domingo, 4 de março de 2018

Agronegócio e o seu Calvário Logístico.

O CALVÁRIO LOGÍSTICO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Campeão mundial em produtividade
no campo, o Brasil perde de goleada
no apoio logística ao agronegócio!


Os anos passam, mas os problemas logísticos para o transporte de produtos agrícolas permanecem inalterados.

Apesar de o Brasil ter aumentado consideravelmente a sua produtividade no agronegócio, ainda padece com altos custos logísticos provocados pela má conservação das estradas, portos e ferrovias.

A figura 2 apresenta um fluxo básico que retrata com o milho e a soja são escoados desde os produtores até os mercados internos e externos.


Figura 2 – Fluxo de escoamento da soja e do milho
Fonte: CNT 2015.

Um país com dimensões continentais e possuindo uma vasta geografia hídrica, optou por um modal de transporte que, além de ter um alto custo logístico, perde no que se refere à economia de escala, como por exemplo, o uso do modal ferroviário ou hidroviário que tem uma grande capacidade de carga.

A figura 3 apresenta um estudo comparativo quanto a utilização de cada modal de transporte, levando em conta as distâncias percorridas e o modal de maior competitividade em custos logísticos.


Figura 3 – Comparativo entre modais
Fonte: Gonçalves,P.S. in Logística e Cadeias de Suprimentos – Slides.

No contexto da logística um estudo comparativo entre o Brasil e os Estados Unidos no que se refere à matriz de transporte de grãos mostrou que 65% dos nossos grãos são transportados por rodovias, contra 20% nos EUA, como mostra a figura 4.

Vale registar o prejuízo anual devido aos gargalos logísticos existentes que acabam aumentando os custos operacionais em 30,8% e produzindo um prejuízo anual de R$ 3,8 bilhões só devido a má qualidade da pavimentação das rodovias!


Figura 4 – Matriz de Transporte de grãos – Brasil x EUA
Fonte: CNT (2015).

Outro ponto desfavorável, a ser considerado é o fato de que grande parte da nossa produção de grãos ser transportada por via rodoviária, em detrimento à ganhos escalares com o transporte de grandes volumes em um mesmo veículo, como por exemplo utilizando-se os modais ferroviários e aquaviários (barcaças).

Aspecto adicional se repete diante da situação das rodovias, onde a qualidade da infraestrutura rodoviária brasileira, mostra-se apenas regular, com um percentual de 28,6% das rodovias com qualidade ruim ou péssima, segundo avaliação dos principais embarcadores, como mostra a figura 5.


Figura 5 – Qualidade das rodovias destinadas ao transporte de grãos
Fonte: CNT 2015.

Observando a nossa infraestrutura rodoviária, principal eixo no deslocamento da soja e do milho comparado aos principais países exportadores dessas commodities, o Brasil encontra-se da desonrosa 122° colocação (Figura 6), apesar de ser o agronegócio uma das grandes alavancas de sustentação do nosso Produto Interno Bruto (PIB) ! 

Apenas para registro, no ano de 2017, o crescimento do PIB de 1% deveu-se, em grande medida, ao impulso provocado pelo agronegócio!


Figura 6 – Qualidade da Infraestrutura – Principais exportadores de soja e milho
Fonte: CNT (2015) & Forum Econômico Mundial (2014/15).

É claro que esse elenco de fatores acaba por afetar os custos logísticos e, por via de consequência, reduzindo a nossa competitividade no mercado internacional de commodities.

Na questão dos portos brasileiros, apesar das melhorias implementadas objetivando dar maior agilidade ao processo, há ainda entreves que aumentam consideravelmente os custos logísticos.

Um diagnóstico produzido pela CNT (Confederação Nacional de Transporte) elencou, de acordo com uma pesquisa realizada junto aos principais embarcadores, os principais entraves relativos à questão portuária que pode ser visualizado na Figura 7


Figura 7 – Principais entraves na área portuária.
Fonte: CNT 2015.

Dentro do elenco de problemas, citamos acessos deficientes, elevados custos da mão de obra portuária, baixa produtividade dos equipamentos portuários, deficiência e baixa profundidade de seus berços, problemas nos canais de acesso etc.

Além dos entraves provocados pela própria operação logística nos portos, há também um excesso de burocracia no desembaraço das cargas que resulta em um ponto crítico severo com reflexos negativos na produtividade e redução de custos.

De um lado, a produtividade no campo brasileiro é elevada, muito especialmente devido aos trabalhos desenvolvidos pela EMBRAPA – Empresas Brasileira de Pesquisas Agropecuárias que é ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Segundo técnicos da instituição, o cultivar de soja convencional da Embrapa BRS 284 apresentou uma produtividade média de 88,45 sacas por hectare, enquanto o cultivar de soja BRS 511, obteve uma produtividade média de 71 sacas por hectare.

De outro lado, da porteira até porto, o transporte de grãos tem um custo quatro vezes maior do que nos Estados Unidos e Argentina, como observou o consultor CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Luis Fayet, em entrevista à Folha de São Paulo.


Figura 8 – Caminho da Soja.
Fonte: Google Imagens.

Num trajeto como o mostrado na figura 8, a viagem da soja começa em Lucas do Rio Verde (MT) por caminhão, num trajeto de 840 quilômetros até o Alto Araguaia (GO) e de lá, num percurso de 1.400 quilômetros segue seu destino até o porto de Santos.

Comemorando safras recordes, o Brasil perde sua competitividade no caminho desse cultivar desde o campo até os portos, com grandes riscos logísticos e e elevadas perdas devido a uma infraestrutura que continua capenga, apesar dos diversos anúncios de grandes investimentos que numa decolam!

De acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em um levantamento relativo à safra de grãos referente à 2016/2017, mostrou que a colheita atingiu 238,7 milhões de toneladas de grão, valendo destacar que ocorreu um aumento na produtividade dado que a produção aumentou 27,9% em relação ao período 2015/2016, enquanto na mesma comparação, a área plantada teve um incremento de apenas 4,4%.

Importante ressaltar que a região de MATOPIBA, mostrada na figura 9, também chamada de MAPITOBA, resulta de um acrônimo formado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, teve elevados avanços nas culturas de grãos e, segundo estudos realizados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) tomando por base as informações disponibilizadas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os estados que compõem o MATOPIBA apresentaram os maiores crescimentos nas áreas agricultáveis, em especial no que se refere à soja.


Figura 9 – Região de MATOPIBA
Fonte da Imagem: Cerrado Editora

A BR 163 que é uma das principais rodovias para o transporte de grãos, no trecho entre Sinop ( MT) e o terminal de transbordo de grão de Miritituba (PA),o frete é duas vezes maior do que em outras rodovias em trajetos semelhantes.

Ne época das chuvas, a operação se complica, cujo resultado é a presença de atoleiros (figura 10), cujo resultado é a formação de enormes filas de caminhões que chegam a atingir 15 quilômetros e uma espera de dois dias para que o veículo siga em sua rota.


Figura 10 – Atoleiros formados na BR 163
Fonte da Imagem Estadão - 04/03/2018.

Nessa região, o fluxo de veículos atinge uma média de 640 caminhões por dia que transportam uma média de 40 toneladas por veículo.

Pegando emprestado a famosa frase de Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), naturalista francês, que viveu em nosso País estudando as plantas, que afirmava: "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil"; adaptando-a à situação brasileira de hoje podemos afirmar: “Ou o Brasil melhora a sua infraestrutura logística, ou a infraestrutura logística vai acabar com o progresso do Brasil !.

Nesse enfoque, a CNT apresentou um elenco dos principais pontos a serem equacionados, buscando dar maior agilidade e competitividade. Entre eles citamos:

  • Necessidade imperiosa de se definir uma Política Nacional de Transporte;
  • Reduzir a burocracia assim como os órgão de planejamento e regulamentação do transporte; como diz o velho ditado: “Há muito cacique para pouco índio ! ”;
  • Aumentar a agilidade no desembaraço das cargas nos portos brasileiros, especialmente com a colocação em prática do projeto denominado Porto sem Papel, de tal forma a acelerar o desembaraço com uma única apresentação dos documentos legais necessários à operação.
  • Ter como meta permanente investimentos de forma contínua e planejada com objetivo de manter a nossa infraestrutura em condições de responder às exigências do mercado;
  • Desburocratizar processos entregando a iniciativa privada a gestão de infraestruturas como portos, aeroportos, rodovias etc.


O Brasil precisa crescer e a logística é indispensável para dar suporte adequado para que esse crescimento seja construído de forma sustentável e célere!

Fonte:

Leite, L. in Custos Logístico de transporte derruba competividade brasileira no exterior  - disponível em http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/09/1918752-custo-logistico-de-transporte-derruba-competitividade-brasileira-no-exterior.shtml - acesso: 01/03/2018.

Embrapa Notícias – in Produtividade de cultivares de soja da Embrapa supera expectativas – disponível em https://www.embrapa.br/web/portal/busca-de-noticias/-/noticia/31915690/produtividade-de-cultivares-de-soja-da-embrapa-supera-expectativas - acesso: 01/03/2018.

Globo Rural – in Conab estima safra de grãos 2016/2017 em 238,7 milhões de toneladas – disponível em https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2017/09/conab-estima-safra-de-graos-20162017-em-2387-milhoes-de-toneladas.html - acesso: 01/03/2018.

Oliveira, MATOPIBA 2020–Projeto que injeta R$ 50 mi na região começa a ser executado em 2018 - A Cerrado Rural – Revista de Matopiba  - disponível em http://cerradoeditora.com.br/cerrado/matopiba-2020-projeto-que-injeta-r-50-mi-na-regiao-comeca-a-ser-executado-em-2018/ - acesso: 02/03/2018.

CNT – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho – https://issuu.com/transporteatual/docs/estudo_transporte___desenvolvimento - acesso: 03/03/2018.

CNT – Economia em Foco - Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho – 22 jullho 2015  - disponível em : http://cms.cnt.or – acesso: 02/03/2018.g.br/Imagens%20CNT/ECONOMIA%20FOCO/economia_em_foco_22jun2015.pdf.

Azevedo, Luiz Rafael L.- in A Infraestrutura de escoamento de grãos de Mato Grosso – Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Economia – TCC (2014).
CONAB - Estimativa do escoamento das exportações do complexo soja
e milho pelos portos nacionais – Safra: 2016/17 - Compêndio de estudos Conab - V.6, 2017.

Porto, G. e Teixeira, D – in Lama, Buracos, Fila  e Cansaço na Estada da Soja Estadão – 04/03/2018.


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