terça-feira, 11 de abril de 2023

Chip Semicondutor - O Petróleo na era da Automação

Chip Semicondutor

O Petróleo na era da Automação




Com o advento das Bigs Tech, a massa de informações geradas por todos aqueles que acessam as redes de internet, passaram a ser armazenadas por essas empresas, em seus silos de dados, e essa avalanche de conteúdo, dos mais diversos, passou a ser denominada de “o novo petróleo”; isso porque esses dados são essenciais, tal qual o combustível para um veículo, como o objetivo de fazer operar sofisticados algoritmos que, diferenciando e filtrando esses dados em caráter personalizados, criam perfis de consumidores, assim como prospectam tendências comerciais, sociais, políticas, religiosas etc.

Hoje, o perfil de cada usuário das redes de internet, que utilizam os mais diversos aplicativos oferecidos “gratuitamente” por uma gama variada de empresas, tem seu preço, afinal não “há almoço grátis”! Mesmo com os rigores das LGPD, há formas de contorná-las e nada impedirá que esses dados sejam utilizados para os mais diversos fins.

O exemplo mais contundente de toda essa exploração personalizada da nossa privacidade foi exposto no conhecido escândalo da Cambridge Analytica, quando, adquirindo dados dos perfis dos usuários ingleses do Facebook, retirados de seus massivos Big Datas, manipulou os eleitores nas eleições do Brexit, mediante um meticuloso processo de engenharia social, que resultou em 51,9% dos votos a favor da saída do Reino Unido da União Europeia!

 Em certa medida, apesar dos diversos distúrbios geopolíticos que aconteciam nas mais diversas regiões, pouco impacto produzia nas cadeias globais de suprimentos e nas condições gerais do livre comercio, com algumas exceções.

Porém, a pandemia e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, uma “guerra proxy”, um conflito armado entre dois ou mais países, no qual esses países utilizam um terceiro país para lutar em seu lugar, que está se desenvolvendo entre Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que ultrapassa um ano de enfrentamento, mostrou de forma bastante desnuda, como as nações estão fragilizadas diante das cadeias globais de suprimentos.

A exemplo de um despertador que nos “acorda” pela manhã para nos prepararmos para mais um dia de trabalho, a pandemia e esse conflito deflagram um novo olhar para as estratégias das cadeias de suprimentos, suas alternativas e riscos, sob a ótica do mercado fornecedor, como também do mercado comprador.

Com a ascensão da China no mercado internacional e os avanços consideráveis das tecnologias que propiciaram, através da microeletrônica embarcada, a automação, a robótica e a inteligência artificial, um elemento chave despontava com peça crucial para movimentar essas tecnologias, tal qual o oxigênio é para nós humanos: os chips semicondutores; em razão do que, tomamos a liberdade de denominá-lo de o “novo petróleo na era da automação”.

Só a título de exemplo, com o objetivo de o leitor ter uma dimensão do processo de miniaturização dos componentes eletrônicos, um processador Intel Core i7-10700K da 10ª geração possui cerca de 10,3 bilhões de transistores e mede cerca de 37,5 mm x 37,5 mm; enquanto o processador Intel Core i7-1165G7 da 11ª geração possui cerca de 1,4 bilhão de transistores, medindo 11 mm x 11 mm.

Segundo dados da Visual Capitalist (2021) o mercado de semicondutores atingiu em 2020 o montante de U$ 400 bilhões e as estimativas para esse ano de 2023 atinge US$ 1 trilhão. Os milhões de dispositivos digitais que usamos, de smartphones a carros elétricos, computadores, robótica e os negócios que eles permitem, só funcionam graças aos intrincados chips construídos em semicondutores. Uma cadeia de fornecimento integrada de semicondutores que envolve milhares de empresas, milhões de pessoas e bilhões de dólares.

Estudos citados pela Visual Capitalist indicam que até 22,5% do PIB global é constituído pela economia digital global; sendo que as maiores aplicações desses dispositivos ocorrem na fabricação de smartphones (25,7%), computadores pessoais (20,5%) e data centers e servidores (14,6%)!

Taiwan, um estado insular classificado como desenvolvido em termos de liberdade de imprensa, saúde, educação pública, liberdade econômica, entre outros indicadores socioeconômicos, detém hoje, através da TSMC (Taiwan Semiconductor Manufactering Company), criada em 1987 com o objetivo de fabricar processadores para empresas, a primazia na fabricação de chips semicondutores de altíssima performance e tornou-se o maior fornecedor do planeta para esse tipo de produto da microeletrônica.

Seu parque industrial conta com 20 fabricantes de semicondutores que produzem chips semicondutores para as grandes tendências digitais da economia global, sendo a TSMC a maior delas, com uma vasta variedade de clientes, desde as gigantes como a Apple e a Qualcomm, tanto quanto para empresas de menor porte como por exemplo a Ampere Computing.

Sendo os semicondutores um componente essencial para os microchips que alimentam praticamente todos os dispositivos eletrônicos modernos, sua demanda aumenta consideravelmente na medida em que crescem as aplicações da microeletrônica, assim como os novos projetos de equipamentos eletrônicos utilizados nas mais diversas aplicações: comunicação, área militar, medicina, telemetria, satélite etc.; fato que, indiscutivelmente, sua demanda continuará a crescer de forma exponencial.

A indústria taiwanesa é a maior produtora do planeta absorvendo 63% de toda a produção, onde a TSMC se destaca com 54% de toda a produção de Taiwan, sendo em segundo lugar a Coreia do Sul com 17 % (Samsung); logo a seguir temos os Estados Unidos (7%) e a China com (6%) da produção mundial. Percebe-se que a produção global está concentrada em quatro regiões totalizando a dominância de 93% da produção global! Obvio que essa alta concentração, em especial a privilegiada posição de Taiwan no rank internacional, a coloca com a maior produtora!

A posição estratégica de Taiwan, também conhecida República da China, vem causando muitas pressões geopolíticas entre a China, Taiwan e Estados Unidos; principalmente após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto de 2022 e mais recentemente com a presença de Tsai Ing-wen a presidente de Taiwan nos EUA em visita ao presidente da Câmera de Representantes dos EUA, Kevin McCarthy.

E, diante da corrida tecnológica dominada por Taiwan e o pulsar de um possível conflito entre Taiwan e China, assim como os reflexos das cadeias de suprimentos sentidos durante a pandemia, acabou levando a uma avalanche de investimentos da construção de manufaturas, como por exemplo, a União Europeia (UE), projetando busca a independência na produção de chips, planeja incentivar a indústria de chips com 43 bilhões de euros (R$ 230 bilhões) em fundos públicos, com o objetivo de aumentar a sua participação na produção global em 50% até 2030. O início desse projeto já começa a tomar corpo com a enorme fábrica de chips da Intel instalada em Magdeburg, no estado alemão da Saxônia-Anhalt.

Por sua vez, a Samsung Electronics não se encontra parada e planeja investir US$ 230 bilhões nos próximos 20 anos com o objetivo de desenvolver na Coreia do Sul, “a maior base mundial de fabricação de chips”, segundo o próprio governo sul-coreano.

Do mesmo modo, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), com um investimento de US$ 12 bilhões, já iniciou a construção de uma nova fábrica nos EUA, no Estado do Arizona, onde passará a produzir chips.

O fato é que esse produto em escala nanométrica é indispensável para o mundo moderno, onde sua aplicação encontra-se diversificada em um vasto campo e em diversos ramos da tecnologia, deste um simples controle eletrônico de uma máquina de lavar, até satélite e misseis com ogivas nucleares.

Ficar dependente dessa tecnologia é, segundo a minha ótica, ter as pernas quebradas num evento de uma corrida de obstáculos.

Infelizmente o nosso Brasil encontra-se muito distante desse processo, especialmente porque precisa criar massa crítica focadas na educação de altíssima qualidade, disponibilizar recursos para pesquisas avançadas nos mais diversos campos que tragam retornos, o quê, pelo visto, passa distante dos objetivos do atual governo!

Fonte:

The semicondutor supply chain – visualized – disponível em https://www.visualcapitalist.com/sp/visualizing-the-global-semiconductor-supply-chain/ - acesso: 05/04/2023.

The Top 10 Semiconductor Companies by Market Share  – disponível em https://www.visualcapitalist.com/top-10-semiconductor-companies-by-market-share/ - acesso: 05/04/2023.



Nenhum comentário:

Postar um comentário