sexta-feira, 10 de março de 2023

 

O Renascimento da AI – O Novo “AI-luminismo”.


O título desse artigo é, em certa medida, propositalmente provocativo!

O Iluminismo foi um fantástico movimento ocorrido no século XVIII, que resultou em grandes mudanças na sociedade e na forma de vida das pessoas e suas visões perante o mundo que as circundava. Princípios fundamentais na política, na ciência, na literatura, nas artes e na filosofia foram erigidos nessa era.

Há controvérsias sobre o tema abordado, por exemplo, Pinker (2018) retrata que o Iluminismo, embora tenha apresentado avanços consideráveis em todos os campos do conhecimento humano, mostrou falhas tectónicas, as desconsiderar em seu bojo, as tradições de culturas não ocidentais.

Apesar de tudo isso, é incontestável que o Iluminismo catapultou o conhecimento humano nas mais diversas áreas, para outros patamares muito mais elevados.

Hoje vivemos uma nova era a qual, tomamos a liberdade de defini-la como a era do “AI-luminismo” , visto que a Inteligência Artificial (AI), tal qual um vírus que se multiplica velozmente, se propaga por todos os campos do conhecimento humano.

Seus pioneiros foram pessoas talentosas como Alan Turing, matemático britânico e responsável por decifra a famosa maquina Enigma (criptografia alemã), John McCarthy, cientista da computação que cunhou o termo “Inteligência Artificial”, Marvin Minsky, fundador do MIT_AI Lab em 1959 e defensor do uso de redes neurais com objetivo de simular o cérebro humano (Gonçalves – 2018 - Blogger), assim como Arthur Samuel, criador do primeiro jogo de Xadrez em 1952 que possuía a capacidade de aprender a cada jogada, bem como Herbert Simons e Allen Newel criadores dos primeiros algoritmos para a resolução de problemas complexos, como também responsáveis por criar o primeiro programa capaz de jogar “Damas” em 1959.

Esses pioneiros erigiram a Inteligência Artificial e permitiram os seus avanços até a nossa era. Parafraseando Einstein, embora a frase original tenha sido atribuída a Isac Newton: “A Inteligência Artificial chegou nos atuais estágios, por ter crescido em ombros de gigantes!”

Apesar de todo esse entusiasmo inicial, no qual a AI despontava promissora e a injeção de grandes investimentos nas suas pesquisas, ocorreu uma primeira decepção dado que as expectativas, talvez impulsionadas pela ficção científica e a tecnologia existente à época, acabou por estagnar o seu progresso, a tal ponto que tivemos um período que ficou conhecido como “AI Winter”, o inverno da AI.

Somente na década de 1980, como o advento de novas tecnologias e novas técnicas matemática, como por exemplo, a lógica Fuzzy, desenvolvida pelo matemático Lotfi Zadels, também conhecida como lógica difusa que passou a ser utilizada no controle de processos, análise de dados e tomada de decisão, por permitir o uso de informações incompletas e ambíguas, levaram, em certa medida, a modelagem de sistemas complexos. O mesmo acontecendo, em paralelo, como o desenvolvimento de complexas redes neurais artificiais.

Esses avanços permitiram abrir um variado leque para novas aplicações da Inteligência Artificial, elevando as suas pesquisas e aplicações para as mais diversas áreas como a robótica, reconhecimento de imagens, processamento de linguagem natural, etc.

Seus avanços se fizeram sentir através desse construto de pesquisas acumuladas e levaram a sofisticadas técnicas, como as redes neurais de aprendizado profundo, através de várias camadas de processamento, o que permitiu avanços significativos na área de visão computacional, reconhecimento de fala, processamento de linguagem natural.

A sua evolução a partir de 1980 foi exponencial, proporcionando avanços significativos em diversas áreas das nossas vidas, como por exemplo, automação de processos, robótica, segurança e privacidade, comunicação e saúde, educação, assistentes virtuais (Siri da Apple, Alexa da Amazon e Google Assistent da Google etc), reconhecimento de fala, visão computacional, diagnósticos médicos, serviços financeiros, comércio eletrônico, marketing e publicidade etc. etc.

Não demorará muito tempo para que os recursos, muitos deles em uso no nosso dia a dia, para que eles sejam incorporados às nossas vidas de forma tão corriqueira como  hoje utilizamos a energia elétrica.

Essa fase que consideramos como o novo AI-luminismo, após o período de hibernação pelo qual a inteligência artificial passou e, tal qual a revolução cultural, política e social ocorrida no século XVIII. Hoje a inteligência artificial é protagonista de uma nova revolução!

Entretanto, uma reflexão precisa ser efetuada, tendo em vista a dupla face em que se reveste a inteligência artificial, qual seja, o seu uso para criar benefícios e bens estar para a humanidade ou a sua utilização com fins maliciosos ou totalitários. Nesse pormenor, basta lembrar da fala de Vladimir Putin para um grupo de estudantes na Rússia, no ano de 2017: “quem dominar a inteligência artificial, dominará o mundo!”

Nesse contexto, podemos considerar dois efeitos “halos” produzidos pelas tecnologias que aceleraram o desenvolvimento e as aplicações da inteligência artificial:

O “halo positivo”, por ser observados nos exemplos:

Produtividade – a automação de tarefas repetitivas e rotineiras estão sendo substituídas pela inteligência artificial, liberando assim, a mão de obra para a realização de trabalhos mais complexos e atividades criativas;

Educação – através da personalização da experiência de aprendizado focado no desenvolvimento de cada aluno, mediante a oferta de recursos e materiais adaptados às particularidades individuais;

Detecção de Fake News e Deep Fakes – a inteligência artificial tem potencial para a identificação de notícias falsas, vídeos manipulados, imagens falsas, assim como através de sistemas de detecção de sentimentos avaliar o tom das linguagens e postagens inseridas nas redes sociais.

Medicina – através dos algoritmos que auxiliam na detecção de doenças, assim como no desenvolvimento de novos medicamentos e oferecimento de tratamentos mais personalizados e mais eficazes por ser dirigido individualmente para cada paciente;

Segurança – através da detecção e prevenção de atividades criminosas, ações de terroristas, segurança patrimonial em edifícios e instalações públicas, detecção de anomalias etc.

Sustentabilidade: no apoio ao monitoramento dos ecossistemas, previsão de mudanças climáticas e desenvolvimento de soluções eficientes e sustentáveis para atender aos requisitos dos desafios ambientais que enfrentamos.

Enquanto um “halo negativo” temos por exemplo:

Discriminação e preconceito – influenciada por algoritmos enviesados, a inteligência artificial poderá levar a tomada de decisões discriminatórias e preconceituosas. Para os interessados sugiro a leitura do livro de Cathy O´Neill denominado: Algoritmos de destruição em massa (2021);

Violação de privacidade – através de algoritmos que promovam a coleta e processamento de grande volume de dados de pessoas e mesmo, com base eles, realizar operações fraudulentas ou extorsão junto a determinadas pessoas;

Perda de postos de trabalho: já comentamos em diversas postagens realizadas nessa plataforma, sobre os efeitos devastadores que serão produzidos com os avanços acelerados a inteligência artificial na substituição de mão de obra por sistemas de automação robótica;

Dependência tecnológica – esse é outro fator extremamente preocupante! Considerando que a inteligência artificial vem operando mediante a construção de imagens, elaboração de textos dos mais diversos (ver artigo que publicamos nessa plataforma: AI, Midjourney e GPT-3 – Uma jornada para a demência digital), poderemos perder a capacidade cognitiva para desenvolver texto ou produzir imagens criativas. Do mesmo modo, uma  falha dos sistemas poderá colapsar toda uma região ou mesmo um pais. Exemplo: perigosa tempestade geomagnética de grande intensidade provocada pelas atividade solares!

Uso indevido da AI – na produção de softwares maliciosos, ataques cibernéticos, invasões de sistemas, comprometendo instalações críticas, sistemas financeiros, indústrias, governos etc.

Diante desse quadro, é importante alertar que a ocorrência desses “halos” poderá levar as pessoas a passarem a confiar nas soluções oferecidas pela inteligência artificial, acreditando cegamente que a inteligência artificial resolverá todos os problemas complexos da humanidade e nesse sentido aceitar, sem qualquer juízo crítico, as decisões fornecidas pela AI.

O importante é ter em mente que devemos ter cautela na tomada de decisões oferecidas pela inteligência artificial, evitando o “halo cognitivo” de aceitá-las cegamente com o objetivo de mitigar riscos associados a essa prática.

Ao final, caímos no velho desafio da esfinge de Tebas que inqueria cada peregrino que por ela passava: “Decifra-me ou lhe devoro"!



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