domingo, 17 de janeiro de 2016

Guerra contra o Terrorismo - Uma logística complexa.

GUERRA CONTRA O TERRORISMO
UMA LOGÍSTICA COMPLEXA

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”


A emblemática queda do muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 rasgou o véu que encobria a denominada “cortina de ferro”, definindo um marco à liberdade que eclodia por todos os recantos do “regime comunista”. Entretanto, um novo muro se mostrou mais forte e mais atemorizador do que os fatos que antecederam a fusão de Berlim Oriental com Berlim Ocidental; o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 que acabou por erguer uma nova muralha invisível, psicologicamente perturbadora e fortemente preocupante: o terrorismo bateu na porta de uma nação que se dizia imune e impenetrável!  
Depois dos atentados em Paris ocorridos em 2015, o primeiro deles, um verdadeira carnificina no semanário Charles Hebdo e o segundo em 13 de novembro do mesmo ano deixando 129 mortos, o mundo hoje de uma forma mais presente, está em verdadeira guerra contra o terrorismo; uma forma covarde e vil de destruir propriedades, aniquilar pessoas, famílias e mesmo cidadãos inocentes que simplesmente estavam no local errado e na hora errada!
Esse é um fenômeno que vem se propagando tal qual uma onda que se eleva e vem ceifando vidas e colocando em estado de alerta máximo as grandes metrópoles e mesmo causando elevado nível de estresse para todos os cidadãos metropolitanos que, diariamente, circulam nos grandes centros urbanos.
Infelizmente não nos podemos “desligar” desse fenômeno, como se anestesiados estivéssemos diante de uma realidade que cada vez mais se torna presente e surpreende pelos efeitos devastadores quer seja na destruição patrimonial ou ceifando vidas humanas!
O terrorismo pode ser conceituado, segundo o FBI, como: "O uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou contra a propriedade para intimidar ou coagir um governo, a população civil, ou qualquer outro segmento, para a consecução de objetivos políticos ou sociais" , ou ainda, tomando emprestado a definição do Departamento de Defesa dos EUA, como: “O uso calculado ou a ameaça do uso da violência para causar medo, no intuito de coagir ou intimidar governos ou sociedades em função da busca de objetivos que são geralmente políticos, religiosos ou ideológicos" .
Como não existe um consenso sobre a definição do que é terrorismo, nem tampouco há delimitações de suas fronteiras que são difusas, Galito (2013) apresenta um quadro resumo das alternativas estudadas pelos pesquisadores Schmid & Jongman, que é mostrado na figura 2.

Figura 2 – Elementos definidores do terrorismo
Fonte: Galito. M. S. in Terrorismo Conceptualização do Fenômeno
WP 117/203 – CesA – ISeG – Universidade Tecnológica de Lisboa.

Há várias formas usuais da prática do terrorismo tais como: carros bombas, homens bombas e tantas outras formatações físicas de eventos objetivando a destruição dos alvos (pessoas, instalações pública e/ou privadas) ou mesmo através dos denominados “lobos solitários” quer sejam motivados por impulsos ideológicos, políticos ou psiquiátricos.
Uma vertente extremamente danosa é o denominado cyber terrorismo, que se aproveita da mais alta tecnologia existente para produzir danos de toda ordem tais como: introdução de vírus em sistemas computacionais que provocam danos, paralizações e outros eventos complexos, ataque a sistemas de Infraestrutura crítica, ataques a sistemas de defesa etc.
Além dessa, não podemos esquecer-nos do bioterrorismo, qual seja o uso de produtos e/ou vírus com objetivo de provocar contaminação nas populações nos mais diversas regiões do mundo.
O uso de agentes infecciosos como arma não é novidade, Marr & Malloy, citados por Da Silva (2001) indica que entre as dez pragas destinadas a castigar o Egito, uma delas teria sido o antraz ! Com bem explicita Da Silva na Opinion 1519: “Em tese, praticamente qualquer agente biológico pode ser usado como arma. O B. anthracis, o vírus da varíola, a Yersinia pestis e a toxina do Clostridium botulinum podem ser considerados os “clássicos” das armas biológicas”.
Ou como explicita Meyer (2015) quando relata o alerta dos especialistas sobre eventuais ameaças cataclísmicas, também conhecidas como guerra ambiental: “os terroristas poderiam criar caos graças à fabricação de novas doenças virais praticamente incontroláveis, que se espalhariam através de insetos ou pelo contato humano. Especialistas informam que isso poderia facilmente matar milhões de pessoas, além de todas as plantas e animais dos quais dependemos para sobreviver.”
Se, de um lado, a intolerância vem crescendo em nível global, de outro, os atores do terrorismo tendem a utilizar qualquer tipo de arma disponível (biológica, tecnológica ou química) espreitando-nos nos mais diversos espaços geográficos do planeta!
Especialistas em segurança afirmam que as redes convencionais de terrorismo declinarão pouco a pouco, em fase dos consideráveis avanços nas tecnologias de inteligência, organismo da lei e ações pontuais e ataques “cirúrgicos” promovidos pelos modernos aparatos da tecnologia a serviço dos militares.
Mas, é importante não se iludir: os ataques terroristas, grandes ou pequenos, infelizmente continuarão presentes e estarão dispersos por todos os cantos do planeta, como disse Paul Rosenzwelg do Departamento de Segurança Interna dos EUA: “estamos entrando numa era da democratização da capacidade destrutiva1.
Tecnologias para produzir diversos artefatos que antes eram consideradas “segredos militares”, estão hoje disponíveis na internet ou mesmo na denominada Deep Web (também conhecida como Dark Internet que não pode ser acessada ou que se tornou inacessível por meios convencionais)
Da exposição pessoal, tal qual os denominados “lobos solitários”, a exemplo da maratona de Boston em  15 de abril de 2013, quando duas bombas construídas com panelas de pressão explodiram causando a morte de três pessoas e ferindo outras 264, obra dos  irmãos chechenos Dzhokhar Tsarnaev e Tamerlan Tsarnaev; as ações agora tomaram configurações muito mais sofisticadas através das redes da internet  e de comunicação via satélites.
Outro aspecto importante a considerar está relacionado a denominada IoT (Internet of Things), cujo objetivo é interligar sistemas pessoais à sistemas globais que hoje amplia seu alcance por todos os lados, passou também a ser um novo foco das ações terroristas!
A vulnerabilidade dos sistemas está se tornando cada vez mais presentes a partir do avanço da tecnologia. A complexidade dos sistemas hoje, sem operações de redundância, acaba oferecendo uma “porta” para cyber terroristas infectarem sistemas, paralisarem fábricas, colapsarem aeroportos e muito mais!
Como disse Thomas Finger, hoje professor de Stanford, tendo participado do Conselho de Inteligência Nacional do Governo americano: “ a questão hoje não é quantas pessoas você pode matar, mas quanto consegue embaralhar o sistema.1
Um estudo realizado pelo Governo Britânico que resultou em um relatório denominado “Global Strategic Trends 2045”, explicita: “as ameaças terroristas internas deverão continuar no Oriente Médio e Norte da África , assim como os ataques a outras nações de grupos com base na região. Embora Al-Qaeda sofreu grandes baixas nos últimos anos, o fundamentalismo islâmico quase certamente irá continuar a alimentar as redes terroristas”
Esse mesmo relatório descreve um cenário verdadeiramente apocalíptico: “Avanços tecnológicos podem permitir que regimes desonestos ou grupos terroristas e criminosos sintetizem vírus altamente contagiosos e fatais, com longos períodos de incubação, que tornariam a contenção inicial e quarentenas muito difíceis. A promessa de um antivírus poderia ser usada para extorquir dinheiro, bens ou como alavancagem política. É até possível que esses vírus possam, no futuro, ser criados para atacar indivíduos ou grupos específicos, os tornando uma arma mais viável".
Portanto, não há receita mágica para o combate ao terrorismo, a não ser a velha máxima do Brigadeiro Eduardo Gomes dita por ocasião e sua campanha presidencial em 1945: “O preço da liberdade é a eterna vigilância !”
1 - op. cit in Meyer, J.

Fontes:
Galito. M. S. in Terrorismo Conceptualização do Fenômeno – WP 117/203 – CesA – ISeG – Universidade Tecnológica de Lisboa.
Da Silva, L.J in Guerra biológica, bioterrorismo e saúde pública - Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(6):1519-1523, nov-dez, 2001.
Raposo, A. C. in Terrorismo e Contraterrorismo – Os desafios do século XXI – Revista Brasileira de Inteligência – Brasilia, ABIN – nº 4 – v. 3 – set./2001.
Meyer, J. – O futuro do terrorismo segundo a Vice – in http://www.vice.com/pt_br/read/o-futuro-do-terrorismo-segundo-a-vice - acesso 10/01/2016.
Souza e Mello, A; Nasse, R. M e Moraes, R. F in Do 11 de setembro à Guerra ao Terror – reflexões sobre o terrorismo no século XXI – IPEA (2014)
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PAULO SÉRGIO GONÇALVES é engenheiro pela Universidade Federal do E. E.Santo, Mestre em Engenharia de Produção (M.Sc.) pela COPPE/UFRJ e MBA em Estratégia Empresarial pelo PDG/IBMEC, professor do IBMEC Educacional e autor das seguintes obras didáticas:
Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole;
Administração de Materiais – 5ª. Edicão – Editora Elsevier
Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência.

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