FERROVIAS
BRASILEIRAS
Como comentamos neste blog, a ineficiência no
transporte de cargas no Brasil vem reduzindo consideravelmente a expansão do
comercio internacional com agravamento dos custos logísticos e redução da
competitividade.
Nesta postagem vamos tratar do transporte
ferroviário.
Em função das suas características, o modal
ferroviário apresenta-se com grande eficiência para o transporte de cargas a
longas distâncias e tem um papel preponderante para o desenvolvimento de um
país de dimensões continentais como o nosso.
É importante ressaltar que o transporte
ferroviário mostra-se muito mais competitivo para distâncias superiores a 400
quilômetros devido a sua capacidade de transportar grandes volumes. É também
mais sustentável e tem alternativas de ser mais limpo permitindo inclusive o uso de
energia elétrica no deslocamento das composições (locomotivas e vagões).
Analisado sobre o prisma da carga propriamente
dita, o modal ferroviário é o mais vantajoso para cargas superiores a 40 toneladas,
independente da distância a ser percorrida no seu transporte.
A evolução da tecnologia na área ferroviária
produziu melhorias significativas na construção de novas ferrovias, permitiu a utilização
de equipamentos mais eficientes e mesmo aumentou a confiabilidade e a segurança
no transporte de passageiros e de cargas. Hoje grande parte das composições tem
eletrônica embarcada que resulta em melhor performance operacional e de
segurança na sua movimentação.
Considerando que o Brasil é país de dimensões
continentais o Governo Federal deveria ter incentivado a
utilização do modal ferroviário como melhor alternativa para o transporte de
carga e passageiros em todo o seu território.
Contrariamente, o modal rodoviário é aquele com
maior participação na matriz de transporte brasileira, como mostramos na figura
2 onde comparamos também com a matriz de outros países.
Figura 2 - Matriz de Transporte - Brasil e outros Países.
Fonte: ANTAQ
Embora a nossa malha ferroviária
tenha atingido 30.219 quilômetros conforme relatório da ANTT (Agência Nacional
de Transporte Terrestre), nesse total está incluído também as linhas destinadas
ao transporte de passageiros inclusive o sistema metroviário urbano.
Vale registrar
que ocorreu uma redução da extensão de nossas linhas férreas em comparação com
a existente na década de 60 quando a malha brasileira atingiu uma extensão
total de 38.287 quilômetros. A nossa malha sofreu um redução de 8.000
quilometro devido a eliminação de vias deficitárias e alguns ramais
ferroviários.
Através do
PIL (Programa de Investimentos em Logística) o Governo Federal pretende
produzir melhorias no setor em várias frentes, mediante ações que envolverão
também a participação da inciativa privada através das Parcerias
Público-Privadas (PP).
O elenco de
projeto que o Governo pretende atacar envolve: expansão a malha; construção de
acesso aos portos – principais corredores de exportação; adequação dos trechos;
manutenção das linhas e implantação de um novo modelo de concessão.
Neste
sentido estão previstos investimentos da ordem de R$ 91 bilhões (aproximadamente
US$ 37 bilhões), valendo destacar que desse total há previsão de aplicação do
montante de 55 bilhões (US$ 22 bilhões) nos próximos cinco anos e o restante em
até 25 anos. Apesar dos projetos de investimentos serem tão vultosos, não foram
contemplados dentro do planejamento a recuperação das ferrovias nem a
construção de contornos ferroviários.
Embora as
estatísticas venham a demonstrar que ocorreu um aumento da produção ferroviária
quando o Brasil apresentou uma expansão de cerca de 4,4 TKU (Tonelada
Quilômetro Útil) no transporte por ferrovias, vale destacar que esse aumento
deveu-se em grande parte a expansão no transporte de minério de ferro
que contribuiu significativamente para o aumento da movimentação da carga. O minério de ferro é a commoditie que absorve 73% do transporte ferroviário no país.
Em se
tratando de commoditie vale registrar
o caso da soja brasileira. Em Mato Grosso onde temos uma das lavouras mais eficiente
do mundo, com altíssima produtividade por hectare, a soja é transportada por
rodovias até o porto de Santos. Essa operação acaba produzindo um colossal
engarrafamento nas estradas, chegando a formar filas de caminhões que se
estendem por mais de 25 quilômetros! Mesmo com a criação dos denominados pátios
de estacionamento (Ecopátios - Figura 3) onde os caminhões aguardam para descarregar no
porto, a espera para o descarregamento pode chegar a mais de quatro horas!
Quanto a
movimentação de produtos através de ferrovias, destacamos na figura 4 a
distribuição dos principais itens transportados por esse modal no Brasil.
Figura 4 –
Principais produtos movimentados nas ferrovias.
Fonte: ANTT
e CNT
Inúmeros
são os fatores que depreciam a utilização do modal ferroviário no transporte de
cargas entre eles: a baixa velocidade que chega a atingir 5 km/h em áreas em que
ocorreram invasões nas faixas de domínio; linhas com curvas fechadas demais
obrigando a composição reduzir a velocidade, trilhos em péssimas condições etc.
No sentido
de incentivar a presença da iniciativa privada, algum esforço vem sendo
desenvolvido para a concessão da malha ferroviária, a começar através da Lei 8.987/95 na
qual Governo Federal definiu a estrutura da concessão. Esse dispositivo legal transfere para a empresa
concessionária a responsabilidade para controlar toda a infraestrutura, operação e
comercialização dos serviços. Porém, no ano de 2012, com a introdução do
denominado PIL – Programa de Investimento em Logística, um novo modelo de
concessão foi implantado.
Esse modelo, com maior complexidade e maior regulamentação de que o anterior, acabou
produzindo um aumento da interferência estatal no sistema de transporte
ferroviário. De um lado, a insegurança institucional, pois dois marcos
regulatórios passarão a viger nos próximos quinze anos (o anterior e o atual). De outro, a inibição de investimentos pela iniciativa privada em face do
arsenal de regras criadas.
Além disso, esse novo modelo põe em risco o
endividamento do Estado uma vez que a VALEC passa a ser a “controladora” da
oferta de serviços ferroviários o que, no nosso entender é um verdadeiro
absurdo! Esse modelo preconiza que toda a capacidade oferecida nas novas
ferrovias será adquirida pela VALEC com objetivo de garantir a oferta de
serviços e modicidade tarifária!
Não há
dúvidas de que o transporte ferroviário é um grande gerador de transformação
econômica, impulsionando o desenvolvimento, muito especialmente em países com o
Brasil em face de suas dimensões continentais. Seus custos mais reduzidos
mostram vantagens para a consolidação do País como o principal exportador
mundial de soja e minério de ferro.
Figura 4 –
Mapa Ferroviário Brasileiro.
Fonte:
VALEC
Apesar de
o Governo Federal planejar um incremento
da participação do modal ferroviário no transporte de carga, os projetos para
ampliação da capacidade do transporte desse modal (entre eles: Ferrovia
Norte-Sul, Nova Transnordestina, Integração Oeste-Leste (FIOL), Integração
Centro-Oeste (FICO), Ferronorte e Ferrovia do Pantanal – ver Figura 4), não
decolam com a velocidade necessária muito especialmente devido ao elevado atraso
na execução das obras motivado pela má qualidade dos projetos!
Fontes:
- O
Sistema Ferroviário Brasileiro - CNT – Confederação Nacional de Transporte
(2013).
- Deficiências
estruturais nas ferrovias e portos faz o Brasil desperdiçar bilhões – link: http://g1.globo.com –
21/04/2013 – acesso: 25/10/2014.
- Costa,
Mário C. in Ferrovias – O futuro sobre
trilhos – Relatório IPEA – 2009 – ano 7 – edição 55 – 17/11/2009 – link: www.ipea.goav.br/desafios - acesso 20/10/2014.
- Política
de Infraestrutura – Plano Mais Brasil – link: http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/PPA/2012/mp_005_dimensao_tatico_infra.pdf - acesso 26/10/2014.
- Mapa
Ferroviário – VALEC – link: http://www.valec.gov.br/acoes_programas/Downloads/MapaFerroviasValec_28_07_2014.pdf
- acesso: 25/10/2014
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Paulo
Sérgio Gonçalves é engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção
pela COPPE/UFRJ, professor do IBMEC/RJ e
autor das seguintes obras didáticas:
- Administração de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência;
- Administração de Materiais – 4ª. Edição – Editora Campus/Elsevier;
- Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
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