A CHINA ESTÁ JOGANDO GO?
O jogo denominado “GO” ficou mais popularmente conhecido a
partir das famosas partidas realizadas entre os algoritmos de AI da Alphabet
(Google) e Ke Jie, considerado o maior jogador de GO; onde esse campeão mundial
acabou sendo derrotado pelas máquinas da Alphabet.
O Go é um jogo chinês milenar que é muito popular na China.
Trata-se de um jogo de estratégia que
possui infindáveis combinações nas jogadas. Seu objetivo primordial é isolar as
peças do adversário, impedindo-o de se movimentar no tabuleiro.
Cotejando as estratégias que vem sendo implementadas pela
China, especialmente através da sua meta ambiciosas conhecida como plano “Belt
and Road Iniciative”, popularmente conhecido como a Nova Rota da Seda,
percebemos que, gradativamente, a China avança na sua influência no planeta.
Nesse foco, os investimentos externos chineses, conhecidos
como Investimentos Diretos no Exterior
(ODI em inglês) atingiram, em 2020 a cifra de US$ 153,7 bilhões, fluxo esse que
representa 20,20% de todos os investimentos realizados globalmente pelos mais
diversos paises!
Ainda em 2020, a China já marcava presença em 189 países,
atingindo um total de 45 mil empresas, envolvendo aportes de recursos
acumulados via ODI totalizando US$ 2,58 trilhões ! (ChinaToday – Set 30, 2021).
Também vale registrar,
conforme destaca Kenny, C., em artigo publicado no Center for Global
Development (2022): “os empreiteiros chineses respondem por uma proporção
crescente do valor total dos contratos do Banco Mundial conquistados por
licitantes internacionais, particularmente em obras civis”.
Para ampliar ainda mais
a sua influência como um dos principais atores internacionais, Xi
Jimping lançou o plano de infraestrutura regional e global e, nessa toada, vem,
tal qual a água que gradativamente permea todos os espaços, investindo pesado no exterior,
especialmente no campo da infraestrutura.
Aproveitando crises internas e a necessidade de investimentos
nos mais diversos recantos, o governo
chinês acena com recursos e projetos gigantescos cujos financiamentos em muita situações são
impossíveis de serem saldados, resultando, por via de consequência, no comando
operacional das instalações realizadas, pelo grupo chinês!
Assim, por exemplo, durante a crise na Grécia quando
compulsoriamente o governo se viu pressionado a realizar reformas estruturais e
implementar privatizações, uma gigantesca estatal chinesa Cosco (China COSCO
Shipping Corporation Limited - empresa de navegação chinesa com sede em Shangai),
encontrou uma excelente oportunidade para adentrar na indústria portuária grega,
adquirindo 51% de participação no Porto de Pireus com uma cláusula complementar
de aumento de participação em um período de cinco anos para 67%. Assim, hoje
67% do Porto de Pireu estão sobre controle da Cosco.
No mesmo modo o porto israelense de Haifa encontra-se sobre
controle da Shangai International Port
Group, a Cosco também avançou na área portuária alemã, firmando uma aliança
estratégica com a grande operadora de terminais de contêineres de Hamburgo,
Hamburger Hafen und Logistik AG (HHLA).
Igualmente o porto de Hambantota no Sri Lanka, em face de
encontrar-se endividado com o governo chinês, acabou sendo arrendado por 99
anos para os chineses, como uma forma de compensar as dividas contraídas pelo
país asiático. Essa presença chinesa está preocupando o governo indiano que está em
negociações avançadas para assumir o aeroporto de Hambantota!
Na America Latina e no Caribe podemos citar, por exemplo, os
portos de Freeport (Bahamas); Kingston (Jamaica); Balboa e Colón (Panamá);
Buenos Aires (Argentina) e o porto de Paranaguá, no Paraná, um importante porto
para o escoamento da soja brasileira, onde a China Merchants Port Holding Company
(CMPort) já controla 90% dos Terminal de Contêineres desse porto!
As estimativas de investimentos chineses no Brasil atingiram
a cifra de US$ 67 bilhões (agosto/2021) em sua maioria direcionados ao setor de
energia e demais setores da infraestrutura, extração de petróleo e gás,
extração mineral, agronegócio e manufatura.
Seus laços se estenderam na África, especialmente o Zimbábue,
Gana, Zâmbia, Sudão, Etiópia e Quênia, onde os seus maiores interesses
encontrams-se nas área de petróleo, mineração e suprimentos de alimentos;
valendo registrar que os empréstimos fornecidos, em sua maioria impagáveis,
acabam produzindo o efeito desejado, qual seja, controle dos projetos
desenvolvidos com aporte de recursos chineses; como destaca o relatório
elaborado pelo Center for Global Development : “uma
parcela desproporcional dos compromissos de empréstimos do governo chinês a
países africanos é feita a governos com altos níveis de risco de crédito”
(op.cit. Landry, D. e Portelance, G –
Mar 2021)
Na Europa o braço da presença chinesa avança a passos largos
também no campo industrial. Por exemplo, a Hillhouse Capital, com sede em Hong
Kong, adquiriu a divisão de eletrodomésticos da Philips, com sede em Amsterdã por
US$ 4,4 bilhões, considerado o maior investimento individual de uma empresa chinesa
na Europa. A segunda maior transação envolveu a aquisição por US$ 1,1 bilhão da
desenvolvedora britânica de videogames Sumo Digital pela Tencent Games, uma gigantesca empresa chinesa, avaliada em US$550
bilhões. Do mesmo modo, a China International Marine Containers adquiriu a
fabricante dinamarquesa de contêineres refrigerados Maersk Container Industry e
os valores dos investimentos chineses veem
aumentando consideravelmente, atingindo US$ 12,4 bilhões (2021), de acordo com
o estudo da Center for Global Development.
Nos Estados Unidos também a presença chinesa avança em diversas
frentes, por exemplo, na manufatura avançada, na indústria cinematográfica de Hollywood,
áreas de multimídia e cadeias de hotéis globais etc. O mesmo acontecendo no
setor de suprimentos alimentares, quando
a chinesa Shuanghui International Holdings adquiriu por aproximadamente
US$5,0 bilhões, a Smithfield, a maior produtora de suínos do mundo!
O certo é que a China vem gradativamente avançando em todos
os campos e nos mais diversos recantos do planeta. Seguindo uma estratégia bem
focada, atravessa célere em direção aos seus objetivos primordiais, nunca
esqueçendo do velho provérbio de suas terras: “um momento de paciência pode
evitar um grande desastre, mas um momento de impaciência pode arruinar toda uma
vida.”
E a paciência chinesa é milenar !
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