AGRONEGÓCIO E
PLANO LOGÍSTICO
Sem dúvidas, o agronegócio
brasileiro vem apresentando um elevado crescimento e mesmo produzindo melhorias
na pauta de exportação.
De um lado, análises
realizadas pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), tomando
como base o índice “produto agropecuário”, identificou que esse índice cresceu
quatro vezes no período de 1975/2016.
Em recente levantamento realizado
pela CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) a estimativa da safra
2017/2018 é de 226,04 milhões de toneladas; onde a produção pecuária passou de
1,8 milhões para 7,4 milhões de carcaças; a de suínos 500 mil para 3,7 milhões
de toneladas, e a de frango de 373 mil para 13,23 milhões de toneladas.
Adicionalmente, vale registar
que o consumo de fertilizantes passou de 2,0 milhões de toneladas (1975) para
15 milhões (2016). Especificamente nos itens de nitrogênio, fósforo e cálcio
esse crescimento partir de 6,5 milhões (1975) para 15 milhões de toneladas
(2016).
De outro lado, no período de
2000 à 2016, os produtos que mostraram maior participação na amostra de
produtos analisadas pelo IPEA, foram: soja, açúcar, laranja, banana e frango,
valendo destacar que a forte seca ocorrida em 2016 foi a grande responsável
pela queda na produção de grãos.
Do mesmo modo, afetou
consideravelmente a produtividade dos fatores, cuja média histórica atingia
3,08% apresentando-se em baixa para 1,24% nos últimos cinco anos.
Apesar de todos esses contratempos, o Brasil tornou-se um grande
produtor de alimentos e um dos maiores produtores e exportadores de carnes,
resultado principalmente dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos
setores públicos e privados aliados à uma política de incentivos setoriais. Uma
projeção da produção de grãos até 2027 pode ser visualizada na figura 2.
Figura 2 – Projeção da Produção de Grãos
Fonte: Ministério da Agricultura.
Como mencionado em nossa
postagem anterior, 55% dos grãos são movimentados através do modal rodoviário o
que provoca transtornos consideráveis devido à baixa qualidade das estradas e
suporte logístico nos portos o que acaba produzindo as famosas filas
quilométricas de veículos aguardo sua vez para descarregar.
Mesmo que esse transporte
fosse realizado pelo modal ferroviário, os custos dos fretes não seriam
reduzidos devido as deficiência logísticas já diagnosticadas na nossa postagem
anterior: falta de infraestrutura, escassez de armazéns e inexistência de uma política de
armazenagem definida para as safras, o que obriga aos produtores utilizarem
armazenagem terceirizadas, além do alto custo dos fretes.
Com custos operacionais
elevados, bastando citar que, segundo pesquisas realizadas pela CNT
(Confederação Nacional de Transporte), devido a baixa qualidade das
rodovias, os custos de transporte aumentaram 24,9%; resultado de um pífio investimento
em infraestrutura. O agronegócio, deslanchando no campo, acabou emperrado
por uma logística ineficiente e de altos custos!.
Em 2015, por exemplo, os
investimentos federais em infraestrutura de transporte no computo geral de
todos os modais, foi num ridículo percentual de 0,19% do PIB (Produto Interno
Bruto), apesar da flagrante demonstração de que o agronegócio brasileiro é um
motor que vem alavancado a pauta de exportação e influenciando
significativamente no desempenho da economia brasileira. Para usar uma velha
expressão popular, “tem governo que é
cego”!
A figura 3 apresenta, com base
nos estudos realizados pela CNT, no diagnóstico da infraestrutura de transporte
brasileira, a posição do Brasil perante diversos outros países,
correlacionando-a ao PIB per capita dos países selecionados nessa análise; mostrando que o Brasil ficou na última posição perante esses países !
Importante ressaltar, conforme estudos realizados pela Inter.B Consultoria, que os investimentos em infraestrutura no Brasil, precisam subir, dos atuais 1,37% do PIB (Produto Interno Bruto), o menor percentual dos últimos 50 anos, para no mínimo 4,15% nas próximas duas décadas !
Importante ressaltar, conforme estudos realizados pela Inter.B Consultoria, que os investimentos em infraestrutura no Brasil, precisam subir, dos atuais 1,37% do PIB (Produto Interno Bruto), o menor percentual dos últimos 50 anos, para no mínimo 4,15% nas próximas duas décadas !
Figura 3 - Qualidade da infraestrutura de
transporte e PIB per capita.
Fonte: CNT (2017)
A ineficiência logística acabou levando o
agronegócio sofrer os altos custos logísticos, apesar de o Governo Federal
lançar vários planos, fracassados e marqueteiros denominados PAC`s (Programa de
Aceleração do Crescimento) que, em uma linguagem mais oportuna, deveria ter
sido chamado de Programa de Aceleração da Corrupção, haja vista os resultados
que vem demostrando as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público.
Agora um novo plano, focado no
agronegócio e elaborado pelo Ministério da Agricultura-Embrapa, tem como
objetivo apresentar melhorias significativas na logística do agronegócio,
reduzindo gargalos e melhorando significativamente a sua eficiência operacional
e mesmo reduzindo custos logísticos.
O escopo desse novo plano, denominado
de Plano Logístico para o Agronegócio, está sendo conduzido pela Embrapa
Territorial (Campinas/SP), cujo projeto resultou na escolha de 30 obras
rodoviárias, ferroviárias e hidroviárias, que, segundo os responsáveis, terão
um potencial de resolver 60% dos gargalos logísticos existentes hoje e que impacto
o escoamento das safras.
A figura 4 apresenta o mapa do agronegócio brasileiro elaborado pelo Ministério da Agricultura - Embrapa.
Figura 4 – Mapa do Agronegócio Brasileiro
Fonte: Ministério da Agricultura/ EMBRAPA
Usando tecnologia de ponta, o
mapeamento das áreas via imagens de satélites (foram geradas 150 mil imagens) e
um sistema de “inteligência territorial
de macrologística”, desenvolvido pela equipe da Embrapa de Campinas sob a
coordenação do pesquisador Evaristo de Miranda, foi possível identificar as
principais rotas de escoamento para diversos segmentos do setor agropecuário
(1,6 bilhões de toneladas de matérias-primas do agronegócio, insumos,
equipamentos, são transportadas pelos diversos modais existentes: rodoviário,
ferroviário, hidroviário e dutoviário), cujo resultado é a proposição de projetos e alternativas destinadas a otimizar
o processo de escoamento do agronegócio.
O sistema opera numa
plataforma on-line que foi desenvolvida pela Embrapa Territorial (Campinas, SP)
e mostra a origem, os caminhos e o destino dos principais produtos da
agricultura e da pecuária nacionais.
A plataforma disponibiliza
mapas com dados históricos cobrindo os últimos 17 anos de cada área, respectivo volume de
produção, quantidades exportadas e destinos, envolvendo as principais cadeias
produtivas, desdobradas por microrregião, estado ou região.
A operação dessa
plataforma permite cruzar dados numérico e gerar tabelas, gráficos e mais de
100 mil mapas dinâmicos georreferenciados aos modais logísticos utilizados nas
cadeias logísticas para enviar a produção e receber insumos (fertilizantes,
máquinas, defensivos agrícolas etc). Possui também um banco de dados
georreferenciado das milhares de estruturas de armazenagem e unidades
processadoras.
Dentro do escopo do projeto
esse sistema permitirá identificar gargalos e oportunidades de investimentos,
com a finalidade de ampliar a competitividade do agronegócio envolvendo as
principais cadeias que representa 90 % da carga do agronegócio: soja, milho, café, laranja, cana-de-açúcar,
algodão, papel e celulose, aves, suínos e bovinos.
O sistema é aberto para
qualquer cidadão que queira fazer uso de dados, como mapas, quadros evolutivos,
gráficos, localização de áreas de escoamento e encontrar oportunidades ou
gargalos para seu negócio ou estudos. Para o leitor interessado em maiores detalhes, basta acessar o link apresentado abaixo:
É um plano destinado ao
escoamento de safras em todas as áreas: cana, soja, milho e tudo onde for
possível conseguir redução dos custos de produção e custos logísticos, como
afirmou o Eumar Novacki, Ministro
interino da Agricultura, no Summit Agronegócio 2017.
Esse projeto, apresentado em
dezembro de 2017 ao ministro da Secretaria Geral do Governo Federal, tem como
propósito captar recursos de investidores do setor do agronegócio, transporte e,
numa espécie de “road show”, apresentar ao Ministério dos Transportes, ANTT
(Agência Nacional de Transporte de Transportes Terrestres) e Antaq (Agência Nacional de Transporte
Aquaviário).
A modelagem do projeto também
contempla um estudo que definirá o melhor modelo de investimento para cada
obra/concessão através das Parcerias Público-Privada (PPP) ou mesmo, dentro do
escopo de sua análise, definir a participação integral da obra pelo setor
público.
O sucesso desse empreendimento
pode ser definido nas palavras do presidente do Movimento Pró-Logística da
Aprosoja: “ É preciso que um projeto como
esse seja uma política de Estado, não de Governo”.
Fontes:
Gaspe, J.G; Bacchi.
M.R.P. e Bastos, E.T. in Crescimento e Produtividade da Agricultura Brasileira
de 1975 a 2016 - IPEA – Carta de Conjuntura – Nota Técnica IV – Número 38 – 1º
trimestre de 2018.
PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO - Brasil 2016/17 a 2026/27 - Projeções de Longo Prazo - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Secretaria de Polícia Agricola. (2017)
TranspoBrasil in Os
gargalos no escoamento da produção agrícola.Pakuslki, L; Tutelli,
C.; e Figueiredo, N. in Governo vai lançar plano logístico para o agronegócio
em dezembro – Estadão – 28/11/2017.
Santana, A.G. in Valor
destaca plano para otimizar a logística e Novacki menciona estudo da Embrapa –
Valor Econômico 03/01/2018.
Gonçalves, P.S. in O
Calvário Logístico do Agronegócio Brasileiro – blog:
professorgoncalves.blogspot.com.
O Globo Economia - Uma injeção de R$ 66 bilhões - Caderno de Economia de O Globo - 18/03/18 pag. 25.
O Globo Economia - Uma injeção de R$ 66 bilhões - Caderno de Economia de O Globo - 18/03/18 pag. 25.
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