OS MIRABOLANTES PLANOS PARA
A
INFRAESTRUTURA BRASILEIRA
“O timing da política é diferente do timing do desenvolvimento econômico!”
Velloso at all.
Após uma sequência
de Planos de Aceleração do Crescimento (PAC) que, em sua maioria não saíram do papel
dos burocratas do Governo Federal, eis que a Presidente Dilma resolveu reunir a
nata dos ministros para uma reunião extraordinária com o objetivo de lançar um
novo programa para a infraestrutura brasileira (PIL – versão 2015).
Paralelamente
a questão que se impõe está relacionada a origem dos recursos necessários para esse
empreendimento, em um panorama nacional de baixo desempenho da economia, onde encontramos disparidades diante das intensões o Governo!
Primeiro, o
fato de que o PIB, segundo estimativas do Banco Mundial indicam um declínio em 2015
- a projeção atualizada segundo o
relatório World Economic Outlook do FMI é de uma
retração de 1%, em 2015, expansão de 1%, em 2016 e uma estimativa de 2,5% para 2020 (WEO - Statistical Appendix - pag.192).
Segundo, a
inflação já está contaminando todos os entes da economia nacional, colocando em
risco as metas de ajustes projetadas pelo Ministro Joaquim Levi, como mostra o
gráfico da figura 1. As estimativas dos analistas indicam uma elevação do IPCA
oscilando entre 8,2% à 8,8 % para esse ano de 2015!
Figura 1 –
Evolução da alta dos preços
É vergonho
perceber que o Brasil, a denominada oitava economia do mundo, padece de uma
doença crônica que é sua infraestrutura capenga e inoperante que acaba
produzindo o denominado “Custo Brasil”, dificultando a expansão dos mercados, as
exportação e produzindo perdas consideráveis nas nossas safras!
Aliado a
tudo isso está a nossa produtividade que, com raras exceções, está baixa em
relação à vários países e em relação aos BRIC´s como mostra a figura 2.
Figura 2 - Comparativo
da produtividade do Brasil em relação a outros países
Fonte: IPEA.
É
interessante observar o baixo desempenho dos programas lançados pelo Governo
Federal. Em 2012, por exemplo, o Plano de Investimentos em Logística, o
denominado PIL1 foi anunciado com “pompas e circunstâncias” representando
investimentos de R$ 241, 5 bilhões. O resultado foi pífio, haja vista que só
realizou R$ 55,5 bilhões – cerca de 23% do prometido!
Vale
lembrar que o Programa de Investimentos em Logística (PIL1) também incorporava o projeto do denominado Trem Bala (Rio x São Paulo), num montante estimado em
R$ 33,4 bilhões. Segundo estimativas de especialistas, esse montante seria
suficiente para construir cinco ferrovias norte-sul!
Para
gerenciar esse empreendimento foi criada a Empresa de Transporte Ferroviário de
Alta Velocidade S.A. (ETAV), através da Lei 12.743, de 19 de dezembro de 2012.
Posteriormente, dado a fiasco do projeto do trem de alta velocidade que ligaria o Estado do Rio de Janeiro ao Estado de São Paulo, a empresa passou a ter uma nova denominação: Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), ampliando as suas competências. Com bem explicita Velloso et all.: “o timing da política é diferente do timing do desenvolvimento econômico, e a pressa é o que diferencia o político comum do estadista.”
Posteriormente, dado a fiasco do projeto do trem de alta velocidade que ligaria o Estado do Rio de Janeiro ao Estado de São Paulo, a empresa passou a ter uma nova denominação: Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), ampliando as suas competências. Com bem explicita Velloso et all.: “o timing da política é diferente do timing do desenvolvimento econômico, e a pressa é o que diferencia o político comum do estadista.”
Neste ano surgiu uma nova edição (versão 2015) do denominado Plano de
Investimentos em Logística (PIL) que fixa uma previsão de gasto da ordem de R$
198,4 bilhões em projetos na área de portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. Segundo as estimativas de algumas consultorias, vai representar 1,75% do
PIB, um percentual muito pequeno em relação as necessidades mínimas para fazer
fluir adequadamente os bens no território nacional para consumo próprio ou para
exportação.
Para termos
uma ideia de quanto isso representa em investimentos nos últimos 15 anos, basta
observar a evolução dos aportes de recursos em infraestruturas, injetados nos
projetos desde o ano de 2.000, como mostra a figura 2.
Figura 2 - Gastos
em Infraestrutura em relação ao PIB.
Embora esse
novo programa pretende promover um certo alento para melhorar a infraestrutura,
ele poderá estar bastante comprometido, haja vista que 40% dos recursos a ele
destinados não estão ainda segurados.
Nessa
miscelânea encontram-se projetos repaginados tais como R$ 42 bilhões referentes
a obras em concessão já existentes e o projeto incerto que é a ferrovia até o
Peru cujas estimativa envolvem R$ 40 bilhões e é considerada, para muitos
especialistas como uma obra inviável!
Outro
aspecto desses mirabolantes “pacotes” do Governo é o questionamento que vem
sendo feito pelo Tribunal de Contas da União, dado que não existe uma avaliação
técnica previa dos mesmos. O Tribunal de
Contas da União declarou: “ ... os
achados desta auditoria denotam insuficiente grau de governança da política
pública do PIL Ferrovias. ..... na hipótese de permanência do cenário
evidenciado nesta fiscalização, a falta de estudos técnicos e econômicos atinentes ao referido
programa será elevada em consideração quando da fiscalização dos processos de outorga de concessões, permissões ou autorizações’ (op.cit. Relatório do
TCU). Como podemos observar, a fragilidade detectada pelo TCU vai mais além, com o mesmo declara: “não existem registro formais de
reuniões, debates ou estudos que sustentem o plano” (O Globo 10/06/15 pag.
-22).
A esperança
recai no fato de que, aparentemente o Governo colocou “os pés no chão”, se
levarmos em consideração de que o programa lançado apresenta aspectos mais
realistas dado que foi dirigido para ambientes de negócios que tem boa chance de
viabilizar as concessões e o próprio Governo reconhecer que não tem a menor
possibilidade de injetar recursos, nos montantes mínimos
necessários, para atender aos serviços de infraestrutura.
Só no
transportes, segundo estimativas da Confederação Nacional de Transporte (CNT)
são necessários recursos da ordem de R$ 1 trilhão!
Esperamos
que esse programa não caia na vala comum como tantos outros planos mirabolantes
do Governo!
Fontes:
Velloso, R.
; Mattos, C.; Mendes, M. e Freitas, P. in A nova Empresa de Planejamento e
Logistica (EPL) resolve os problemas de infraestrutura do País? – Brasil –
Economia e Governo - http://www.brasil-economia-governo.org.br – acesso: 15/06/15.
Casado, J,
in Um pacote bilionário e de alto risco para os cofres públicos - O Globo – 10/06/2015
– pag. 22.
Bastista,
H. G in Pacote “pé no chão”, focado e sem tabus – O Globo – 10/06/2015 – pag
23.
Freitas, A
– in A Inflação nossa de cada dia – O Globo – 11/06/2015 – pag 25.
Stewart, J. in The 15 priority infrastructure projects for Brazil - Exame - Forum Infraestrutura - Setembro de 2014.
Stewart, J. in The 15 priority infrastructure projects for Brazil - Exame - Forum Infraestrutura - Setembro de 2014.
World Economic Outlook - 2015 - disponível em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2015/01/pdf/text.pdf.
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Paulo Sérgio Gonçalves é
engenheiro, M.Sc. em engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professor do
IBMEC/RJ e autor das seguintes obras didáticas:
Administração
de Estoques – Teoria e Prática, em coautoria de E. Schwember – Editora Interciência.
Administração
de Materiais – 4ª. Edição – Editora
Campus/Elsevier.
Logística
e Cadeia de Suprimentos – O Essencial – Editora Manole.
Muito bem. Recentemente, em um encontro, um colega meu apresentou um artigo que avaliava a questão de transferência do governo vs. investimento em infra-estrutura. Em um cenário de cobertor curto, o certo a ser feito seria reduzir as transferências (absurdas) para o setores ricos como o judiciário, legislativo, e etc - se traduzindo por benefícios incontáveis e inimagináveis em um país como o nosso, e elevar, com isso, os investimentos em infraestrutura. O que poderia possibilitar um ganho de bem estar para todos.
ResponderExcluirMuito bem. Recentemente, em um encontro, um colega meu apresentou um artigo que avaliava a questão de transferência do governo vs. investimento em infra-estrutura. Em um cenário de cobertor curto, o certo a ser feito seria reduzir as transferências (absurdas) para o setores ricos como o judiciário, legislativo, e etc - se traduzindo por benefícios incontáveis e inimagináveis em um país como o nosso, e elevar, com isso, os investimentos em infraestrutura. O que poderia possibilitar um ganho de bem estar para todos.
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