GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS E RISCOS LOGÍSTICOS
O nosso mundo encontra-se hoje em
um verdadeiro caldeirão em contínuo processo de ebulição. Guerras localizadas,
terrorismo vagando por todos os lados, instabilidade de governos, queda
acentuada das atividades econômicas em determinados países, reivindicações das
mais diversas e ações populares incitadas pela força incomensurável das mídias
sociais (Facebook, WhatsApps, Twitter etc).
Todo esse cenário complexo e de
difícil dimensionamento leva a elevadas preocupações quanto ao desenho das
estratégias a serem implementadas nas cadeias de suprimentos, considerando-se
paralelamente os riscos envolvidos em suas operações, cujo objetivo primordial é atender aos requisitos das demandas de produtos, nos mais diversas regiões do
planeta.
Se, de um lado, a globalização dos
mercados abriu um leque de possibilidades de as empresas poderem operar nos
mais diversos países, desde que disponham de uma logística adequada e flexível; de outro lado, aumentam as preocupações quanto a vulnerabilidade da cadeia de
abastecimento, muito especialmente, em face dos diversos atores que estão
inter-relacionados para permitir que bens e serviços cheguem as suas mercados.
O ponto central aqui é manter a
cadeia de suprimentos em perfeito funcionamento para que não haja interrupção
no fornecimento de bens e serviços.
Ora, é sabido que quanto maior o
número de atores que atuam numa cadeia de suprimentos, maior será probabilidade
de ocorrência de fatores adversos à manutenção da continuidade do fluxo de
produtos e serviços, mesmo que essas cadeia se encontre bem projetada e funcione
de forma interligada e com total visibilidade.
Nesse sentido, não restam dúvidas de que é indispensável
analisarmos essa rede de suprimentos, dentro de uma ótica de riscos logísticos
no que se refere a uma ruptura da continuidade do suprimento.
Para tanto, devermos pensar em
estratégias que permitam analisar e criar planos alternativos para que possamos
manter constante, o fluxo de bens, tanto à montante, quanto à jusante da cadeia de
suprimentos.
A situação ainda fica mais complexa visto que estamos tratando do impacto da geopolítica e seus reflexos nas cadeias de suprimentos, numa percepção de que um verdadeiro “caldeirão” de conflitos, das mais variados, estão presentes em diversas partes do mundo.
A situação ainda fica mais complexa visto que estamos tratando do impacto da geopolítica e seus reflexos nas cadeias de suprimentos, numa percepção de que um verdadeiro “caldeirão” de conflitos, das mais variados, estão presentes em diversas partes do mundo.
Nesse contexto, duas estratégias são necessárias para reduzir os riscos logísticos na cadeia de suprimentos:
- Estratégia de mitigação - que funciona tal qual o uso dos freios em um veículo em movimento: destina-se a reduzir ao mínimo possível o impacto do dano causado a uma cadeia logística. O foco é reduzir as causas dos riscos logísticos.
- Estratégia de contingenciamento - que funciona tal qual o denominado “Plano B” e destina-se a manter as operações em funcionamento apesar dos danos causados. Um exemplo dramático: o incêndio em uma fábrica e seus danos vultosos poderá ser contingenciado pelo deslocamento da produção para outra unidade. A falta de suprimento de energia poderá ser suprida, em caráter emergencial, por geradores.
Para examinar a complexidade de eventos adversos,
apresentamos, na figura 1, como exemplo, um mapeamento
dos conflitos no mundo, segundo levantamento realizado pelo Council on Foreign Relations.
Figura 1 – Mapa dos conflitos no mundo
E na figura 2, dentro dessa mesma ótica e, num panorama global, pontuando em um mapa a ascensão do terrorismo no mundo e dos
conflitos internacionais.
Figura 2 – Mapa do Terrorismo e Conflitos
no mundo.
Fonte: www.portaldoprofessor.gov.br
As regiões afetadas por conflitos e de grandes riscos caracterizam-se
pela presença de guerras civis, insurgências ou guerras de libertação, elevada
instabilidade política, colapso da infraestrutura, insegurança generalizada, e
abuso e violação dos direitos humanos.
Diante do quadro descrito, torna-se externamente difícil e complexo,
projetar um plano de gerenciamento de riscos para uma a cadeia de suprimentos.
Esse plano estratégico de gerenciamento de riscos em áreas de conflito,
deverão ser prospectados levando-se em conta um elenco de fatores chaves para o
diagnóstico situacional, entre eles, podemos citar:
- Identificar as circunstâncias operacionais envolvidas na fabricação, manuseio, transporte e comercialização de produtos, quando for o caso.
- Identificar e diagnosticar riscos reais ou potenciais, envolvidos na cadeia de suprimentos, em especial, aqueles que diferem dos padrões habituais de riscos envolvidos na cadeia de suprimentos.
Objetivando promover um diagnóstico situacional de análise dos riscos é indispensável a busca de cooperação num leque, o mais amplo possível, envolvendo
os desafios a serem enfrentados, através da construção de parcerias entre os
demais entes envolvidos, intercâmbio e troca permanente de informações e a
busca de parcerias com organizações internacionais e a sociedade civil.
Hoje os riscos necessariamente têm que ser monitorados, muito
especialmente em face de a economia estar globalizada e os atores das cadeias
de suprimentos encontrarem-se espalhados pelo mais diversos recantos do planeta
(Figura 3).
Figura 3 – Plataforma de Monitoramento dos
Riscos.
Quanto melhor a análise situacional dos riscos e ameaças, sejam elas de
origem natural (Incêndios, inundações, tempestades, mudanças climáticas repentinas
(Terremoto, Tsunami etc.) ou atividades dolosas (Fraudes, Roubos, Chantagem,
Sabotagem, Vandalismo etc.) ou mesmo Terrorismo, maior a abrangência da análise
dos riscos e, por via de consequência, melhor poderão estar preparados os atores
da cadeia de suprimentos.
Isso decorre porque essa análise vai evidenciar ameaças potenciais e vulnerabilidades
ocultas que põem em risco a continuidade do fluxo de bens que circulam nas
cadeias logísticas, muito especialmente, em face da globalização e a percepção de
que as transações envolvidas no processo logístico podem e/ou poderão envolver
vários parceiros ou atores.
É evidente que a forma de abordar o risco é influenciada pela natureza
do negócio e, por razões estratégicas, dever ser levando em conta que, cada
interação com os atores que compõem a cadeia de suprimentos, pode introduzir
maior vulnerabilidade a continuidade do suprimentos.
Identificar vulnerabilidades localizadas ou distribuídas ao longo da
cadeia de suprimentos é elemento essencial para permitir uma abordagem
sistêmica do problema relacionado ao risco/vulnerabilidade, levando assim, a cada
parceiro e/ou ator dessa cadeia, a possibilidade de colaborar de proativa e de manter-se consciente
do seu envolvimento no negócio e de ter uma perfeita visão de seu papel diante da possibilidade dos riscos
diagnosticados.
Diante desse quadro
de análise diagnóstica da vulnerabilidade da cadeia de suprimentos, caberá
portanto explorar o elenco de fatores de riscos envolvidos nas operações
logística da empresa, não esquecendo de levar em conta que essa vulnerabilidade
poderá ser externa (fora da organização) ou interna (dentro da organização)
Nesse âmbito de diagnóstico, algumas perguntas chaves deverão ser formuladas e respondidas, entre elas:
Nesse âmbito de diagnóstico, algumas perguntas chaves deverão ser formuladas e respondidas, entre elas:
- Qual o reflexo na cadeia de suprimentos ou na logística de distribuição em sofrer uma interrupção em face de um evento inesperado?
- Quais os custos envolvidos na recuperação da cadeia de suprimentos?
- Há alternativas viáveis para contornar o problema? Que atores / colaboradores estarão engajados nesse processo de recuperação?
- Quais as consequências para a continuidade das operações, diante da possibilidade de um modal de transporte essencial ao suprimento de matérias-primas ou produto acabado sofrer um dano irreparável? Que alternativas estarão disponíveis diante desse fato? Que atores estarão diretamente envolvidos na operação de recuperação da cadeia de suprimentos?
- Se uma carga importante ou mesmo de alto valor for destruída, roubada ou contaminada por alguma agente físico (que seja pelo infortúnio, quer seja por sabotagem) quais serão os efeitos na continuidade das operações
- Que planos estratégicos situacionais a empresa desenvolveu para atender as hipóteses elencadas nos tópicos acima?
Com compilação dos resultados dessa análise preliminar, baseada num elenco que questões, a exemplo das apresentadas no parágrafo anterior, será então
possível examinar os principais pontos que deverão ser estudados, objetivando
a formulação de uma estratégia de gerenciamento de riscos de uma cadeia de
suprimentos e a sua implementação.
Para tanto, será indispensável:
- Entender o risco ambiental;
- Identificar e avaliar os riscos atuais;
- Quantificar e priorizar os riscos em função da análise situacional e diagnóstica elaborada com base no conjunto de perguntas formuladas, a exemplo das indicadas nos parágrafos anteriores;
- Desenvolver, em conjunto com os parceiros do negócios e/ou atores envolvidos na cadeia de suprimentos, estratégias de mitigação dos riscos;
- Desenvolver e implementar, num esforço conjunto com todos os envolvidos nas operações logísticas, estratégias de contingenciamento dos riscos;
- Desenvolver e implementar planos de ações estratégicas na seleção de alternativas e de cooperação entre parceiros da cadeia de suprimentos.
Não há dúvidas que o mundo globalizado produziu grandes oportunidades
de levar produtos e serviços em todas as partes do planeta, porém não podemos
deixar de lado as eventuais ameaças produzidas por diversos fatores
naturais e por atividades dolosas que poderão colocar em risco a cadeia de suprimento.
Fontes:
Goncalves,
P. S. – Logística e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
OECD in Due Diligence Guidance for Responsible Supply Chains of Minerals
from Conflict-Affected and High-Risk Areas https://www.oecd.org/corporate/mne/GuidanceEdition2.pdf
- acesso 31/12/2016.
Council on Foreign Relations in
Global Conflict Tracker - http://www.cfr.org/global/global-conflict-tracker/p32137#!/ - acesso 31/12/2016.
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Paulo Sérgio Gonçalves é engenheiro pela Universidade Federal do E.E.Santo, M.Sc. em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ e MBA em Estratégia Empresarial pelo PDG/IBMEC , consultor na área de operações (manufatura e serviços), professor do IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
Logística e Cadeia de Suprimentos - O Essencial - Editora Manole.
Administração de Estoques - Teoria e Prática - em coautoria de E. Schwember - Editora Interciência.
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