A Fragilidade dos Sistemas Complexos
Entre a década de 70 e a década de 80, quando um
automóvel apresentava uma pane, normalmente no sistema de carburação, bastava
abrir o capô do veículo, retirar o carburador, fazer uma inspeção ou mesmo uma
limpeza geral e, após sua reinstalação o veículo estava pronto para se deslocar
a critério de seu condutor!
Hoje se, ao conduzir um automóvel o mesmo apresentar
um problema em seu computador de bordo, o motorista só terá uma alternativa:
ligar para uma empresa de serviços de reboque para levar o carro até uma
empresa concessionária para o devido reparo!
Na concessionária, um técnico, munido de um laptop,
pluga um cabo de interface, através de uma saída USB existente no veículo, para
então, utilizando um sofisticado software de diagnóstico poderá fazer uma
análise do problema e reconfigurar o sistema de controle do computador de bordo
do automóvel!
Hoje utilizamos uma miríade de infraestruturas,
todas baseadas na eletrônica e nos serviços de internet.
Por exemplo, os sistemas de apoio das aeronaves e
de localização via GPS são inteiramente dependentes de uma gama de satélites
estacionários que se encontram orbitando ao redor do nosso planeta. Todos com
alta tecnologia de eletrônica embarcada. Acontece que esses satélites são muito
frágeis a qualquer “regurgitação” das atividades solares. Uma explosão exacerbada
no sol provocará uma avalanche de massa coronal que se deslocará em alta
velocidade podendo destruir satélites e muitos sistemas de comunicação ao redor
do planeta!
Do mesmo modo, o dinheiro que circula no mundo, que
em 2007 era de quatro trilhões de dólares por dia, hoje em dia essa cifra está
beirando dez trilhões de dólares, e com fragilidade elevadíssima visto que a estrutura
de transferência eletrônica de ativos se realiza via sistemas de informação e
internet!
Importante registrar que o tráfego da internet é
realizado através de equipamentos denominados de servidores. Na medida em que esses servidores, responsáveis pelo tráfego pela internet, passem a ficar
sobrecarregados, o resultado é a ocorrência de uma grave sobrecarga! Essa
sobrecarga, que poderá ser originária de uma pane sistêmica motivada pelas
limitações relacionadas à capacidade do sistema e do crescimento vertiginoso do
tráfego da internet, também poderá ser resultado de ataques coordenados por
hackers! Diante dessa situação, o caos estará instalado!
Esse colapso poderá chegar a um estágio tal que a
internet sofra uma pane monumental chamada de buraco negro, conforme
denominação do cientista Dmitri Krioukov da
Universidade da Califórnia.
Os exemplos acima servem de reflexão para mostrar
como são frágeis as estruturas diante das suas respectivas complexidade!
Cada vez mais estamos dependentes de tecnologias
extremamente sofisticadas para as quais nos sentimos impotentes para solucionar
qualquer problema decorrente da um mau funcionamento desses sistemas!
Por exemplo, hoje um celular é muito mais do que um
simples aparelho telefônico: com ele é possível tirar fotos com boa definição,
enviar e receber emails, acessar
as redes sociais etc. Praticamente dependemos dele para nossas relações
pessoais, familiares e empresariais!
Uma queda no sistema elétrico coloca em completo
caos os sistemas de comunicação, inclusive a internet, dificultando assim o
acesso a informações, troca de mensagens e realização de operações entre
parceiros de negócios!
Na medida em que o homem avança nessa avalanche de
tecnologia e automação aplicada na manufatura e nos serviços mais e mais
dependente dela fica e mais e mais riscos fatais, poderemos correr!
Isso porque as empresas não estão muito interessadas em criar processos redundantes que permitam manter a operação dos diversos sistemas, afinal o investimento nessa área é elevado e, por conta disso, preferem correr o risco de uma pane !
Nota: Enquanto
finalizava este artigo tomei conhecimento que a quebra de um cabo de fibra
ótica deixou “fora do ar” os computadores de Ministério, da Secretaria do
Trabalho e de algumas agências do INSS no Rio de Janeiro. Igualmente uma pane
nos computadores do DETRAN do Rio de Janeiro deixou o sistema sem operar por
várias horas!Isso porque as empresas não estão muito interessadas em criar processos redundantes que permitam manter a operação dos diversos sistemas, afinal o investimento nessa área é elevado e, por conta disso, preferem correr o risco de uma pane !
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PAULO SÉRGIO GONÇALVES é engenheiro pela
Universidade Federal do E.E.Santo, M.Sc. em Engenharia de Produção pela
COPPE/UFRJ e MBA em Estratégia Empresarial.
Professor do IBMEC
Educacional – Unidade Rio de Janeiro.
Autor de três obras
didáticas:
Administração de Materiais –
4a. Edição – Editora Elsevier.
Administração do Estoques –
Teoria e Prática – em coautoria com E.Schwember – Editora Interciência.
Logística e Cadeia de
Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
Concordo com tudo... estamos todos à beira do abismo, vamos dizer. Não conseguimos sobreviver sem essa tecnologia que comanda cada segundo da nossa vida. Enfim, sem retorno.
ResponderExcluirCreio que em algum momento teremos que desacelerar o desenvolvimento tecnologico ou até retroceder a fim de que a humanidade amadureça o uso das atuais tecnologias. Precisamos ser humildes tanto para admintir os beneficios trazidos pelos avanços tecnologicos quanto para admitir os danos causados pela nossa imaturidade frente a tantas mudanças em tão pouco tempo. A humanidade precisa crescer em muitos aspectos antes de alcançar o ritmo do crescimento tecnologico e colher somente seus beneficios. Um exemplo banal para ilustrar meu comentário seria o Facebook: quando posto para bom uso, torna-se uma ferramenta inovadora, revolucionária e com mil e uma utilidades. Da maneira como está sendo usado hoje (por grande parte das pessoas) trata-se de um passa-tempo ilusório e infinita base de dados destinados à fofoca do cotidiano alheio.
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