


Segundo uma pesquisa realizada pela McKinsey Global Institute, o valor total do mercado financeiro em 2010 já atingia US$ 212 trilhões. Grande parte desse capital é gerenciado por bancos, investidores tradicionais e fundos diversos que existem em todo o mundo.
Esses recursos se deslocam ao redor do mundo fornecendo capital para a expansão de empresas e podem mesmo fluir de forma especulativa em busca das melhores performances possíveis.
Muito embora em muitas situações possam existir frequentes restrições contra a especulação financeira exacerbada, os governos não podem recusar a entrada de capitais especulativos.
Apesar de todas as restrições governamentais, existe a possibilidade de que sejam contornados os rígidos controles cambiais para transferir moeda estrangeira para o exterior. Por meio de redes clandestinas, o dinheiro pode fluir de um lado para outro em grande velocidade. Um bom exemplo é comentado por Xiaonong  (Xiaonong, Cheng in EPOCH TIME – 21/09/2013), quando relata que apesar da existência de controles e restrições monetárias do Estado Chinês, especuladores encontram maneiras de mover seu capital para dentro e fora da China: “bilhões de dólares em “dinheiro quente” entram e saem quase sem obstáculo na China porque vias clandestinas existem há décadas, canalizando dinheiro especulativo em todo o país.” O que também dever acontecer em muitos países!
Assim, a única forma de um governo manter os capitais em seu país é oferecer melhores condições para permitir maior segurança dos investidores e por via de consequência receber esses capitais. É claro que por detrás dessa logística da movimentação financeira existem interesses políticos destinados a fazer com que a política dos países seja direcionada a criar privilégios para esses capitais!
Para mensurarmos o “poder de fogo” desse universo monetário, basta citar que um dos maiores fundos de investimento do mundo, o Abu Dhabi Investment Authority (ADIA), possuía no segundo semestre de 2011 um montante de cerca de US$ 650 bilhões!
Uma análise realizada pelo Swiss Federal Institute of Technology identificou que 174 empresas, em sua maioria do setor bancário, controlam 40% da economia mundial. Como a interconexão entre elas é elevada, há possibilidades de se criar grandes instabilidades em toda a cadeia de negócios ao redor do mundo.
E, ainda, as dez maiores empresas que controlam de verdade a economia mundial, como mostrou Lívia Aguiar em sua reportagem para a revista Superinteressante (21/10/2011 - “As 10 empresas que controlam o mundo”), são: Merrill Lynch & Co Inc – EUA; UBS AG – Suiça; Vanguard Groups Inc - EUA; Legal & General Group PLC – Reino Unido; JP Morgan Chase & Co – EUA; State Street Corporation – EUA; AXA – França; FMR Corporation – EUA; Capital Group Companies Inc - EUA; Barclays PLC – Reino Unido.
Considerando que muitos dos recursos são gerenciados por consultorias super especializadas em todo o planeta, nada impede que elas formem parcerias e transformem essa união numa poderosa máquina de destruição em massa, podendo criar um verdadeiro tsumani no mercado financeiro, pois suas operações poderão produzindo variações bruscas no câmbio, nos mercados de ações e na balança comercial de muitos países.
A logística na mobilidade desse capital tornou-se veloz e super eficiente, graças à tecnologia da informação, às redes de computadores espalhadas por todo o planeta e a globalização do sistema financeiro mundial interconectado em tempo real!
Se, de um lado, isso permeia grande facilidade quanto à movimentação desses capitais; de outro, essa facilidade põem em sérios riscos as economias mundiais devido à volatilidade desses capitais.
Só a título de ilustração, o colapso da moeda tailandesa (baht) causou uma reação em cadeia produzindo estragos no Sudeste Asiático e no Japão. O Fundo Monetário Internacional (FMI), para resolver o problema, injetou durante dois anos US$ 40 bilhões, para que as economias atingidas se recuperassem.
Outro exemplo pode ser visto quando o Federal Reserve (Fed) injetou US$ 600 bilhões no sistema financeiro americano, em 2010. Parte desse dinheiro migrou para outros países que apresentavam melhores taxas de juros, inclusive o Brasil.
A globalização dos mercados, a tecnologia da informação e as redes de computadores espalhadas por todo o mundo facilitam consideravelmente a movimentação de capitais especulativos com sua logística predatória. Agindo como verdadeiros tubarões famintos, usando sofisticados algoritmos computacionais, farejam os mercados internacionais em busca de oportunidades de obtenção de retornos elevados. 

Fontes:
Patterson, Scott; in Mentes brilhantes e Rombos Bilionários - Editora: Best Business (2006)
Charan, Ram – in Ruptura Global – Editora HSM (2013)
Aguiar, Lívia in As 10 empresas que controlam o mundo (Superinteresante – 26/10/2011)
Cheng Xiaonong in China’s Obscure Hot-Money Flow- EPOCH TIME – 21/09/2013 – acesso 16/01/2014.
Andrioli, Antônio I. in O Poder invisível do Mercadohttp://espacoacademico.com.br/014/14andrioli.htm - acesso 16/01/2014.
McKinsey Global Institute in Mapping global capital markets 2011 - http://www.mckinsey.com/insights/global_capital_markets/mapping_global_capital_markets_2011 - acesso 16/01/2041

Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro,  M.Sc. em engenharia de produção pela COPPE/UFRJ e autor das seguintes obras didáticas:
Administração dos Estoques - Teoria e Prática - em coautoria com E.Schwember - Editora Interciência.
Administração de Materiais - 4a. Edição - Editora Campus/Elsevier.
Logistica e Cadeias de Suprimentos - O Essencial - Editora Manole.

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