A difícil logística no combate ao terrorismo.
”Não é preciso ter olhos abertos
para ver o sol,
nem é preciso ter ouvidos
para ouvir o trovão.
Para ser vitorioso você
precisa ver o que não é visível”.
Sun Tzu in A arte da Guerra.
Depois do fatídico evento de 11 de
setembro de 2001 o nosso planeta sofreu uma grande reviravolta no que se refere
às preocupações com a segurança do Estado em todas as suas dimensões.
Naquela data surgiu uma expressão
que virou jargão internacionalmente conhecido: “Guerra contra o terrorismo”.
Sob a ótica militar, a “guerra
contra o terrorismo” envolve operações complexas que circundam todos os meios
tecnológicos existentes no campo militar. O terrorismo pode ser definido como o
uso sistemático de violência não legitimada, por motivações sociais, políticas,
religiosas ou ideológicas contra alvos civis e não combatentes, com objetivo de
disseminar o pânico, o medo e o terror.
Nesse contexto, o campo de batalha
tornou-se complexo em sua geografia e em sua abordagem não convencional. Nesse
sentido traçam veios para a denominada guerra não convencional em que as
táticas utilizadas são as mais variadas, onde um arsenal de possibilidades, em
larga escala, passa a ser utilizado dentro de processos operacionais caóticos tendo
como objetivo primordial atingir a infraestrutura básica de um país, causar
danos à população ou mesmo produzir efeitos midiáticos de alto impacto na mídia
internacional. Essa guerra se lastra por todos os lados incluindo o cyberespaço que tratamos em
artigo anterior quando cotejamos o cyber crime e o cyber terrorismo.
O objetivo desse processo caótico
no modo de agir revela-se operando para maximizar vantagens em um mundo de alta
tecnologia, fortemente globalizado e conectado na mídia do “aqui e agora”. A
veiculação de qualquer ação terrorista através de qualquer meio de comunicação
já resulta em uma aparente vantagem para quem a praticasse muito especialmente
porque tal veiculação poderá ensejar pânico e medo generalizado na comunidade
civil que circunscreve o pátio da operação realizada.
Assim, é importante que a mídia, em
toda a sua extensão midiática e globalizada tenha cuidados adicionais no que se
refere à veiculação do evento e forma de levar os fatos ao conhecimento de
todos. Não como um sistema de censura prévia, mas numa ação preventiva de
caráter de segurança ao veicular as informações. O objetivo aqui é de não
permitir que um grupo ou núcleo terrorista passe a se vangloriar dos efeitos
midiáticos produzidos por suas ações o que, de certa forma, poderá estimular
outras ações predatórias dentro do mesmo objetivo.
O recente caso de Boston envolve
uma reflexão adicional, comparativamente aos já conhecidos “homens bombas” que
se imolam, por motivos religiosos ou ideológicos, num ritual de sacrifício
atentando contra sua própria vida e produzindo efeitos danosos nas vidas de
outros! A ação dos irmãos Tsarnaev rompe um ciclo no sistema de ações
destruidoras e causadoras de grande impacto na mídia internacional: afinal de
contas, a operação ocorreu de forma a atingir civis absolutamente desprotegidos
que jamais poderiam imaginar a ocorrência de evento tão desastroso!
Não importa muito, nesse primeiro
momento, a motivação do fato em si, mas as consequências do evento produzido. E
ai reside uma pergunta básica: como evitar a ocorrência de semelhantes eventos
daqui para frente?
É uma logística complexa! Isso
porque não estamos lidando com uma ação passível de ser previamente auscultada,
nem tampouco de se planejar ações preventivas. Como dizia Érico Veríssimo em
sua obra intitulada “O prisioneiro”: “O
inimigo é como o vento, a gente não vê, mas sente!”
Especialistas em segurança, tal
qual o presidente da AZ Internacional Associates, sugerem o rastreamento
utilizando-se da alta tecnologia existente. Nesse sentido, sistemas de controle
de entradas de pessoas nas instalações civis, como ocorre
hoje em muitas empresas, onde as pessoas são obrigadas a se identificar e recebem
um cartão de permissão de ingresso no recinto, seriam utilizados em todas as áreas sujeitas a
alvos estratégicos desses indivíduos mal intencionados.
Da mesma forma preconizam o uso de
uma varredura corporal em todas as pessoas que venham a adentra em recintos de
grande aglomeração tais como teatros, comícios etc. Igualmente propõem a
utilização de sistemas de reconhecimento de face, permitindo assim identificar
suspeitos e promover uma rápida ação de averiguação e controle.
Operações semelhantes já são
realizadas em aeroportos, mediante a varredura corporal e facial, portos e
terminais portuários nos sistemas de carga e descarga e mesmo através do escaneamento
de contêineres, que passou a ser uma exigência do governo americano, logo após
a queda das torres gêmeas, para todos os países que exportassem produtos para
os Estados Unidos.
É evidente que uma varredura
integral, por exemplo, em todos os contêineres que circulam nos principais
portos e aeroportos que destinam produtos para os países mais visados pelos
terroristas é uma tarefa logisticamente impossível, não só pela sua complexidade
operacional, como também pela sua funcionalidade que resultará seguramente em
atrasos na liberação de cargas que precisam chegar aos seus destinos o mais
rápido possível.
Nesse aspecto entra em campo a
estatística e a probabilidade de forma a pactuar um processo aleatório de
varredura que permita dar segurança probabilística a operação. Probabilística
porque não se realizará num escaneamento de 100% dos volumes transacionados!
Essa tarefa de certa forma busca a
minimizar efeitos danosos de possíveis ações projetadas objetivando causar
danos materiais ou letais em certas regiões do nosso planeta, muito especialmente
nos países mais visados por grupos e células terroristas.
O problema mais delicado é no
teatro das operações em que uma população reside em aparente tranquilidade sem
ter a mínima noção de que alguém, bem conceituado na comunidade, possa a vir a
provocar eventos tão desastrosos como o recente acontecimento em Boston.
Como traduzir um efetivo controle
diante da situação descrita? E, como operacionalizar uma logística de tamanha envergadura?
Não existe resposta fácil! Talvez nunca encontremos uma resposta!
Primeiro deverá ser dissipado
qualquer ideia paranoica de que “todos a princípio são suspeitos”! Isso levaria
a um caos absoluto e um verdadeiro surto generalizado de delações das mais
estapafúrdias possíveis!
Segundo, o bom senso deverá
prevalecer buscando sempre minimizar o impacto das ações preventivas
eventualmente realizadas.
Terceiro o uso de um poderoso
sistema amparado por banco de dados (Big
Data) que permita via complexos algoritmos e redes de pesquisa,
encontrar correlações entre ações e movimentos que possam identificar possíveis
suspeitos. Um exemplo foi o rastreamento realizado pelo FBI, em 2011 de
Tarmerlan Tsarnaev (um lobo solitário?)
que infelizmente não produziu resultado ou foi deliberadamente arquivado. Essa
suspeita poderia ter produzido uma investigação silenciosa e discreta que de
certa forma resultaria no efeito de impedir o trágico evento de Boston.
Voltamos então, a máxima já
veiculada neste Blog: “o preço da liberdade é a eterna vigilância!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário